“O ser humano é inimigo de Deus”. (Paulo)
O que é um ser humano?
Podemos definir ser humano como um ser espiritual vivenciando uma experiência humana. No entanto, o ser humano vive exatamente ao contrário: imagina-se humano vivenciando experiências espirituais.
Essa compreensão é importante porque quando o ser viver dentro da realidade da sua existência, o foco da vida mudará. Enquanto o ser vivenciar a vida como um humano que apenas realiza experiências espirituais o foco da sua vida serão os objetivos materiais. Apenas quando se souber espiritual vivendo experiência humana poderá mudar o valor que atribui as coisas da vida.
Por exemplo: as situações negativas da vida. Sabemos que elas são provas para a evolução espiritual, mas enquanto o homem sentir-se humano rejeitará essas situações, fugirá delas, pois verá apenas o lado trágico aos desejos humanos. No entanto, quando se compreender como espírito vivendo a vida carnal entenderá a necessidade da existência desses momentos e só então poderá vivenciá-los como dádiva do Pai para a sua eternidade espiritual.
A prova, as situações negativas, é o lado espiritual do ser dentro da experiência humana. No entanto, se ele é ser humano não quer passar pelas provas por que quer a felicidade agora, nesse planeta.
Dessa forma, não podemos definir ser humano como um indivíduo ou uma pessoa, mas um espírito vivendo uma experiência humana.
Já que somos espíritos, para podermos viver perfeitamente a vida carnal, retirando dela a sua humanização e alcançando a consciência da existência eterna, precisamos compreender o que é a experiência humana que um espírito vive.
Somos todos espíritos, vivendo a experiência carnal ou não. Possuímos uma memória onde estão arquivados os valores que aprendemos durante a nossa existência eterna no universo. Chamamos essa memória de consciência espiritual.
Quando o ser humaniza-se não consegue acessar esses dados guardados na sua consciência espiritual, ou seja, não consegue utilizar-se dos conhecimentos que possui. Isso ocorre porque ela é encoberta por um novo elemento temporário que o ser adquire: o ego, ou consciência material.
O ego é um “personagem” que o espírito cria antes do nascimento carnal. Ele será composto de elementos que servirão ao ser durante a experiência carnal como campo de provas para sua elevação espiritual. O ego determinará a personalidade, o corpo, o nome e tudo que se relacionar com o ser humano a tal ponto que o ser humanizado imaginar-se-á como o ego e não como o espírito que é.
Aí está a prova. O ser humanizado precisará da fé e do amor a Deus para suplantar as verdades que o ego lhe transferirá e viver a existência carnal como experiência espiritual. Enquanto não conseguir essa vitória, estará preso às realidades que o ego cria e não aproveitará a chance da encarnação. Quando o ser conseguir vencer ao ego poderá, então acessar à sua consciência espiritual e aí viver a vida em total comunhão com o Todo.
Não existe o ser humano. Marias, Paulos, Josés ou qualquer outro ser humano são egos criados por seres universais para viver uma existência carnal. Você é um espírito, sem nome, cor, idade, sexo, religião, raça, etc: tudo o que imagina ser é um personagem (ego) que criou para viver essa aventura carnal.
O ser humano, portanto, é um ser universal (espírito) vivendo uma aventura humana conduzida pelo ego na qual necessita destruí-lo para poder atingir à sua realidade: a espiritual.
Cumpre ressaltar que essa aventura humana não está diretamente relacionada com a ligação com uma matéria carnal. Existem diversos seres universais que já desencarnaram, mas que ainda não conseguiram libertar-se do ego. São aqueles que ainda imaginam-se donos de propriedades, maridos, mulheres ou filhos e que, mesmo fora da carne, ainda vivem apegado a essas coisas materiais.
A vitória só acontecerá quando ele vencer o ego e isso terá que ser realizado necessariamente antes da próxima encarnação. O ser só poderá formar um novo ego quando destruir esse e reassumir a sua consciência espiritual. Portanto, a humanização do ser não acaba com a morte, mas sim com a destruição do ego.
Por isso, podemos afirmar que existem muitos seres humanos fora da carne, mas também que existem muitos espíritos vivendo na carne. O que determina a sua “classe” não é a carne em si, mas a consciência com a qual vivencia a sua existência.
A partir dessa visão, podemos então entender que o ser humano não é um homem (corpo mais espírito), mas apenas o ego que dirige a existência do espírito por determinado tempo. O ser universal é sempre um espírito (ser puro e inocente como criado por Deus) e a sua humanidade é representada pelos diversos egos que cria para realizar provas ao longo da eternidade.
Paulo afirma: o ser humano é inimigo de Deus, ou seja, o ego que humaniza o ser universal é inimigo de Deus.
Agora que já conhecemos a separação entre os seres universais (humanizados ou espiritualizados), podemos compreender que aquele que vive com a consciência espiritual está muito mais perto da Realidade (Deus), enquanto que o primeiro vive num mundo ilusório. Para ele, a realidade é criada pelo seu ego e não pela perfeita consciência das coisas espirituais (Realidade).
Somente quando o ser desvencilhar-se de seu ego, desacreditando das verdades que ele cria, poderá entrar na Realidade do universo. Só então, poderá viver em comunhão com o divino.
Aquele que vive dirigido pelo seu ego não consegue a religação com o Pai porque está preso no individualismo. Essa característica que é a principal do ego leva o espírito a vivenciar a realidade buscando levar vantagem sempre. O ego está sempre conduzindo o raciocínio do ser com verdades que promovam o seu bem-estar individual acima do coletivo.
O ser, quando de posse da sua consciência espiritual, está sempre atento a cumprir o segundo mandamento ensinado pelo mestre Jesus Cristo (”amar ao próximo como a si mesmo”), mas aquele que vive a experiência humana guiado pelo ego ama a si mais do que aos outros. É por isso que ele é inimigo de Deus.
O Pai é a Justiça Perfeita, o Amor Sublime. Ele ama por igual a todos os filhos e dá a todos igualmente. Em momento algum Deus proverá a um mais do que outro, ou seja, nunca privilegiará um em detrimento do outro. Isso nos leva a entender que todos os acontecimentos da vida são soberanamente Justos e Amorosos por causa de sua Fonte. O ego, que quer sempre ganhar, não deixa o ser humanizado ver isso.
Ele reclama de injustiça e desamor quando não ganha. Para isso cria ilusões onde afirma que aconteceram erros, agressões, ferimentos, etc. O ser guiado por ele crê nessa ilusão e por isso afasta-se também do Pai, acusando a vida de ser injusta. Por isso Salomão diz que tudo o que um ser humano pode compreender é ilusão e Krishna afirma que o ser humano vive em maya (ilusão).
Portanto, o ser humanizado (guiado pelo ego) se transforma em um inimigo de Deus porque utiliza individualismo enquanto que o universo é guiado pelo universalismo, ou seja, a cada um na sua justa medida.
Apesar de muito forte, a conclusão de que o ser humanizado é inimigo de Deus é a primeira que qualquer ser encarnado deve alcançar quando iniciar a sua busca espiritual. Sem isso ele jamais buscará sair da sua humanidade, ou seja, lutar contra o seu ego para vencê-lo.
De nada adianta o ser buscar a elevação espiritual seguindo os conceitos que já formou sobre esse assunto. Alcançar a elevação espiritual é calar a mente (funcionamento do ego) em todos os sentidos. É não ter mais verdades ou realidade, mas viver a vida em completa harmonia com os acontecimentos.
Para isso se faz necessário não se tirar mais conclusões sobre nada, pois todas elas serão formações do ego que estará falseando a verdade para iludir o ser. Aquele que busca a elevação espiritual não sabe de nada, não conhece nada, não vê, não ouve, nem fala nada, mesmo que o assunto seja os conhecimentos religiosos.
O ser que busca a elevação espiritual (vencer o ego) não possui religião nem código de normas. Para ele tudo do universo é manifestação de Deus e por isso tudo é Perfeito, Justo e Amoroso.
Portanto, a humanização do ser é uma etapa da existência espiritual, onde ele deve provar ao Pai que é capaz de vencer a si mesmo, eliminando todo o seu individualismo. Por isso o mestre Jesus Cristo nos ensinou: é preciso renascer. Não reencarnar, mas matar durante a existência tudo aquilo que o ego criou e começar a viver com universalismo.
Já havíamos definido universalismo como amar ao próximo como a si mesmo, mas como será esse amor? Essa foi uma pergunta que os fariseus fizeram ao mestre Jesus Cristo, mas ele respondeu com uma parábola (Bom Samaritano) e muitos até hoje não compreenderam perfeitamente o ensinamento.
Amar a todos como a si mesmo, na prática, é viver para servir ao próximo. Quem não vive para isso, vive para se servir do outro, ou seja, baseia-se no individualismo. Apenas o serviço ao próximo, sem desejos ou vontades, pode universalizar um ser.
Você quer ir? Vamos. Você quer ficar? Fiquemos. Você acha que está certo e eu estou errado, então estou. Você quer que eu faça, eu faço. Você não quer que eu faça, eu não faço. Esse é o serviço ao próximo.
Quando o ser se contrapõe ao que o outro quer não estará servindo ao próximo, mas se servindo dele, ou seja, buscando impor sua vontade individual. Esse é um ser humilde (”bem-aventurado os humildes”) e que jamais será humilhado. Ele serve com a consciência espiritual do amor e não se sente rebaixado ao servir o próximo.
Quem age dessa forma é um ser universal de posse da sua consciência espiritual. Assim, o ser humano é o contrário disso, ou seja, é quem se serve do próximo. O ser humano precisa que o outro lhe sirva de instrumento para que ele seja feliz, o ser universal é feliz por servir. Por isso Paulo diz que o ser humano é inimigo de Deus.
Deus não vive para Si mesmo, mas para o Todo. Tudo que Ele faz é no sentido de proporcionar a felicidade integral a todos sem privilégios nenhum. Quando o ser está humanizado e necessita que os outros cedam para que ele se sirva, age contrariamente ao objetivo da existência de um espírito: aproximar-se de Deus.
Esse ensinamento não encontra fronteira nos relacionamentos humanos: deve ser aplicado em todos os casos. Uma mãe, por exemplo, que só é feliz quando seu filho é saudável, estudioso, comportado, serve-se dele para ser feliz. Para servi-lo ela deveria estar feliz sempre, independente do “estado” do filho. Não estamos falando em não orientar, mas nunca perder a sua felicidade.
Quantos pais orientam seu filho com raiva e fazem acusações de todos os tipos sobre ele? É preciso a manutenção do amor para bem orientar. Ao invés de brigar, gritar e acusar, sentar e conversar com o filho. Se mesmo assim ele permanecer na postura anterior, sentar e conversar novamente. Como ensinou Jesus Cristo: perdoar setenta vezes sete.
Os pais não conseguem fazer isso porque querem que o filho mude-se logo para eles (pais) conseguirem a felicidade. Enquanto o filho não for tudo aquilo que os pais sonham e almejam eles não estarão felizes. Portanto, servem-se do filho para obter a felicidade, ao invés de servirem ao filho com orientações amorosas e carinhosas. São inimigos de Deus que os ama incondicionalmente.
Todos os seres são filhos do Pai, encarnados ou não. Deus deu aos pais materiais o poder de orientar os filhos carnais e não de mandar ou comandar o destino de Seus filhos. É Ele quem determina o que acontecerá com cada um durante a existência carnal para que a Justiça jamais seja quebrada e para que cada um receba de acordo com suas obras.
Os pais carnais, no entanto, não compreendem dessa forma porque querem se servir dos filhos (ser feliz à custa das atitudes dele). Por isso querem comandar o destino do filho, ou seja, fazer com que sigam determinados caminhos. Isso é impossível, pois por não possuírem o conhecimento sobre a Realidade, os pais, muitas vezes, estariam levando-o a desperdiçar a oportunidade da encarnação.
Os pais, como seres guiados pelo ego, vivem pela busca do individualismo e apenas isso sabem ensinar ao filho. Se o destino desse filho estivesse nas mãos dos pais carnais sua vitória sobre o ego estaria comprometida, pois eles saberiam apenas ensiná-lo buscar se servir dos outros.
Além disso, a própria rebeldia do filho serve como prova para a vitória dos pais sobre os seus egos. Servindo-o com amor incondicional, sem estabelecer parâmetros para que esse amor (estado de espírito de felicidade) exista, os pais aprendem com os filhos a viver com os demais seres humanizados servindo-os.
Servindo o filho em casa (orientando sem depender das mudanças para ser feliz, ou seja, não colocando sua felicidade na dependência da mudança do filho), os pais aprendem a viver com a Realidade: cada um age dentro da sua natureza, guiado por Deus, para provar a sua libertação do ego.
Ao ser universal resta aprender a conviver com essa Realidade sem contrapor-se a ela. No entanto, enquanto o ego estiver guiando o ser universal ele não conseguirá viver assim e lutará com os outros fazendo críticas para poder transformá-los com a intenção de que cada um sirva de instrumento à sua felicidade.
A crítica é uma característica do ser humanizado, pois o ego precisa da reforma do mundo no sentido de adaptar-se aos padrões (verdades) individuais. Critica a todos e a tudo com o objetivo de transformá-los em cópia perfeita de si mesmo e assim, servir-se deles. No entanto, se essa mudança fosse possível, o próprio ego mudaria as suas verdades para novamente “abrir guerra” contra o próximo, pois ele se compraz com a vitória.
O alimento preferido do ego é o prazer da vitória que é alcançada com a submissão do próximo. Para ele não basta apenas o próximo concordar com as ilusões criadas por ele, mas precisa haver a vitória total sobre o outro (mudança de verdades) para que ele se infle.
Isso é humano, ou seja, é característica do ser que vive comando pelas ilusões que o ego cria. Por isso muitos tentam lutar contra a crítica e o julgamento para elevarem-se e não conseguem, pois não combatem o ego, a origem de tudo. Para elevar-se o espírito precisa se libertar do ego, ou seja, precisa não mais querer se servir do outro. Só assim ele se transformará em amigo de Deus.
Quem não é humano não age assim, mas quem ainda possui humanidade sempre agirá dessa forma. Portanto, o ser humano é aquele que critica e julga o próximo com a intenção de alimentar seu ego e por isso é inimigo de Deus.
O ser humano é dominador por natureza. Quer dominar o outro, as coisas, os acontecimentos, a si mesmo de tal forma que ele se satisfaça sempre, que ganhe sempre. Essa é uma experiência obrigatória para todos os espíritos. Nenhum espírito consegue alcançar a elevação espiritual sem passar por essa experiência, pois só com a vitória sobre ela terá o merecimento da elevação.
A vida universal é baseada no merecimento. Ninguém ganha nada de graça: é preciso conquistar, merecer para receber. Por isso o ser humaniza-se: para merecer elevar-se. Apenas vencendo o ego, a vontade de dominar a todos e a tudo o ser conseguirá avançar na ascensão espiritual.
Assim, a humanização de um ser não o transforma em “mau” ou “ruim”, um inimigo de Deus, mas a insistência em permanecer preso a ilusão criada pelo ego que é que o transforma em inimigo de Deus. Quando ele compreende isso e abre luta contra suas verdades é tratado como o filho pródigo que retorna ao lar.
Para esse espírito é preparada uma grande festa no seu retorno, sendo esquecido tudo o que ele fez enquanto estava iludido pelo poder humano. Ele é respeitado pelos seus irmãos espirituais como um batalhador, um guerreiro. Mas, aquele que não compreende isso, ou mesmo que compreenda insista na ilusão criada pelo ego como realidade, a esse o título de inimigo de Deus dado por Paulo.
Conclamamos, portanto, a todos os irmãos humanizados a lutarem contra seus egos para voltarem à consciência da família universal que somos, abandonando as ilusões criadas como realidades e verdades com fins individualistas. Mas, como vencer esse ego, como conseguir retornar a casa do Pai? Não seria justo apenas apontar o caminho sem ensiná-lo.
O ego jamais poderá ser vencido com a lógica humana. Como já dissemos, todas as verdades que o ser humanizado crê são criações do seu ego, fantasias (ilusões) que ele quer que o ser acredite para ele (ego) poder continuar existindo. Dessa forma, qualquer raciocínio (análise de conhecimentos) do ser humanizado será dirigido pelo ego e o seu resultado será, então, uma nova ilusão.
É preciso fugir das verdades, desmenti-las, desmascará-las, para que o ego seja vencido. Portanto, raciocinar, estudar, ler, compreender ensinamentos, jamais levarão um ser humanizado a universalizar-se, mas criarão novas verdades ilusórias que substituirão as atuais e manterão o ego ainda ativo.
Como, então, vencê-lo? Negando-se a dar ao ego o resultado do raciocínio. Conheçamos um pouco mais do ego para possamos entender essa afirmação.
O ego nutre-se de dois sentimentos básicos: o prazer e a dor. Quando o ser humanizado sente o prazer (a satisfação de ter seus desejos realizados) ou a dor (o desprazer quando não é atendido) o ego alimenta-se e infla-se.
O caminho para vencer o ego, se não é pela lógica que afinal é ele mesmo quem dita, deve ser o da inanição, ou seja, não alimentá-lo. O ser humanizado precisa negar-se a sentir tais sentimentos independentes da compreensão que tenha recebido do ego para poder deixar de alimentá-lo até que ele morra de inanição.
Assim, quando o ego logicamente (pensamento) disser que a situação “não é boa”, o ser humanizado deve negar-se a sentir sofrimento, a acusar dor, injustiça ou ferimento. Da mesma forma quando o ego mostrar que a situação agrada ao ser humanizado, esse deve negar-se a sentir o prazer, a soberba, a vaidade, etc.
Tudo no universo está Perfeito. O que está acontecendo não foi criado por Deus para satisfazer ao ser, mas para servir de instrumento para sua elevação. Se o ser ainda possui um desejo e se por “acaso” nesse momento o que ele desejava realizou-se, o ser precisa deixar de imaginar que aquilo foi feito porque ele estava “certo”. Da mesma forma, se não se concretizou o esperado, não houve um “ataque” de Deus.
Buda, que mais ensinou sobre o desejo, não falou que o ser humanizado deve deixar de ter desejos, pois isso é quase impossível. O ser humanizado está sempre preso ao ego e este sempre agirá criando-os, pois esse é o instrumento que ele tem para alimentar-se. O ensinamento de Siddharta Gautama é no sentido de não se apaixonar pelo desejo, não transformá-lo em uma condição para a felicidade na vida.
O ser humanizado que se liberta da realização dos desejos deixa de ser escravo do ego e pode, então, finalmente ligar-se à Deus, pois como nos ensinou o mestre Jesus Cristo, não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo.
“Gostaria de ter ido a determinado lugar, mas não fui. E daí? Por que eu tenho que sofrer por causa disso? Por que eu tenho que acusar Deus de não haver me transportado para lá? Se não fui era perfeito ficar e Deus, o Pai, não me levou porque sabe o que é melhor para mim. Louvado seja Deus por eu não ter ido”. Esse é um raciocínio que liberta o ser humanizado da ação do ego.
“Droga, não fui onde queria. Que vida desgraçada a minha que eu não consigo fazer nada que quero. O culpado é essa droga de carro que quebrou justamente agora”. Esse é o raciocínio do ser aprisionado ao ego. O “inimigo de Deus” lança verdades (o carro quebrou, alguém chegou e eu não pude sair) para que o ser humanizado sinta-se infeliz, injustiçado, afrontado, para que ele alimente-se desse sentimento.
“Pai, afasta de mim esse cálice, mas se não for possível que seja feita a Vossa Vontade”. Nessa frase de Jesus Cristo o ensinamento maior para vencer o ego. De nada adiantaria o mestre dizer que gostaria de ser crucificado, de ser surrado, caluniado, etc, porque isso é irreal: nenhum ser humanizado quer. Jesus Cristo precisava deixar o caminho para Deus e se agisse de modo totalmente estranho à realidade da vida humana, não conseguiria fazê-lo.
O mestre agiu como um ser humanizado. Expôs o desejo que é natural em todos os seres humanos: fugir dos seus momentos de sofrimento. No entanto, apesar da existência desse desejo, submeteu-se com felicidade aos desígnios de Deus. Ele não se contrapôs aos acontecimentos, mas harmonizou-se com a Realidade da sua existência.
Esse é o caminho para a vitória sobre o ego. O ser humanizado precisa compreender que nada pode construir o destino a não a ser à vontade de Deus. De nada adianta ao homem querer alguma coisa porque se isso não for “útil” à elevação espiritual, o Pai jamais concederá.
Deus não se subordina aos desejos humanos. Sua intenção não é de “agradar” ao homem, pois como Paulo ensinou, o homem é inimigo de Deus. Ele age sempre na intenção de salvar o ser universal da ação humana e faz isso agindo contra os desejos ou vontades do ser humanizado. Deus nos ama, mas ao ser universal e não a experiência humana que ele vive temporariamente.
É isso que o ser universal humanizado que busca a sua elevação espiritual precisa compreender para poder voltar ao Reino do Céu. Quando isso for realidade, não haverá motivos para sofrimentos ou ufanismos. Não importa se aconteceu o que o ser humanizado quer ou não, sua reação será sempre a de harmonia com o momento (sem erros ou acertos), em paz, ou seja, sem armas (verdades) para guerrear contra o acontecimento e no estado de espírito de felicidade incondicional.
Para realizar tudo isso, no entanto, a primeira providência que o ser humanizado precisa tomar é desistir de ser humano. Desistir de querer mudar o mundo, desistir de querer mudar as pessoas, desistir de querer alterar os acontecimentos. Essa é a ação do inimigo de Deus: ele quer mudar o reino do Senhor Supremo para atender o seu bel prazer.
Por isso toda a busca da elevação espiritual começa com a mudança do auto-entendimento sobre si mesmo. Deixar de ver-se como um ser humanizado que vivencia experiências espirituais e passar a viver como ser universal que está tendo uma experiência humana. Enquanto o ser achar-se o homem (ego) terá que reagir dentro dos padrões ditados pelo inimigo de Deus que mora dentro dele.
O ser que compreende que o seu reino não é desse mundo não se preocupa em alterar a vida, mas em vivê-la em harmonia. Aquele que compreende que é apenas filho do dono, não muda a casa do seu Pai. O ser é uma visita na casa de Deus, mas durante a experiência humana quer reorganizá-la de acordo com suas vontades.
Quando um ser humanizado acusa outro de ter batido no seu carro, por exemplo, não vê a ação de Deus contra o seu ego. Ele não entende que o Pai está lhe mostrando que o homem não pode imaginar que o seu carro é ileso a batidas. Imaginar isso é querer possuir o bem material o que é uma ilusão criada pelo ego para o que o ser humanizado viva o dualismo do prazer e da dor.
Deus está provocando o a situação para ensinar ao ser humanizado que a verdade ilusória de que jamais poderia ocorrer um acidente com ele é fruto do ego e não da Realidade. Todos que possuem um automóvel estão sujeitos a que um dia possa acontecer um acidente, mas o ego não deixa o homem compreender isso.
Aquele que vive essa ilusão como realidade sentir-se-á atacado, ferido, pelo agente do combate à ilusão e não compreenderá a ação de Deus por trás do acontecimento. Livre das amarras do ego, do conceito que o seu carro é incólume a batidas, o ser espiritualizado verá nisso apenas um acontecimento profícuo de Deus, uma forma de ensiná-lo a viver com a Realidade. Não há mais motivo de sentir-se apunhalado, mas encontrará o amor do Pai atrás daquele ato.
A desistência do prazer trás a real felicidade. Aprendendo a conviver na casa de Deus como ela está, deixando a vida seguir o seu fluxo normal sem querer dirigi-la, traz a verdadeira felicidade ou o bem celeste (bem-aventurança) que Jesus Cristo nos conclamou a buscar.
Não se trata de comodismo, como muitos podem imaginar, mas de dar a César o que é de César. Tudo que existe é criação de Deus e, por isso, não pode estar imperfeito. Quando o ser, que ainda está em processo de evolução e, portanto, pouco sabe do universo, acusa imperfeições na obra, está acusando o próprio Deus de não saber o que faz. Por isso Paulo afirma que o ser humano é inimigo de Deus, pois quer destruir aquilo que Ele criou.
Quem não desiste de alterar o mundo para aquilo que acha “certo” cria justificativas quando não consegue mudar as coisas. Coloca a culpa do acontecimento contrário ao seu desejo em outras pessoas, nas coisas, na sorte, no azar, na maldade da humanidade: enfim, em todo o resto do mundo. No entanto, todas essas justificativas são apenas frutos do ego para que o ser não desista de lutar e que apenas o prazer e a dor sejam sentidos.
O ego através dessas justificativas mantém o ser humanizado escravo dele, pois encobre com as acusações ao mundo o real desejo de poder: que todos um dia estejam aos seus pés, fazendo aquilo que o ser quer. No entanto, como já vimos, isso é ilusão, pois se viesse a acontecer isso, o ego mudaria a lógica, para continuar a batalha contra as coisas da vida que levam ao sofrimento e o prazer.
O ser para libertar-se do ego deve compreender que tudo pode acontecer e que isso, independente da sua vontade, será fruto do amor de Deus por cada um. Para o ser elevar-se espiritualmente é preciso viver com a Realidade. Quem está vivo vai morrer; quem está com saúde ficará doente; quem não tem terá e quem já tem pode perder. Nada se perpetua: tudo se transforma constantemente.
Viver na ilusão que a situação jamais se alterará é não compreender uma das qualidades da vida espiritual: a impermanência. Todas as coisas se transformam constantemente a cada segundo. O que hoje está em cima, amanhã desce; o que está em baixo certamente subirá. O ego não deixa que o homem viva uma vida com essa qualidade e para isso cria a ilusão de que as coisas “boas” jamais acabarão e que as “ruins”, jamais chegarão.
O ser espiritualizado luta contra o seu ego para compreender a impermanência das coisas. Ele sabe que “não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe”, por isso é equânime em todas as situações. Se a vida lhe é propícia não se exalta, pois sabe que essa exaltação gerará o sofrimento na mudança da situação. Se a vida não lhe é propícia, também não se desespera, pois sabe que esse “inverno” é apenas o período que antecede a primavera.
Não há primavera sem inverno, nem outono sem verão. O ser humanizado compreende isso e passa pelo seu inverno com a convicção que as flores reaparecerão. O ser humanizado quer parar o tempo e fazer que sua vida seja sempre um mar de rosas. “Pobre homem, que o sopro de Deus pode lhe abater”.
Como dissemos, a elevação espiritual através da luta contra o ego não é comodismo: é ação. O ser precisa agir, não para mudar o mundo, mas para aprender a viver a Realidade. Ele precisa agir contra o ego e não contra o mundo, contra a vida. Sem ação não há vida: o problema é o direcionamento que se dá a essa ação.
O ser humanizado luta contra o mundo, luta contra as pessoas, contra as coisas, contra os acontecimentos e por isso é inimigo de Deus e dos homens. O ser espiritualizado luta contra si mesmo, contra seu ego, contra a necessidade da realização de seus desejos, contra suas paixões.
Por isso, quem está hoje desempregado precisa lutar contra a ilusão criada pelo ego que o seu emprego é eterno. Isso é ilusão criada para manter o ser no dualismo do prazer e da dor. Quem está com frio precisa lutar contra o desejo de iniciar-se o verão e aprender a conviver harmonicamente com a temperatura baixa até que chegue a estação que ele quer.
Quando ela acontecer, também não deve exaltar-se, mas vivê-la com equanimidade para que a felicidade não seja apenas fruto do seu desejo. Para isso é importante saber que o frio retornará: é apenas uma questão de tempo.
No entanto, o ser humanizado não age dessa forma. Ele goza todo o prazer de estar vivendo a temperatura que o agrada e fica cada vez mais preso ao desejo e a ilusão de que ela nunca se encerrará. Aí a ação divina traz o frio e ele certamente sofrerá, mas isso acontece porque não entende a ação de Deus.
O frio é necessário para que muitas sementes de alimentos que foram plantadas germinem e as plantas se desenvolvam para poderem alimentar o próprio ser humano. O ser humanizado não é apenas inimigo de Deus e dos homens, mas também de si mesmo. Sem o frio ele morreria de fome, pois as plantas não dariam os frutos e sementes que precisa para manter-se vivo.
Na cidade a chuva é um tempo “ruim”, mas no campo ela é “ótima”. Ela é necessária para a irrigação dos campos, fator necessário para o florescimento da vida vegetal que trará lucro ao agricultor. Sem ela o homem do campo não consegue tirar o seu sustento. Portanto, a chuva será “boa” ou “ruim” dependendo apenas dos desejos de cada um, ou seja, da influência do ego de cada um.
O ser espiritualizado reconhece essa verdade e por isso liberta-se da ação do ego. Ele não rotula as coisas (”boa ou má”), mas vivencia a obra de Deus em louvor ao Senhor do universo. Compreende que o Pai ama a todos (”Pai Nosso”) e age equanimente com todos. Quando chega a hora propícia a outros, o ser espiritualizado não sofre; quando chega o seu momento auspicioso a si, não exulta.
Portanto, dentro de nossas definições de ser humano podemos acrescentar que: o ser humano é um ser universal que vivencia uma experiência humana onde ele não aceita que os acontecimentos da vida passem por oscilações e por isso sente o prazer (exaltação) na subida e a dor (sofrimento na descida). Já o ser espiritualizado pode ser definido como o ser universal que vive uma experiência humana de forma retilínea, ou seja, que quando passa pela sua humanização (vida oscilatória entre momentos que deseja e outros onde não é satisfeito) não se compraz na dor nem se exalta na felicidade.
Aprender a viver equanimente as diversas situações da vida foi ensinado por todos os mestres que vieram falar em nome de Deus, inclusive pelo Espírito da Verdade, que falou a Allan Kardec. No Livro dos Espíritos, ao responder a pergunta sobre o objetivo da encarnação ele ensinou: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Mas para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal”.
Muitos entendem o termo “vicissitude” como necessidade e por isso criou-se a crença que o ser humano nasceu para sofrer. Mas, a definição para essa palavra é outra: “VICISSITUDE – mudança ou alternância das coisas que se sucedem – MINI DICIONÁRIO AURÉLIO”.
O homem não nasceu para passar por sofrimentos, mas para aprender a viver equanimente com as alternâncias da vida. Se o ser humanizado não tivesse a tentação, ou seja, o desejo de que as coisas fossem apenas satisfatórias, não venceria a alternância das coisas. Foi para isso que o ser universal criou um ego e subordinou-se a ele.
Deus coloca a prova e o ego tenta: a função do ser nesse “jogo” é dizer de que lado ele está. Se optar pela vida eterna (espiritual) ligar-se-á a Deus, amando-O acima de todas as coisas, mas se optar pelo amor próprio (ao seu ego), vivenciará o prazer e a dor dependendo da alternância das situações.
Aprender a viver com equanimidade as vicissitudes é, portanto, o objetivo da encarnação e para isso é indispensável a vivência da impermanência das coisas. Isso responde às perguntas que o homem até hoje não conseguiu responder: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Por que estou vivo? Você é um ser espiritual que se humanizou e que um dia terá que eliminar toda ação do seu ego para poder retornar à sua pátria espiritual.
Pobre ser humanizado. É inimigo de Deus, dos outros, mas, principalmente, é inimigo de si mesmo. Ele nasce para aprender a viver as oscilações da vida sem individualismos (desejos) e vive a vida buscando fugir das situações incômodas. Não compreende que só conseguirá acabar com esse processo quando vencer as tentações geradas pelo ego. Por isso Jesus Cristo ensinou: Felizes serão vocês quando forem perseguidos, caluniados, em meu nome.
Só no momento da contrariedade pode se alcançar à felicidade espiritual, pois ele será o resultado do objetivo da vida. Aquele que desejar se afastar desses momentos jamais conseguirá alcançar essa felicidade, pois não obterá a vitória sobre o mundo. Para isso, o fundamental é alterar o sentido de sua existência: vivê-la como uma aventura material do ser universal.
Quando o ser entender a vida carnal como uma aventura do espírito poderá vivenciá-la de forma equânime, sem subir ou descer ao sabor das ondas (vicissitudes da vida). E aí se encontra um outro grande desentendimento daqueles que procuram a elevação espiritual: é o ser que vive retilineamente e não a vida.
Todos imaginam que quando alcançar a elevação espiritual a vida se transformará automaticamente em um mar de rosas: engano. A vida continuará a ter momentos propícios ao ser humano e outros não, mas esse, agora espiritualizado, saberá vivenciá-los de forma reta.
Como ensinou Jesus Cristo, não se acende uma lamparina para esconder dentro do armário. É preciso que ela seja colocada em um ponto onde a sua luz oriente o caminho daqueles que estão na escuridão. O ser agora desumanizado ainda passará por situações onde o desejo humano não é satisfeito e reagirá a eles mantendo a sua paz, tranqüilidade, harmonia e felicidade. Com isso, ensinará àqueles que ainda estão humanizados como se vivencia a vida com equanimidade.
Dessa forma, não serão os acontecimentos da vida que mudarão, mas o ser é que se transformará. Esse é o renascimento, o matar o homem velho e deixar nascer o homem novo. Esse ser renovado será amigo de Deus, pois servirá ao próximo iluminando-lhe o caminho da vida.
O ser humanizado, no entanto, não pode servir para auxiliar o próximo, para servi-lo, pois como ensinou Jesus Cristo, é cego aquele que quer ver (compreender as coisas) e, quando um cego guia o outro, os dois caem no buraco. Dessa forma, a única coisa que o ser humanizado pode fazer é se servir: do outro, das coisas, dos acontecimentos e até de Deus.
Nos momentos onde a situação não lhe agrada, ao invés de buscar guerrear contra os desejos que o ego está lhe enviando, o ser humanizado busca o auxílio de Deus para livrar-se daquele momento. Pede a Deus que não envie a doença, que não o deixe ser assaltado, que não o deixe ser demitido.
O ser humanizado não busca ser instrumento da vontade do Pai, mas quer que Deus lhe sirva, que atenda os seus desejos. Quer colocar Deus também subordinado aos caprichos do ego. Por isso Paulo afirma que o homem é inimigo de Deus.
Quando Deus não o atende, revolta-se com o Pai: “por que o Senhor deixou isso acontecer?”. Deus na Sua Sublime Paciência responderá: “Eu não deixei, fiz acontecer, porque lhe amo, meu filho. Estou dando o remédio para a sua doença. Sei que o gosto pode ser amargo para você, mas isso é o que o curará”.
O ser desumanizado livre das amarras do ego, consegue perceber claramente a ação divina e por isso seu coração enche-se de júbilo e glória a cada momento, independente daquilo que está ocorrendo. Sabe que naquela vicissitude pelo qual está passando agora há a presença divina expressando todo o Seu Amor Sublime pelo Seu filho. Ao invés de clamar contra os céus, o ser espiritual louva a Deus pela Sua Sublime Direção do universo.
Não adianta apenas o ser resignar-se ou aceitar os momentos da vida: é preciso amá-los. Quem se resigna ainda continua sofrendo e mesmo que não brade contra os céus, o seu pranto será resultado da sua intenção de satisfazer-se. Quem apenas aceita os momentos como inevitáveis sem louvar a Deus não comunga com o universal, mas sim consigo mesmo, ou seja, na verdade “tinha que ser”. Como já afirmamos, é preciso agir e não se omitir (aceitar os momentos). Essa ação, no entanto, deve ser amorosa: estabelecer uma conexão amorosa com a Fonte do universo.
Quem age dessa forma não é inimigo de Deus, pois está sempre em perfeita comunhão com o Pai. Ele pode não conhecer Deus, Sua origem, Forma ou Composição, mas reconhece o Seu Amor em ação. Aqueles que buscam compreender Deus em qualquer dos seus aspectos não conseguem mais do que apenas criar Dele uma imagem individual.
Krishna nos ensinou que o mundo espiritual (aí incluído os seres e as matérias e suas relações), não pode ser compreendido de forma racional pelo homem. Paulo também nos disse que Deus não deixa o homem conhecê-lo pela sua lógica, mas apenas quando esse transcender a matéria (entrar na lógica de Deus) poderá senti-Lo e se tornará um verdadeiro sábio.
Para o ser humanizado a sabedoria é determinada pelo excesso de cultura. No entanto, ele não entende que quanto mais cultura tiver, mais elemento estará servindo ao ego para iludi-lo. Como disse Jesus Cristo, louvado seja Deus que mostra aos simples o que esconde dos sábios.
O verdadeiro sábio é aquele nada sabe, que nega saber qualquer coisa. Para ele a única coisa que existe é Deus e Sua ação (Amor Sublime) que é expressa nos acontecimentos da vida. Quando vivencia um momento da vida o ser desumanizado não está preocupado em saber o que está acontecendo, mas está com toda a sua atenção voltada para sentir o Amor de Deus.
Por isso o ser humano é inimigo de Deus. Ele está de costas para o Pai, vendo apenas a “sombra” (projeção) que ele mesmo criou com suas fantasias ilusórias e afirma que essa projeção é Deus. Para se ver uma árvore é preciso virar-se de frente para ela e quando isso acontecer, as verdades materiais ficarão nas costas do ser. Aí ele não será mais inimigo de Deus, pois compartilhará um relacionamento amoroso com o Pai.
Mas, será possível um ser humano libertar-se do ego? Será possível que alguém vença o mundo? Exemplos, famosos ou não, de pessoas que conseguiram são muitos, mas citá-los seria retirar o ensinamento do particular. Falar daqueles que um dia tiveram o seu despertar, ou seja, assumiram o seu objetivo espiritual, seria generalizar e cada um ainda não compreenderia a possibilidade de realizar a sua própria obra individual.
Será que você está preparado para essa luta, independente da sua posição atual (cultural, religiosa ou afetiva)? Para responder a essa pergunta basta apenas uma constatação: você está humanizado agora. Você é um ser universal que se encontra no processo humano com essa finalidade e isso só aconteceu porque Deus e você próprio acharam que estava pronto para a luta.
Quando um ser, depois do desencarne liberta-se do ego criado para uma vida, ele logo começa a preparar-se para a nova prova, para a nova encarnação. Busca com ansiedade a nova oportunidade de realizar sua elevação espiritual. No entanto, não pode executá-la com a mesma presteza que imagina.
Existe no orbe do planeta Terra mais espíritos do que a vida carnal suportaria. Na realidade, são aproximadamente dez espíritos aguardando a reencarnação para cada encarnado. Depois que o ser liberta-se do seu ego é preciso aguardar a sua vez em uma “fila de espera”.
Você passou por todo esse processo. Já viveu uma outra vida, desencarnou, cumpriu uma existência temporária em lugares humanizados fora da carne (umbral ou inferno) onde se libertou do ego da última encarnação, preparou-se para a nova enfrentando a fila de espera até que chegou a sua vez. Essa oportunidade só foi dada por Deus e aceita por você justamente porque os dois tinham convicção de que poderia ser alcançada a vitória. Se você não estivesse preparado ou se Deus não o julgasse apto, não estaria agora vivendo a aventura humana.
Portanto, você está mais do que preparado: está pronto para a vitória. Basta para isso utilizar-se do seu livre arbítrio e modificar o sentido da sua vida. Não mais viver como escravo das verdades, desejos e paixões e virar-se de frente para Deus e encarar a Realidade. Para isso é preciso que o ser humano amadureça, deixe de agir como uma criança, espiritualmente falando.
Quando o ser chora e acusa ingratidão ou ferimento pelos acontecimentos da vida é como uma criança carnal que bate o pé quando a mãe ou o pai não lhe dá o que ele quer. Somente quando amadurece, o ser humano aprende que tudo tem seu momento certo e que deve trabalhar e esperar a hora de receber.
O ser humanizado é essa criança. Ele chora, resmunga, bate o pé, quando Deus, seu Pai, não faz suas vontades. O ser universal é maduro na sua relação com o mundo: sabe trabalhar e esperar para receber.
Portanto se você pode fazer, eu afirmo conscientemente que sim, mas se vai conseguir fazer, isso não posso responder. O resultado da sua vida será fruto do seu livre arbítrio, da sua vontade soberana em querer crescer ou não que Deus deu a cada filho. Optando em permanecer na infância espiritual, esperando que o Pai o satisfaça e resmungando quando Ele não fizer, acabará essa encarnação e terá que passar por todo o processo para recomeçar uma nova.
Agora, tenha certeza: em uma das encarnações o seu ego terá que ser vencido. Quando o ser liberta-se do ego fora da carne essa liberdade não é válida para elevação espiritual, mas é tratada como um “banho” (limpeza) que o espírito toma para se livrar das impurezas (verdades individuais). Para que a liberdade do ego tenha valor ela precisa ser resultado de uma vitória e isso só se consegue na carne.
Então, tenha a certeza que os processos que afirmamos nesse trabalho serão realizados por você nessa ou em outra encarnação. Dessa forma, para que esperar começar tudo de novo? Para que perder essa chance de estar encarnado? Para que ter que enfrentar toda a angustiante espera novamente? Basta apenas você parar de querer se satisfazer e ligar-se amorosamente a Deus.
Mas o ser humanizado não quer abandonar o prazer de forma alguma: prefere satisfazer-se agora e enfrentar posteriormente todo o processo do mundo espiritual (limpeza e nova reencarnação). Essa forma de proceder é irracional, até mesmo pela lógica humana, de querer ganhar sempre. Entendendo o funcionamento da Realidade (vida depois da carne), o ser humanizado pode entender que só “perderá” com essa forma de proceder.
A Verdade sobre o universo já foi apresentada pelos mestres enviados de Deus, mas até hoje o ser humanizado não a entendeu. Tudo o que dissemos nesse trabalho já foi ensinado ao longo dos séculos pelos mestres. Por isso, a cada novo ensinamento que aludimos, citamos algum mestre.
Busque estudar a vida de cada um daqueles que conseguiram penetrar nessa existência onde a felicidade independe dos acontecimentos da vida (santos). Verifique pelas suas biografias que eles não nasceram puros, mas humanizados. Veja que passaram por situações desagradáveis e agradáveis até que um dia abandonaram o seu querer e começaram a vivenciar todas as situações de forma equânime.
Ninguém nasce “santo”: todos conquistam a santidade. São seres universais iguais a você, que nasceram da mesma forma, mas que um dia aceitaram a Deus em seus corações e se libertaram do individualismo. Passaram a viver para servir a Deus servindo ao próximo e com isso conquistaram a tão sonhada bem-aventurança. Se eles conseguiram, porque você não?
Basta crer, decidir e entregar-se com fé a Deus. Nesse momento você conseguirá ser amigo de Deus, pois o ser humano que Paulo afirmou que é inimigo de Deus é você também e não apenas a resto da humanidade.
Até agora, na leitura desse trabalho, com certeza o seu ego já apontou inúmeros “inimigos de Deus”, pessoas que você achou que agem como aqui foi descrito, mas o fez para que você não entendesse que precisa mudar-se. O seu ego não quer que tenha essa compreensão porque senão você irá matá-lo.
Conscientize-se de que é um ser humanizado. Volte agora nas descrições que fizemos do ser humano e veja se suas reações não são exatamente aquelas que descrevemos aqui. Não deixe o ego fantasiar dizendo que você tinha razão em agir daquela forma, pois isso será uma ilusão de um desesperado que não quer morrer.
“Caia na real”, como se diz: você está humanizado. Ainda não consegue superar as dificuldades com amor, ainda não consegue harmonizar-se com o momento, ainda tem desejos e paixões, “certo e errado”, “bonito e feio”, “bom ou mal”. Você está de costas para Deus.
Não importa o quanto você está empenhado nessa busca ao Pai, se ela ainda estiver sendo escrita com lógica material (seus conhecimentos), você ainda estará vivendo uma ilusão. Estará satisfazendo o seu ego buscando cultura para poder servir de instrumento ao seu lado humano.
Assim que compreender que essa mensagem é para você, que você ainda é o inimigo de Deus, faça as pazes com o Pai. Jogue fora tudo que até hoje estudou, aprendeu, leu, inclusive esse texto. Liberte-se dessa bagagem cultural que você carrega há milênios e que só serviu para você iludir-se a respeito do mundo.
Liberte-se de tudo isso e vá viver. Sem a sua cultura, o que determina o “certo” e o “errado”, você conseguirá conviver harmonicamente com o universo. Sem os seus desejos não haverá mais êxtase nem contrariedades: você será equânime. Ninguém mais lhe fará mal, ninguém mais lhe ofenderá, ninguém mais lhe prejudicará.
Seja um ser espiritual dentro de uma aventura humana e não mais um ser humano que possui momentos espirituais. Vivendo desse jeito estará ao lado de Deus e será seu amigo.
Com as graças de Deus.