sábado, 16 de janeiro de 2010

A LEI E O MAL

Postado por Kamadon

RETIRADO DO ESTUDO DA CARTA DE PAULO AOS ROMANOS
A Lei veio para aumentar o mal. Mas onde aumentou o pecado, a graça de Deus aumentou muito mais ainda.
Capítulo 05 – versículo 20




'A lei veio para aumentar o mau', ou seja, os códigos de padronização do 'bem e mau', vieram para aumentar a justificativa da necessidade de se julgar.

Se o pecado é o individualismo e se a lei é o que transforma a ação em boa ou má, podemos dizer que ela é a regra utilizada para dar vazão ao egoísmo. Por isso Paulo está afirmando que a lei veio trazer mais mau, contribuiu para que o egoísmo fosse usado.

Repare que antes de Moisés matar não era pecado, adulterar também não. Mas, a Lei de Moisés valorizou negativamente estes atos que o ser humano praticava dizendo que eles eram maus. Por isso, Paulo diz que este código gerou o mau, pois diferenciou o certo do errado.

Este é um pensamento que vale não somente para as leis de Moisés, mas também para qualquer código de normas societário utilizado pela humanidade. Estes códigos dão valores a atividades que já eram praticadas anteriormente – não existe lei que não regule uma atividade que ainda não tenha sido exercida – atribuindo o certo ou errado para o que era normal ser feito.

Participante: mas, a lei de Moisés, supostamente, foi dada pelo próprio Deus...

Sim, mas o real sentido dela esteve oculto até Cristo proferi-lo: o amor ao próximo e a Deus.

A Lei de Moisés diz não mate, mas o sentido dado por Cristo é: não mate o próximo se você quer estar vivo (amor ao próximo como a si mesmo) e não critique ninguém por causa do amor que você tem por Deus, que está acima de qualquer acontecimento da vida.

Mas, o ser humanizado interpretou a lei através da letra fria e não praticou o amor ao próximo e a Deus. Por causa disso a utilizou para julgar as ações dos demais seres humanizados.

O PNDH-3 e a mídia golpista

Postado por Attman e Kamadon

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O novo Projeto Nacional de Direitos Humanos, conhecido como PNDH-3, tem sido durante os últimos dias Constantemente atacado pela mídia. Os militares, ultra-conservadores das igrejas e membros da “grande imprensa” estão apavorados diante da possibilidade de ter seus privilégios perdidos e sua impunidade suspensa. Para tanto, tem usado dos mais diversos subterfúgios, desde a manipulação dos trechos do projeto, esbravejar meias verdades, consulta á “especialistas” de especialização duvidosa e índole mais duvidosa ainda até terrorismo psicológico, afirmando que esta é uma manobra ditatorial, a volta da censura, o desrespeito á religião, o fim do direito de propriedade.

No entanto, este projeto:

-dá grande apoio e força aos movimentos sociais, principalmente do campo, exigindo que seja cumprida a função SOCIAL da terra - direito esse explicitamente expresso na NOSSA CONSTITUIÇÃO.(retirar pessoas famintas de uma terra onde possam comer é errado, mesmo que esta terra seja invadida. Ela não seria invadida sem razão, e este plano garante que todas as partes sejam ouvidas)
-faz do Brasil um verdadeiro estado laico(retirar símbolos religiosos dos locais públicos é uma forma de respeito. Se um muçulmano vai ao congresso e vê uma imagem de Jesus crucificado, isso o ofende. Caso contrario, seria melhor que cada um pudesse colocar sue símbolo religioso. Desta forma, um satanista poderia colocar um símbolo que humilhe os cristãos no congresso. O melhor, é não ofender ninguém.)
-age de forma extremamente humanista ao reconhecer a violência e tortura como procedimento comum ainda nos dias de hoje, e condena esse procedimento.
-luta pela inclusão e interação de todas as etinias(negros, brancos, índios,
-tem um programa muito bom de combate a violência e a criminalidade, programas de proteção a vítima, e contra o mau uso da autoridade e de procedimentos paralelos por policiais, alem do plano de inclusão POLÍTICA, fazendo com que os eleitores passem a ter maior consciência ao exercer sua cidadania.
-garante grande proteção às crianças e aos grupos "indefesos" da sociedade.
-busca a participação e interação das pessoas com o meio ambiente de forma sustentável, alem de garantir o trabalho e a proteção dos pequenos agricultores e dos camponeses
-luta pelos direitos humanos dos marginalizados, como por exemplo dos presidiários e das prostitutas, modernizando e reestruturando o sistema penitenciário.
-preza pela garantia universal da utilização do sistema judiciário
-uma modernização na educação aliada aos princípios humanistas e de respeito aos direitos humanos, inclusive no ensino superior
-reconhecimento da legitimidade dos movimentos sociais inclusive com um programa de resgate a história dos mesmos
-o projeto de lei promove o respeito aos DIREITOS HUMANOS NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, lutando contra qualquer programação que atente aos DIREITOS HUMANOS(pag 164)

-desenvolver programas de formação SOCIAL e de FORMAÇÃO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
-promove regularização de RÁDIOS E REDES DE COMUNICAÇÃO COMUNITÁRIAS acabando com o monopólio e alienação dos atuais meios comunicativos.
-efetivar o direito a memória e a verdade histórica
Entre muitos outros projetos....
Percebe-se que o projeto de lei vem com uma fortíssima característica social, humanista e também ecológica e democrática....alem de uma potencial inclusão social, jurídica e política dos menos favorecidos.....
Algumas Redes de televisão como a rede globo provavelmente irão ir frontalmente contra este projeto, tendo em vista que ele visa também apoiar a programação que integre os direitos humanos e inclusão social, características as quais a rede globo nunca priorizou, pelo contrário, sempre prezou pela manipulação e alienação do povo.
Alem do fato do projeto apoiar a criação e fortalecimento de rádios comunitárias, que aproximam o ouvinte do radialista e promove a interação e não-alienação do espectador
Outra medida que acabará por prejudicar a tal emissora é a legalização dos movimentos sociais....a rede globo grande especuladora de terras será colocada contra a parede...ela terá que provar que suas terras realizam função social, sob o risco de perde-las.
Portanto provavelmente a guerra entre o PT e a rede globo foi declarada...
A revolução silenciosa está no nosso país...o primeiro passo foi dado, o apoio de toda a esquerda em torno de um mesmo projeto é necessário, como nunca foi....podemos colocar este país pra frente como nunca ou corrermos o risco de perdermos todos esses ganhos e conquistas almejados até agora.
Segue o link do projeto: http://www.mj.gov.br/sedh/pndh3/pndh3.p df

Tire suas duvidas por si mesmo, não aceite ser fantoche de ninguém.
Esse projeto visa nitidamente evolução popular e trabalhista nacional, porem desagradará grandes potências e instituições de nosso país, precisamos de MUITA união e força nesse momento decisivo de nossa nação;....
Mais uma vez, o futuro só depende de nós

Pax et lux

“Nem o otimismo da vontade, nem o pessimismo da razão”

Postado por Attman e Kamadon

Antonio Gramsci

Esta contribuição não pretende fazer qualquer análise exaustiva da conjuntura, mas é um documento sintético que tem como objetivo pontuar os aspectos que nos parecem essenciais do atual momento, e delinear a tática que pensamos ser a mais adequada.Fazemos a ressalva de que este documento expressa a posição dos seus signatários.


Paulo Trindade, Rui Polly e Sérgio Domingues



1 – Em primeiro lugar, qualquer posicionamento diante da atual conjuntura deve partir de uma constatação realista da correlação de forças na sociedade. Em segundo, devemos ter clareza dos nossos objetivos diante dessa situação. Pensamos que qualquer leitura realista da conjuntura deve reconhecer que neste momento a ofensiva está nas mãos da direita, entendido aí tanto os partidos da oposição de direita, quanto os meios de comunicação da mídia corporativa. Embora discordemos da tese do “golpismo”, tal como foi posta pelos defensores do governo Lula e do PT, há uma campanha que visa “sangrar” o governo Lula e desmoralizar o PT, mas que em última instância pode atingir a esquerda em geral.



2 – As conseqüências da crise ainda são imprevisíveis, mas é visível o fato de que tudo caminha para uma meia pizza: cassam-se alguns parlamentares e não se comprova a existência do “mensalão”. É cedo para afirmarmos categoricamente se essa saída irá ou não se viabilizar, mas é claramente a saída que está se tentando arquitetar. Já se afirmou exaustivamente que à direita não interessa o impedimento de Lula. Isso é fato. E não simplesmente pela manutenção da política econômica, pilar principal da “governabilidade” do governo petista, mas também porque um processo de impedimento traz potencialmente o risco de transbordar em uma crise institucional que colocaria em risco não só o governo Lula e o PT, mas as próprias instituições do Estado e o conjunto dos partidos. A operação de blindagem de Lula reflete essa preocupação de grande parte dos partidos da direita.


3 – O centro da crítica da direita tem sido a “ética na política”. A idéia que se tenta passar é de que o governo Lula e o PT, apesar de terem adotado uma política econômica correta, tem se mostrado tão corruptos quanto ao que “está aí”. Nesse sentido, toda a campanha da direita procura, a todo momento, separar as denúncias de corrupção da política econômica adotada pelo governo petista e da sua política de alianças.


4 – As denúncias contra o PT tiveram o efeito de um verdadeiro tsunami na militância petista. Não só na militância orgânica do partido, mas na expressiva militância que atua na base dos movimentos sociais e tem no PT sua principal referência política. A queda de José Dirceu, de Genoino, Delúbio e Silvio Pereira, o envolvimento de parlamentares como João Paulo Cunha, Paulo Rocha, entre outros, a fissura no campo majoritário, tiveram um impacto político profundo que não pode ser subestimado. Por outro lado, é temerário fazer qualquer afirmação de que o PT está acabado. O reformismo tem uma base social, e articula um sistema complexo que envolve não só a estrutura partidária, mas uma base social controlada por direções burocráticas.


5 – Os movimentos sociais dirigidos por essas burocracias adotaram inicialmente uma postura de defesa incondicional do governo diante um suposto “golpe branco” da direita. Mas mesmo aí era possível perceber claramente as tensões gigantescas que essas direções tiveram que administrar. Ao mesmo tempo em que adotava a linha de defesa de Lula, avançavam propostas que, objetivamente, significavam colocar em xeque os pilares da “governabilidade” petista. Poucos dias após a “Carta ao povo brasileiro”, o governo Lula ampliou o espaço à direita, cedendo ministérios importantes ao PMDB e depois ao PP de Severino e Maluf. Posteriores declarações como as de Stedile de que o governo Lula teria “acabado”, expressaram o caráter cada vez mais agudo das contradições no campo desses movimentos sociais dirigidos pelas burocracias governistas. Embora continuem a adotar uma linha de defesa do governo, são obrigados a enfatizar mais o eixo das mudanças necessárias no governo, principalmente na política econômica.


6 – Por sua vez a esquerda socialista não governista tem realizado iniciativas importantes. O PSOL tem se destacado pela sua intervenção na atual crise, principalmente através da senadora Heloísa Helena. Temos participado de iniciativas importantes junto a outros setores da esquerda radical, como a Assembléia Popular realizada no início de julho. E na convocação do ato em Brasília, marcada para o dia 17 de agosto. Temos ainda adotado uma linha correta de vincular a corrupção à política econômica, procurando nas lutas em curso fazer o elo entre as lutas sociais e a denúncia do governo Lula e da política da direção petista. Porém, é preciso reconhecer que são atividades ainda marginais, que envolvem não amplas massas, mas basicamente setores de vanguarda.





As nossas tarefas

7 – Um pressuposto importante é que o centro da nossa política não deve ser a mera defesa da ética, mas sim o combate à política global do governo Lula, em particular a política econômica neoliberal. Devemos apontar para o verdadeiro conteúdo da corrupção da direção petista: a adoção da política neoliberal e de administração do capitalismo. Mas a nossa intervenção não pode ser meramente propagandística. E menos ainda uma política voltada para ganhar a “opinião pública”. Tem que estar nas ruas, nas fábricas, nas lutas sociais concretas.


8 - Entendemos que o principal fator capaz de modificar substancialmente o cenário político atual é o movimento de massas. Como vimos, dois obstáculos existem a serem transpostos: a) a divisão dos movimentos sociais; b) o fato de que a maior parte dos movimentos sociais organizados está sob direção de lideranças governistas. Diante desse quadro pensamos que devemos adotar uma política de frente única dos trabalhadores sobre uma plataforma de reivindicações concretas que possibilitem unir as lutas, envolvendo o conjunto dos movimentos sociais Tal plataforma deve ser discutida e apresentada tanto para a direção quanto para a base desses movimentos, englobando bandeiras como a punição a todos os corruptos, participação dos movimentos sociais nas apurações, mudança da política econômica, aumentos salariais, reforma agrária já, rompimento com o FMI, suspensão do pagamento e auditoria da dívida externa, contra a privatização das florestas públicas, etc.


8 – A proposta de frente única deve ter como objetivo lutar por essas bandeiras, através de manifestações, greves, abaixo-assinados, campanhas, etc. Uma eventual aceitação de uma frente desse tipo poderá colocar em marcha uma dinâmica de ampliação e subseqüente radicalização das lutas, ampliando as contradições entre as direções e as bases desses movimentos. A não aceitação, por sua vez, permitirá expor de forma concreta as vacilações das direções diante de suas bases. A política dos socialistas não-governistas será a de tensionar permanentemente, disputar a hegemonia do movimento de massas, expor as vacilações e traições das direções burocráticas.


9 - Trata-se de uma adaptação da clássica tática de frente única tal como defenderam Lênin, Trotsky e Gramsci. Uma tática em uma situação em que o movimento está na defensiva e não na ofensiva, com o objetivo de tirar as massas da influência dos reformistas e conciliadores. O fato de se basear em bandeiras unitárias, não necessariamente as mais radicais, não significa que seja centrista ou reformista. Aliás, não se sustenta a idéia de que só é revolucionário aquele que apresenta as bandeiras mais radicais. Essa proposta dá conta ao mesmo tempo das demandas colocadas à classe trabalhadora, como também articula a tarefa de reagrupamento da esquerda.


10 – É nossa opinião que seria um erro adotar neste momento uma saída que se situe exclusivamente no campo da institucionalidade. Defender a Assembléia Constituinte, por exemplo, é um equívoco, pois é uma proposta de reordenamento jurídico-político do Estado burguês em uma conjuntura desfavorável à classe trabalhadora e aos movimentos sociais. A proposta de referendo revocatório pode ser um verdadeiro tiro no pé. O risco de um resultado favorável a Lula é grande, e isso seria um resultado completamente desmoralizante. O principal problema dessas propostas é que permanecem no campo institucional. E mesmo que se desencadeie um movimento de massas, corre-se o risco de reeditarmos o que aconteceu com o movimento pelas diretas já.


11 – O “Fora Lula” aponta para dois desdobramentos.O primeiro: o impedimento de Lula. Nesse caso, trata-se de uma saída por dentro dos mecanismos institucionais existentes, tal como ocorreu com Collor, substituído por Itamar Franco. Não cremos que essa deva ser a proposta a ser avançada pelo PSOL. O segundo: a derrubada de Lula. Um movimento de revolta semelhante ao Argentinazo. Nos dias de hoje, não há nenhuma evidência de que isso seja possível. Pode ser que isso ocorra, mas não podemos estabelecer uma política transformando em certeza aquilo que é apenas uma possibilidade.


12 – A saída deve ser por baixo, implementando lutas amplas e massivas pelas reivindicações dos trabalhadores, e vinculando-as à crise política, exigindo cadeia para os corruptos e corruptores. Exigindo o fim da política neoliberal de Lula, Palocci e Meirelles. Intervindo nas dezenas de campanhas salariais que termos pela frente, vinculando-as às lutas contra o FMI e a política econômica. Em síntese: ampliar, radicalizar e globalizar as lutas.


13 – Assim, a construção de uma frente social e política com outros setores consequentes da esquerda socialista, de dentro e de fora do PT, é imprescindível. Para construirmos um bloco de esquerda capaz de estabelecer um contraponto pela esquerda no movimento de massas, capaz de dialogar, sem sectarismo, com a militância orgânica e não orgânica do PT. Esta é uma tarefa que já estamos realizando, e na qual devemos avançar ainda mais.


14 – Entendemos que devemos aproveitar as potencialidades postas por essa conjuntura, mudar a correlação de forças, colocar a classe e os movimentos sociais no centro da luta política. Para isso é necessário ser ao mesmo tempo realistas na leitura da realidade e capazes de enxergar as possibilidades e potencialidades existentes. Nem pragmatismo, nem “foquismo político”. Nem a simples adaptação à realidade, nem vanguardismo estéril. É hora de uma tática adequada, que parta do nível real de correlação de forças e de consciência política das massas, que tenha como meta construir as condições subjetivas para o avanço da luta revolucionária.


FONTE: REVOLUTAS
SITE: http://www.revolutas.net

FSM: Progresso: para que e para quem? o novo desenvolvimentismo e a necessidade de ultrapassá-lo

Postado por Attman e Kamadon

por Enlace — Última modificação 03/01/2010 17:56




Realizaremos, por ocasião do Fórum Social Grande Porto Alegre 10 Anos, que ocorrerá em Porto Alegre, de 25 a 29 de janeiro, o Seminário Internacional “Progresso: para que e para quem? O novo desenvolvimentismo e a necessidade de ultrapassá-lo”.

Sua finalidade é realizar, em três sessões de debates qualificados (26 de janeiro, tarde e noite, e 28 de janeiro, tarde), um diagnóstico crítico da situação atual do capitalismo bem como do modelo de desenvolvimento que vem sendo erguido em nosso continente no último período e refletir sobre os caminhos para desenvolver e efetivar uma nova agenda para os movimentos de esquerda.

Vamos travar uma discussão geral, mas buscar – sempre que possível – concretizar as discussões o âmbito latino-americano, tendo como horizonte ultrapassar do “novo desenvolvimentismo” que parece se esboçar no Brasil e que continua sendo o horizonte de boa parte da esquerda na região. Dialogaremos, para isso, com intelectuais e atores sociais e políticos relevantes para este propósito, buscando consolidar e ampliar este debate em curso dentro e fora do processo Fórum Social Mundial.

O que está em jogo é a formulação de um novo paradigma de civilização para a esquerda global – para o que o acúmulo de discussões em nosso continente parece oferecer uma contribuição importante.

Contexto

O cenário geopolítico global mudou muito, nos últimos anos, em função da dinâmica do capitalismo mundial e da grave crise financeira e econômica que atravessa e que não foi superada. Observa-se um deslocamento de forças no terreno global, que ilumina o novo papel de paises como a China, Índia e Brasil no mundo. Os Estados Unidos, golpeados pela crise, continuam atolados, sem perspectivas, em duas guerras; aprisionados na dinâmica rentista das finanças que promete gerar novas bolhas; e incapazes de assumirem um papel protagonista no enfrentamento das mudanças climáticas e das suas enormes decorrências sócio-econômicas. A Europa também conheceu uma regressão econômica relativa e assiste o fortalecimento de projetos conservadores. A América Latina é a única região do mundo onde uma dinâmica política claramente progressista é visível, com a afirmação de um movimento de afirmação sem igual desde a grande crise de 1929 e talvez mesmo desde sua independência formal – embora marcada por fortes contradições. Neste terreno regional, temos um fortalecimento relativo do capitalismo brasileiro, com um papel político internacional e regional muito mais ativo do governo Lula, de um lado, e a consolidação de uma nova inserção das empresas brasileiras no capitalismo internacional e na América do Sul.

Ao mesmo tempo, a Conferência de Copenhague (COP 15) mostrou os gigantescos limites do establishment em enfrentar os desafios ambientais que ameaçam a biodiversidade do planeta e a humanidade e a necessidade e a oportunidade de se discutire uma reorganização ampla das atuais formas de organização econômica, sócio-ambiental e política. A continuidade do atual modelo significa não apenas a eclosão de novas crises econômico-financeiras, a ampliação da xenofobia e das tensões militares (inclusive com a busca de desenvolvimento de armas nucleares por um número maior de países), mas principalmente a manutenção da dinâmica predatória frente ao planeta, em especial pela queima combustíveis fósseis, desdobrando-se em crises nos terrenos hídrico e alimentar e, potencialmente, energético, com todos estes processos escalando em uma convergência de crises. É neste sentido que falamos, no Fórum Social Mundial, de uma crise de civilização

Enquanto isso, o Brasil parece transitar para um novo desenvolvimentismo. Às políticas sociais que reduzem a miséria absoluta de setores importantes da população e ampliam o mercado interno, somam-se agora políticas industriais e indutoras moduladas pelo Estado, além das perspectivas de exploração do pré-sal (com todo significado contraditório que carrega). A formação de grandes corporações multinacionais brasileiras é ativamente patrocinada pelo BNDES. E, na região, a expansão dos capitais brasileiros vai engolindo as economias vizinhas, impulsionando uma integração objetiva da América do Sul; o Brasil exerce uma dominação cada vez mais explícita sobre a região. A ampliação da capacidade de iniciativa e da força política do governo brasileiro na conjuntura pós-crise expressam um movimento orgânico e ofensivo do capitalismo brasileiro. Embora existam movimentos principalmente indígenas da região andina que se contrapõem a este rumo, tudo indica que um novo desenvolvimentismo, reestruturado às condições do século XXI, está ganhando ímpeto na região.

Mas o novo desenvolvimentismo – baseado na combinação da inserção das economias da região como fornecedoras de commodities para os pólos industriais do planeta e do fortalecimento dos mercados internos dos países da região (claramente visível no caso brasileiro, inclusive pela promoção de uma melhoria de vida das camadas mais miseráveis da população) – reproduz desigualdades sociais brutais e tende a gerar uma grande passividade política cotidiana, que asfixia a esfera pública e desqualifica a participação política cidadã, apenas quebrada pelo fortalecimento dos movimentos das populações indígenas. Ele mantém as desigualdades entre as regiões e as nações do continente. Ele tampouco caminha para uma economia do conhecimento e da informação, uma economia sustentável, de baixo carbono e com redução do desperdício. É preciso enfrentar estes legados dramáticos para construir um projeto de sociedade viável no século XXI, na maior parte dos casos inseparável da formação de estados plurinacionais e de uma dinâmica de integração regional soberana entre os povos. Como, porém, visualizar uma alternativa ao modelo de produção e consumo vigente sem repensar idéias profundamente enraizadas no imaginário das sociedades de nossa região como as de “progresso” e “desenvolvimento”. Progresso para que? Progresso para quem? Para elites exportadoras de matérias primas que alimentam a industrialização da China e da Índia? Para as populações afluentes que imitam cada vez mais os padrões de consumo dos países centrais? Ou um progresso voltado para o bem-estar das populações do Brasil, da região e do mundo?

O que é o progresso em um mundo em que a maioria do que é produzido é supérfluo ou destrutivo? Falamos não só do consumo das elites, mas de grande parte da geração de energia a partir de combustíveis fósseis, da indústria automobilista, da produção de armas e da siderurgia, de boa parte da química, petroquímica, papel e celulose, publicidade, de uma parte da produção agrícola industrial (em especial a destinada a produção de proteína animal), de toda produção baseada na lógica do desperdício, descartabilidade e obsolescência planejada. Apesar disso, esta lógica social baseada na desigualdade e predatória do meio-ambiente tem capacidade hegemônica, se transmutado no ideal de felicidade de populações que vêem no consumismo uma fonte de significação para suas vidas. Mas Copenhague mostrou também que a afluência destas populações se dará às custas das condições de sobrevivência de uma importante parcela da população humana…

Há, na América Latina, um vasto leque de movimentos de caráter socio-ambiental e de afirmação da autonomia popular e de processos de auto-governo comunitário, bem como de governos de estados comprometidos com o que chamam de socialismo do século XXI. Mas em que medida eles rompem com o horizonte do desenvolvimentismo? Uma alternativa econômica, sócio-ambiental e política superior ao capitalismo e ao modelo de civilização estabelecido por ele demanda uma série de elementos que vem se colocando no que poderíamos chamar de um novo paradigma para a esquerda do século XXI: justiça climática, bem viver, recuperação dos bens comuns, desmercantilização da vida, descolonialidade do poder, direitos coletivos, estados plurinacionais… Estes movimentos se alinham ao lado dos objetivos históricos da esquerda: afirmação da autonomia e identidade de povos historicamente oprimidos pela colonialidade do poder; busca de um mundo sem violência e discriminações, baseado na igualdade e na solidariedade, onde o trabalho seja acessível para tod@s e seu conteúdo dotado de sentido; reversão da deterioração da política, do espaço público, do esvaziamento da noção de bem comum e da privatização do público pela radicalização da participação popular cotidiana, rompendo com a passividade e com o monopólio corporativo sobre as midias, submetendo os governantes e funcionários ao controle social permanente; busca de uma organização social onde os avanços da ciência e as novas tecnologias da informação e comunicação possam ser utilizadas para propiciar a tod@s acesso ao conhecimento e à cultura; onde a riqueza seja apropriada pela população e redistribuída de acordo com suas necessidades.

Esta agenda já está presente em alguns movimentos sociais e políticos do continente, em especial os movimentos indígenas dos países andinos e dos movimentos populares da região amazônica, mas sua aceitação ainda é, de modo geral, limitada. Ela terá, para ganhar ímpeto, que ser enriquecida com a contribuição de movimentos dos moradores das grandes cidades do continente, que já são a maioria da população. Um novo projeto de sociedade terá que unir a luta das populações “tradicionais” vinculadas a seus territórios às dezenas de milhões de pessoas vivendo em São Paulo, Buenos Aires, Rio de Janeiro, Lima ou Caracas… Somente assim ele poderá oferece um horizonte para a construção de uma civilização qualitativamente diferente. E poderá se transformar em prática emancipatória capaz de se traduzir em uma nova lógica social com vocação hegemônica, capaz se abraçada por forças sociais mais amplas.

Resultados esperados

O Seminário pretende consolidar um diálogo, já em curso, entre lideranças dos movimentos sociais e políticos e intelectuais que tem sido portadores de uma agenda sócio-ambiental crítica do desenvolvimentismo e as lideranças, ativistas e intelectuais que, críticos aos padrões de desenvolvimento existentes, ainda não visualizam nos movimentos em curso uma alternativa factível, com capacidade de ser efetivada nas regiões mais urbanas e industrializadas do continente.

Sabemos que muitos destes atores estarão presentes no Fórum Social Grande Porto Alegre 10 Anos e daí a urgência de um debate que aproveite este espaço de encontro que se ocorrerá no Rio Grande do Sul. Para atrair o público esperado de 250 pessoas, estamos articulando a divulgação com destaque junto à organização e as redes do FSM e ainda faremos uma divulgação paralela por meio da internet e com panfletos.


Seminário “Progresso: para que e para quem?”

Utilizaremos para o Seminário a tarde e noite do dia 26 de janeiro e tarde do dia 28 de janeiro, em um trabalho cuja metodologia visa o aprofundamento das reflexões sobre o tema. O seminário consistirá de três mesas de 3h30m com dez participantes: nas duas primeiras teremos quatro colocações iniciais de 12 minutos (a proposta é que sejam feitas por aqueles cujo nome esteja marcado em negrito) e 6 comentários de 8 minutos, seguidos do dialogo livre entre estas dez pessoas; na mesa final sobre “o novo paradigma civilizacional” teremos falas iniciais de 10 minutos, seguido do debate livre entre os participantes. No total das três mesas, contaremos com a colaboração de 30 participantes qualificados. As falas serão disponibilizadas pela internet, em podcast.

É importante ressaltar que esta iniciativa busca dialogar, alimentar e ser alimentada por outras atividades em curso no Fórum, particularmente o “Seminário Dez Anos Depois: Desafios e Propostas Para Outro Mundo Possível”, que estará se desenvolvendo em todas as manhãs dos dias 25 a 29 de janeiro. Ela também parte do acúmulo de debates formulações obtido no último Fórum Social Mundial, realizado em Belém, em janeiro de 2009, e dialoga com o Proyecto Inter-apredizaje de Paradigmas Alternativos a la Crisis de Civilización Hegemônica (que realizará uma reunião própria no Fórum). E pretende dialogar fortemente com o movimento que se expressou no Klimaforum de Copenhague e que terá que desdobrar suas forças por todo o mundo nos anos vindouros.

I) A crise: uma oportunidade histórica?

II) As respostas em curso e seus realinhamentos

III) O novo paradigma civilizacional e como viabilizá-lo