terça-feira, 17 de agosto de 2010

"O neo-marxismo das esquerdas radicais"

Postado por Attman

“Um dos objetivos do autor é refletir ‘não apenas sobre o que é, mas também o que é desejável (...) [colocando] em questão a ordem existente de uma forma global’ através de ‘uma das teorias críticas mais estimulantes no momento (...) a de Marx’”, escreve o sociólogo Valery Rasplus, em sua resenha publicada no sítio BibliObs, 02-08-2010. A tradução é do Cepat.

O livro resenhado é: Razmig Keucheyan, Hémisphère gauche. Une cartographie des nouvelles pensées critiques [Hemisfério esquerda. Uma cartografia dos novos pensamentos críticos]. Paris : La Découverte, 2010.




Eis a resenha.










Membro do comitê de redação da revista Contretemps e da Sociedade Louise Michel, think tank fundado em 2009 e ligado ao NPA [Nouveau Parti Anticapitaliste], o sociólogo Razmig Keucheyan reuniu seu conhecimento universitário e militante para nos apresentar simultaneamente uma ambiciosa “teoria geral da emancipação” e um panorama dos “novos pensamentos críticos”.

Ou seja, segundo a doxa em questão, pensamentos e teorias (pró)marxistas influentes nas diversas comunidades de revolta das esquerdas radicais tomando de assalto o mundo liberal-capitalista.

Um dos objetivos do autor é refletir “não apenas sobre o que é, mas também o que é desejável (...) [colocando] em questão a ordem existente de uma forma global" através de "uma das teorias críticas mais estimulantes no momento (...) a de Marx”. (1)

Herdeiros em conflito

Os pensamentos radicais são pensamentos de conflitos e de tensões entre herdeiros ("antigos" ou "novos"), principalmente universitários, onde os estilos e conteúdos distinguem as escolas e os movimentos de contestação. Entre aqueles que se identificam com os princípios de 1789, ou mesmo de 1793, e, mais genericamente, com o espírito do Iluminismo (sinônimo de ponto de partida da modernidade política pós-moderna), entre aqueles que reclamam para si o legado da Revolução Russa de Outubro de 1917, via o marxismo "clássico" (Kautsky, Luxemburgo, Lênin, Trotsky, Stálin, Bauer, etc.) ou o marxismo “ocidental” (Lukács, Korsch, Gramsci, Adorno, Marcuse,Althusser, etc.), entre aqueles que tiveram um choque intelectual com a queda do Muro de Berlim, em 1989 – quando não foi antes, como no processo de Kravchenko (1949), na "conspiração das batas brancas" (1953) ou no relatório Kruschev (1956), na insurreição de Budapeste (1956) ou na Primavera de Praga (1968), por exemplo – e com a desintegração do bloco comunista que se seguiu, enfim, entre aqueles que pensaram a "renovação da crítica social e política" engajando-se em "uma crítica radical do capitalismo" (2), no seio de uma nova esquerda de transformação social ou de uma esquerda da esquerda (3), herdeira das organizações “esquerdistas” (maoístas, trotskistas, etc.), anarquistas (4) e outros novos movimentos sociais, cujas "teorias críticas atuais são herdeiras do marxismo ocidental", segundo o autor.

Razmig Keucheyan classificou os pensadores críticos em seis tipos ideais.




1. Os convertidos: até recentemente, revolucionários que contestavam o capitalismo antes de se adaptar e defender a sociedade liberal-mercantil como ordem social dominante.




2. Os pessimistas: céticos e niilistas, próximos aos convertidos no que "consideram a transformação da sociedade como impossível ou perigosa”, não vendo "um além do capitalismo" possível sem reviver os "grandes desastres do século XX".




3. Os resistentes: figuras positivas que “mantiveram sua posição após a derrota da segunda metade da década de 1970 [quando] eles reivindicavam de uma ou de outra forma um outro marxismo, de um outro anarquismo", e que permaneceram “fiéis (...) ao seu compromisso original". São, finalmente... conservadores – radicais – realizando pequenas adaptações e inovações ligadas ao tempo. (5)




4. Os inovadores: lidam com a hibridação, as referências heterogêneas e as misturas, onde “vemos antigas referências ao corpo crítico serem combinadas de maneira nova, ou estarem associadas a novos autores ou correntes que não estavam presentes nesse corpo anteriormente”.




5. Os especialistas: e os contra-especialistas (muitas vezes universitários ou ligados ao mundo acadêmico), “visam tomar o contrapé [do] discurso dominante”, ao contrário de outros especialistas, provenientes do mundo dominante.




6. Os dirigentes: ligados a uma organização, eles colocam um problema de escolha ao militante. Há aqueles que acreditam que um bom pensamento radical não pode fugir de uma forte ligação e de uma implicação ativa com uma estrutura (política, sindical, operária, etc.) de luta (6), onde o intelectual revolucionário está ligado tanto a uma escola do partido como a uma função militante ativa e, especialmente, de direção, estratégia confrontada com problemas políticos reais tendo “necessidade de saberes empíricos para a tomada de decisões”, realizando a síntese escrita/pensamento – ação/experiência. Paralelamente a este intelectual orgânico, se encontram aqueles que, simples simpatizantes, companheiros de viagem por um momento mais ou menos longo, fazem malabarismos com a distância e a fusão. Finalmente, há aqueles que marcam uma clara separação, pela "profissionalização crescente da atividade intelectual, que tende a mantê-los afastados da política", a ser menos interdisciplinares, acercando-se de análises e campos abstratos, metafísicos, herméticos, inacessíveis “ao comum dos operários” e submetidos “às regras e recursos que regem o campo social."







A migração da crítica




Para Razmig Keucheyan, o centro de gravidade da produção teórica dos pensamentos críticos mudou de continente, deslocando-se da Europa para os mundos anglo-saxônicos, em particular os Estados Unidos, ladeando "o caminho da produção", onde “novas ideias surgem quando são confrontadas com novos problemas”. Se alguém seguir o autor ePerry Anderson, que o inspirou (7), os futuros locais da geografia dos pensamentos sociais críticos devem se mudar, nos próximos anos, para a periferia e a margem do "sistema mundo”, na China, na Índia, no Brasil, no México e na África do Sul.

Outra causa da migração intelectual, “o clima intelectual [que] se deteriorou seriamente entre a esquerda radical na Europa Ocidental, especialmente na França, a partir da segunda metade da década de 1970”. Será por que já não se colocavam mais novos problemas sociais ou de produção capazes de fazer emergir novas ideias, ou será por que elas eram suspeitas de conduzir a um novo totalitarismo (8) e que "nessas condições (...) as teorias críticas abandonaram seu continente de origem em busca de pastos mais verdes”? A contra-argumentação na França e na Europa é tão débil e inoperante, tão inexistente, tão pouco inovadora? Como realmente explicar que os países (capitalistas) tão favoráveis à doxa radical de esquerda, como os Estados Unidos (para dar um exemplo), puderam acolher com tanta benevolência pensamentos críticos marxistas, seus inimigos políticos e suas antíteses de sociedade? (9) Para Razmig Keucheyan, teríamos, na velha Europa e no contexto da globalização mercantil, não só entrado em um período de "glaciação teórica", mas também em um mundo de "liquidação de possíveis", onde os pensamentos críticos inovadores não mais seriam viáveis.







Novos objetos e conceitos antigos







A antiga política tinha como objetos a razão, a ciência, a nação, a cidadania, as classes sociais, os dominados, o terceiro mundo, o anticolonialismo, etc. A nova política crítica radical, sem abandonar totalmente esses primeiros objetos, focaliza sobre novas categorias sociais, muitas vezes externas ao seu corpus tradicional, como as redes, a identidade, as minorias, o feminismo, o pós-colonialismo, a ecologia, o decrescimento, etc., vistos como possuir um forte potencial emancipador, inteiramente conduzidos por um “paradigma bem vivo [e] estimulante”, um “paradigma completo” (10), o marxismo. Um marxismo pensado como novo, “adaptado à nova conjuntura”, que desconfia dos partidos políticos e sindicatos tradicionais julgados (muito) reformadores e administrativos.

Tomemos um exemplo. As crenças, a teologia e as religiões são pensadas por alguns escritores da crítica radical (Alain Badiou, Giorgio Agamben, Toni Negri, Michael Hardt, Slavoj Zizek, etc.) necessitadas da construção real do socialismo (comunismo), não como reacionárias, alienantes ou como um ópio do povo (11), mas como pensamentos positivos, potencialmente libertadores de toda dominação. Contra aqueles que acreditam que as religiões alienam os indivíduos (hierarquia, idolatria, veneração, misticismo, exorcismo, imortalidade, saúde, além, milagre, superstição, etc.), estes herdeiros do Iluminismo, no qual há algumas organizações de orientação marxista (12), Razmig Keucheyan defende a ideia de que “taxar os movimentos religiosos atuais – especialmente o Islã e as correntes evangélicas – como simples ‘arcaísmos’ é um pouco precipitado". O autor pensa que "a relação dos pensamentos críticos com a religião está longe de ser anedótica. Ela terá um impacto especialmente decisivo sobre as alianças que irão costurar – ou não – no futuro os movimentos progressistas ou revolucionários com as correntes religiosas, no mundo ocidental e em outros lugares" (13), e pode se revelar estrategicamente interessante. Mas "disputar o fato religioso com os fundamentalistas, demonstrar que as formas progressistas, muitas vezes revolucionárias, da religiosidade existente, é uma estratégia inteligente [que consiste] em enfrentar o inimigo em seu próprio terreno" pode levar a um efeito perverso: o de justificar in fine a religião como auto-suficiente para a libertação do homem, a ação revolucionária, capaz de emancipação, contra a exploração e a alienação do gênero humano.







Sistemas...







Os pensamentos críticos radicais são apresentados neste livro sob dois eixos principais: os pensamentos sistemas, que tratam da "natureza e da evolução do sistema global”, e os pensamentos sujeitos, que tratam dos atores em suas práticas e ambientes.

No primeiro eixo, encontramos Toni Negri e Michael Hardt, famosos por suas obras escritas em colaboração, Império e Multidão. Guerra e Democracia na era do Império, onde o operaísmo (14) desempenhou um papel nada negligenciável na gênese e no desenvolvimento desse “pensamento ‘totalizante’”. Na época, se considerava o obreirismo como o motor histórico que impunha ao capitalismo se adaptar em conformidade, reestruturando-se. Hoje, para esses autores nada mudou realmente, “a Multidão tem (...) sempre a iniciativa, e o Estado fica atrás dela". O capitalismo contemporâneo é apenas "o resultado das transformações que esses movimentos [operários] impuseram ao sistema [capitalista]". A Multidão tomou conta deste antigo obreirismo, deste poder do proletariado, tornando-se o "novo sujeito da emancipação, que suplantou neste papel a classe operária”, enquanto que o Império é um outro nome para o poder do capitalismo mundializado, difuso e integrador, descentralizado e desterritorializado, total e global, “uma entidade supranacional que transcendeu a divisão do mundo em Estados-nação”. Combater o Império é combater “uma estrutura ‘parasitária’ que se alimenta da capacidade criativa e cooperativa da Multidão".

Ao lado do Império, é preciso repensar as teorias do imperialismo com autores como Leo Panitch (15), que evidencia a vontade de poder dos Estados e a primazia do político sobre o econômico; Robert Cox, que se inspira na teoria de Antonio Gramsci para construir a sua teoria dinâmica e histórica (materialismo histórico) nas relações internacionais, onde "para tornar-se hegemônico, um Estado deve estabelecer e proteger uma ordem mundial universal na sua concepção, isto é, não uma ordem na qual um Estado explora diretamente os outros, mas uma ordem que a maioria dos outros Estados (...) considera como compatível com seus próprios interesses"; e David Harvey, que construiu um materialismo geográfico histórico, destacando a dimensão espacial do capitalismo (socioespacial), alargando sua ação (mercado, tráfego, transporte, desregulamentação, deslocalização, privatização, etc.) para todas as comunidades, espaços sociais (escolas, hospitais, cidade, campo, espaços "virgens", etc.) e continentes (fronteira, meio ambiente, etc.). (16)

Depois do Império e do imperialismo, intervém a nação (o Estado-nação), que tem muito a sofrer com as ações de desregulamentação das multinacionais capitalistas e com as organizações internacionais (OMC, FMI, etc.), assim como com o nacionalismo beligerante, este “‘essencialismo’ que transforma as entidades ‘eternas’ provenientes de um passado imemorial e se projetando em um futuro indefinido” apoiando-se “sobre os elementos provenientes de tradições antigas, mas (...) transformando-os para fazer deles um fenômeno moderno” podendo fazer surgir “etnicidades fictícias”, ou o pós-nacionalismo dos internacionalistas anti-nacionais (17), militantes sem fronteiras dos direitos dos povos à autodeterminação dentro de uma nação, de uma micro-nação ou de uma comunidade local. Benedict Anderson e Tom Nairn explicitarão essa "relação problemática que o marxismo mantém com o nacionalismo”, enquanto Habermas eEtienne Balibar pensarão a existência de entidades supranacionais soberanas como intermediárias entre o Estado-nação e o Império, apostando no declínio da capacidade atrativa da nação gangrenada, em nossas democracias, o que Giorgio Agamben chamará de estado de exceção. (18)

E o capitalismo contemporâneo em tudo isso? Para Robert Brenner, o capitalismo continua sendo ainda e sempre uma questão de luta de classes. (19) Ele coabita com os modelos antigos (capitalismo mercantil, capitalismo fóssil, etc.), acrescentando novas formas, organizações adaptadas e inovações cada vez mais complexas (como o capitalismo cognitivo de Michel Husson), produzindo outros tipos de alienação, de exploração e de opressão dentro de nossos microcapitalismos locais e de nossos “sistemas-mundos", estes conjuntos geográficos teorizados por Giovanni Arrighi eImmanuel Wallerstein, que contêm “muitos subsistemas culturais, mas não [têm] uma única divisão do trabalho".

O marxismo tradicional parece se transformar gradualmente em marxismo ecológico, em luta contra o capitalismo verde. Na família dos novos pensamentos críticos radicais de esquerda, a ecologia política (ecologia política, decrescimento, antiespecismo, etc.) tomará nos próximos anos um lugar cada vez mais destacado. (20)







... e sujeitos







O outro eixo diz respeito "aos atores suscetíveis de serem os vetores da transformação social” e aos meios de sua emancipação.

Entre estes, Jacques Rancière, ex-aluno de Louis Althusser, revela-se menos doutrinal que um Alain Badiou platônico-maoísta ou que um Slavoj Zizek leninista-lacaniano. Ao contrário de seu ex-mestre, que via no "Partido e no intelectual munido da teoria marxista [os únicos objetos sociais] para acessar diretamente (...) o movimento histórico real", quando "sem sua contribuição, as massas [permaneceriam] na ignorância da realidade e em sua própria condição”, necessitando que “a consciência de seu destino histórico deve ser insuflado de fora na classe operária”, Jacques Rancière se revela, em seus escritos, fundamentalmente antiplatônico e um promotor da "igualdade das inteligências”.

Uma das características de identificação dos novos pensamentos críticos é a utilização recorrente do prefixo "pós". Como tal, o pós-feminismo representa uma de suas componentes mais em voga, tendo como figuras emblemáticas a ecofeminista Donna Haraway, que vê no ser cyborg "a figura emancipadora central de nosso tempo", a representante da queer theory, Judith Butler, ou os subaltern studies, com Gayatri Spivak.

Os indivíduos, os atores sociais, ainda são considerados como elementos de classes contra outras classes em uma sociedade minimamente polarizada, razão pela qual é multipolarizada e integrada por outras divisões possíveis dentro de cada uma destas (de sexo, de gênero, de religião, de nacionalidade, etc.). Para Edward Palmer Thompson, as classes são dinâmicas e socialmente construídas, isto é, que elas não são “um fenômeno sócio-econômico que existe independentemente da consciência” dos indivíduos, mas antes categorias relacionais complexas (de colaboração ou de conflito), relativamente singulares e tributárias da história (do tempo e do espaço), comportando uma cultura e uma “experiência, que é mais ou menos homogênea segundo as épocas, e que evolui ao longo do tempo”, dependentes "em parte das relações de produção”. Contra uma visão holística de classes e um determinismo histórico e implacável, Erick Olin Wright propõe uma "tentativa [empírica] de fusão entre o marxismo e o individualismo metodológico" (marxismo analítico), aí onde Álvaro Garcia Linera acentuará a dimensão indigenista, espacial e temporal das identidades de classes onde “o tempo de classe mistura inextricavelmente os tempos pessoais e coletivos”. Esta identidade também é questionada do ponto de vista do reconhecimento, como em Charles Taylor, que se centra sobre o multiculturalismo, em Nancy Fraser, Axel Honneth, ou no cosmopolitismo de Seyla Benhabib.

Hoje e amanhã

Seguindo o exemplo de Perry Anderson (21), a propósito do possível destino do socialismo, podemos supor que os novos pensamentos críticos aparecerão no futuro, quer como uma experiência ideológica e uma experiência empírica inacabada, quer como um conjunto de teorias e práticas a serem repensadas, renovadas e reformuladas à espera de um momento histórico favorável para os mesmos, quer como início e impulso de uma nova tradição revolucionária cumulativa (combinando continuidade e ultrapassagens), quer, finalmente, elas anunciem a saída de um tempo de eclipse e a chegada de sua hegemonia política.

Mas, por enquanto, lendo os novos pensamentos críticos atuais, parece que eles estão na mesma condição que o altermundialismo, em estado de crise existencial. (22)










Notas:





(1) Razmig Keucheyan voltará a esse tema no próximo dia 28 de agosto, na Société Louise Michel por ocasião da Universidade de Verão do NPA, em um fórum intitulado “História e atualidade dos pensamentos críticos”.

(2) Manifestação contra a Organização Mundial do Comércio, Seattle, 1990; Fórum Social Mundial, Porto Alegre, 2001; etc.

(3) BOURDIEU, Pierre; CHARLE, Christophe; LACROIX, Bernard; LABARON, Frédéric; MAUGER, Gérard. “Pour une gauche de gauche”, Le Monde, 8 de abril de 1998.

(4) Ao contrário de Razmig Keucheyan, considero e situo as estruturas anarquistas em uma galáxia diferente das organizações “esquerdistas”, como evocava, por exemplo, em “Un anarchiste chez les anthropologues », BibliObs, maio de 2010.

(5) Razmig Keucheyan indica justamente que os trotskistas – inscritos como “um contingente importante de resistentes” – inscreveram “sua atividade teórica em uma dialética que alia conservação e inovação”, uma “dialética entre a continuidade e a ruptura com o passado”.

(6) MONOD, Jean-Claude. Penser l'ennemi, affronter l'exception. Réflexions critiques sur l'actualité de Carl Schmitt. Paris : La Découverte, 2006.

(7) ANDERSON, Perry. In the Tracks of Historical Materialism. Londres : Verso, 1983. Perry Anderson é ex-redator-chefe da New Left Review e professor de história e sociologia na Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA, Departamento de História).

(8) GLUCKSMANN, André. Os Mestres Pensadores. Lisboa: Dom Quixote, 1978; LÉVY, Bernard-Henri. La Barbarie à visage humain. Paris : Grasset, 1977. Ver também a crítica da Escola de Frankfurt, ADORNO, Theodor ; HORKHEIMER, Max. A Dialética do Esclarecimento. São Paulo : Jorge Zahar, 1985.

(9) Estamos somente na ideia de que “contrariamente à universidade francesa, onde o fechamento sobre si mesma é notório, a universidade norte-americana é aberta ao mundo”?

(10) Este paradigma é considerado como total porque “há uma perspectiva marxista em todas as disciplinas das ciências humanas: economia, geografia, sociologia, ciências políticas, filosofia, linguística, etc.”.

(11) “A religião é o suspiro da criatura oprimida, a alma de um mundo sem coração, como ela é o espírito das condições sociais em que o espírito foi excluído. Ela é o ópio do povo”. MARX, Karl; ENGELS, Friedrich. Crítica da Filosofia do Direito de Hegel. São Paulo: Boitempo, 2005 (1844); LÖWI, Michael. “Ópio do povo? Marxismo crítico e religião”, emNPA, fevereiro de 2010.

(12) Lutte Ouvrière, Les religions; Dawson, « Le combat du marxisme contre la religion », Revue Internationale, 2005.

(13) HOUTART, François. « De nouveaux défis pour la théologie de la libération », NPA, maio de 2010; ACHCAR, Gilbert. « Marxistes et religion, hier et aujourd'hui » NPA, fevereiro de 2010.

(14) WRIGHT, Steve. A l'assaut du ciel - Composition de classe et lutte de classe dans le marxisme autonome italien, Senonevero, 2007.

(15) Leo Panitch é professor de ciências políticas na Universidade de York, no Canadá, e codiretor da revista Socialist Register.

(16) Pode-se ler, como complemento LACOSTE, Yves. La géographie, ça sert, d'abord, à faire la guerre, Maspero, 1976.

(17) TAGUIEFF, Pierre-André. Les fins de l'antiracisme, Michalon, 1995.

(18) DUBREUIL, Benoît. « Giorgio Agamben, État d'exception, Homo sacer », Politique et Sociétés, vol. 23, n° 1, 2004, p. 199-203.

(19) BRENNER, Robert. « The Origins of Capitalist Development: A Critique of Neo-Smithian Marxism », New Left Review, Vol. 104, 1977.

(20) HARRIBEY, Jean-Marie. « Marxisme écologique ou écologie politique marxienne», in BIDET, J., KOUVÉLAKIS, E. (dir.), Dictionnaire Marx contemporain, PUF, Actuel Marx Confrontation, 2001, p. 183-200.

(21) ANDERSON, Perry. Zona de Compromisso. São Paulo: Unesp, 1996.

(22) RASPLUS, Valéry. « Altermondialisme : la crise existentielle », Libération, 2009.

"Talismã"

Postado por Kamadon

(baseado em texto do livro “Jesus no Lar” – Neio Lúcio)



Jesus em casa de apóstolos, conversa sobre as atividades do dia onde aconteceram curas de doentes. Isabel, preocupada em não se adoentar questiona o Mestre como poderia obter um talismã de cuja virtude possa ela desfrutar.

O que ela quer é algo “mágico”, que possa lhe trazer benefícios sem esforços. O Mestre, rindo-se da ingenuidade do ser humano que busca em coisas materiais receber gratuitamente as benesses do Pai, lhe responde:

“Realmente, conheço um talismã de maravilhoso poder. Usando-lhe os milagrosos recursos é possível iniciar a aquisição de todos os dons de nosso Pai. Oferece a descoberta dos tesouros do amor que resplandecem ao redor de nós, sem que lhe vejamos, de pronto a grandeza. Descortina o entendimento, onde a desarmonia castiga os corações. Abre a porta às revelações da arte e da ciência. Estende possibilidades de luminosa comunhão com as fontes divinas da vida. Convida à benção das meditações nas coisas sagradas. Reata relações de companheiros em discordância. Descerra passagens de luz aos espíritos que se demoram nas sombras. Permite abençoadas sementeiras de alegria. Reveste-se de mil oportunidades de paz com todos. Indica rede de trilhos para o trabalho salutar. Revela mil modos de enriquecer a vida que vivemos. Facilita o acesso da alma ao pensamento dos grandes mestres. Dá comunicações com os nossos mananciais celeste da intuição”.

“Sem esse divino talismã, é impossível começar qualquer obra de luz na Terra”.

Isabel está encantada com os poderes desse magnífico amuleto e pede a Jesus que indique onde adquiri-lo. Ela tem pressa em entrar nesse mundo de felicidades prometido a quem possuir esse poderoso talismã.

“Esse bendito talismã, Isabel, é propriedade comum a todos. É “a hora que estamos atravessando” ... Cada minuto de nossa alma permanece revestido de prodigioso poder oculto, quando sabemos usa-lo no Infinito Bem, porque toda grandeza e toda decadência, toda vitória e toda ruína são iniciadas com a colaboração do dia”.

“O tempo é o divino talismã que devemos aproveitar”.

Vamos conhecer este talismã para que nós também possamos utilizá-lo...



“A hora que estamos atravessando”

O momento que vivemos é composto por acontecimentos que estão existindo em nossas vidas. São as situações da vida de cada um. Esses momentos podem ser de dois tipos: prazerosos ou de sofrimentos.

Quando no momento de sua existência o ser vê os seus desejos (vontades) satisfeitos, entra no estado de prazer. Quando todos os acontecimentos ocorrem como planejados pelo espírito ele goza da felicidade material (prazer). Nesse momento ele entende o “tempo” como um talismã capaz de lhe trazer felicidade.

No entanto, se os acontecimentos contrariam os desejos do ser, ele sofre. Quando alguém provoca um acontecimento que fira os conceitos do espírito, esse se contraria, critica, acusa. Nesse momento o “tempo” deixa de ser um talismã de felicidade e se torna em um instrumento de seu sofrimento.

Cristo nos afirma ao contrário: qualquer que seja o acontecimento que está se sucedendo agora, ele é um talismã que pode nos levar a alcançar a felicidade. Independente do que está acontecendo, todo o fato de uma existência é instrumento utilizado por Deus para a felicidade do espírito.

Se a diferença entre a felicidade e o sofrimento está nos desejos de um ser (quando contentados alcança a alegria, quando não, sofre) para bem se utilizar esse talismã é preciso deixar de ter desejos.

Esse é o ensinamento do Mestre oculto na conversa com Isabel. É preciso que o espírito encarnado abra mão de suas vontades individuais e entenda que todos os acontecimentos que estão ocorrendo são instrumentos utilizados por Deus para a que ele seja feliz.

Para se agir dessa forma é preciso incorporar Deus aos acontecimentos. Enquanto o homem imaginar-se causador de algo, terá necessariamente conceitos que espelhem os seus padrões de justiça e de amor.

Quando o ser humanizado compreender-se como participante do universo (ser universal – espírito) poderá ver Deus como Causa Primária de todas as coisas, agindo universalmente com Justiça Perfeita e Amor Sublime.

A partir da utilização desse “filtro” para poder se “enxergar os acontecimentos”, o ser poderá deixar de desejar. Ele terá um Pai que gera todos os acontecimentos e por isso não necessitará se preocupar com os acontecimentos da vida.

Terá um Pai que é Justo e, portanto, não precisará julgar os acontecimentos de acordo com os seus conceitos de justiça. Terá um Pai que é amoroso, que lhe dá tudo o que precisa para alcançar a elevação espiritual. Não necessitará mais saber o que lhe pode ser “bom” ou “mal”.

A vida vivida com a presença constante dos atributos de Deus é o talismã que leva o ser a alcançar a felicidade suprema.





“é possível iniciar a aquisição de todos os dons de nosso Pai”.

O ser humanizado se acha capaz de “compreender” o que está acontecendo. No entanto, a sua “compreensão” é limitada pela visão “estreita” que possui do Universo.

Quem pode dizer o que determinado acontecimento poderá fazer ocorrer no Universo por causa da interdependência? Todos os acontecimentos da existência interferem na dos outros seres do Universo. Quando alguém busca a sua satisfação individual estará, certamente, causando o infortúnio para outro. Quem pode medir o impacto da ação individual de cada um sobre o próximo para que a Justiça Perfeita seja mantida?

O infortúnio causado a outro pode levá-lo a escolher sentimentos negativos para reagir ao acontecimento. Com isso, o espírito, sem consciência de tal fato, pode aumentar seus débitos com o Universo. Quem pode determinar o que é útil para cada ser?

Apenas Deus que possui as suas propriedades elevadas ao potencial máximo é capaz de “compreender” toda a interdependência dos atos individuais para que a Justiça Perfeita e o Amor Sublime prevaleçam em Seu Reino.

Somente utilizando essas verdades universais sobre o momento atual é que o ser poderá penetrar nos desígnios do Pai. Os dons de Deus (Inteligência Suprema, Justiça Perfeita, e Amor Sublime) só podem ser compreendidos quando aplicados a cada situação do universo.





“descoberta dos tesouros do amor que resplandecem ao redor de nós, sem que lhe vejamos, de pronto a grandeza”.

Deus, o Amor Sublime, jamais poderia causar o “mal” para qualquer dos seus filhos. Todas as Suas ações são visando o “bem” de cada um. Esse “bem” não se reflete na satisfação material, que é momentânea e fugaz, mas em proporcionar as condições necessárias para que cada um penetre na felicidade universal, eterna.

Por isso, quando Deus comanda um ato que contraria o “desejo” do espírito, não age para penalizar ou apenas para contrariá-lo. Ele sabe melhor do que o homem o que o Seu filho precisa para ser feliz.

Todo ato que Deus promove é revestido do mais sublime amor. O ser humanizado é que não consegue entender dessa forma os acontecimentos porque está preso aos seus desejos individuais.

Para utilizar-se do amuleto que Deus nos deu, é necessário que se abandone os desejos. Aí sim, poderá compreender perfeitamente todo inesgotável amor que o Pai tem pelos seus filhos.





“Descortina o entendimento, onde a desarmonia castiga os corações”.

“Reata relações de companheiros em discordância”.

Toda desarmonia nasce de um desejo individual. Quando alguém quer algo, se não for contentado, lutará para alterar o acontecimento até que se satisfaça. Para isso julgará, criticará, acusará quem não lhe satisfaz as vontades.

Quando o ser não mais tiver essas vontades, a harmonia e a paz reinarão, uma vez que tudo que acontecer será Perfeito, Justo e Amoroso pela Fonte que o produz. Enquanto isso não acontecer, o ser viverá no estado de espírito de sofrimento.

O único caminho para a paz é a compreensão da ação de Deus sobre o Universo: o talismã do tempo atual, o que está acontecendo.





“Abre a porta às revelações da arte e da ciência”.

Com o entendimento de Deus Causa Primária acabam-se os “conceito” de “bonito” e “feio”. Nada do que Deus promova pode ser “bonito”, porque para que isso ocorresse deveria haver um “feio” que servisse de parâmetro de comparação.

Todas as coisas são instrumentos que Deus coloca para o espírito poder ser feliz. São os conceitos do ser que separam as coisas: aquilo que lhe satisfaz, diz que é “bonito”, quando não, diz que é “feio”.

Tudo no universo é prático e possui função específica para auxiliar o ser. Com a prática deste conhecimento se revoluciona todo o conhecimento do Universo. As coisas deixarão de ser “compreendidas” por sua forma e, nesse momento, poderá ser entendida a sua essência: função que Deus deu àquilo.

Da mesma forma as doenças não mais existirão. Toda ciência será reformulada a partir do momento que se descobrir o Deus Causa Primária. Se o Pai consegue sustentar cada planeta no seu devido lugar, será que não possuirá capacidade de vencer um micróbio, vírus ou bactéria?

“7 - Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas?”

“Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre a existência de uma causa primária”. (Livro dos Espíritos)

Todas as situações, inclusive as chamadas leis materiais, são causadas por Deus. Nada pode reagir apenas de determinada forma. Todas as leis científicas materiais são apenas parte da lei científica universal criada por Deus.

Hoje o homem imagina que o que sabe sobre os elementos do universo é a totalidade de suas propriedades. No entanto, se a ação de Deus é a propriedade do elemento, apenas Ele pode conhecer a totalidade da regra de “funcionamento” desse elemento.

Assim, quem utiliza o talismã que Cristo nos ensina não se prende às reações a partir das propriedades dos elementos, mas compreende que ele reage como comandado por Deus visando proporcionar uma chance de evolução ao ser.





“Estende possibilidades de luminosa comunhão com as fontes divinas da vida”.

Quando o ser humanizado se prende aos seus desejos e verdades, cria um mundo individualista. Para ele, apenas aquilo no que crê se transforma em verdade absoluta. Esse mundo é isolado do Universo, onde apenas o que Deus vê e compreende se transforma em verdade absoluta.

As verdades e desejos do ser humano formam a sua “vida”. Se compararmos a vida de cada um a uma casa, podemos dizer que aqueles que estão presos ao gozo das verdades individuais vivem dentro de uma casa com portas e janelas cerradas. Eles se isolam do Universo de Deus.

Para que um ser possa penetrar no mundo de Deus é preciso que ele abra as janelas e as portas de sua casa. Derrubando as paredes que limitam um simples pedaço de terra com o Universo, o ser poderá penetrar no mundo de Deus.

A comunhão do ser com a sua realidade espiritual depende da quebra de suas verdades individuais.





“Dá comunicações com os nossos mananciais celeste da intuição”.

“Imaginamos erradamente que aos espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles” (Livro dos Espíritos – Comentário à pergunta 525).

Existe todo um universo de seres que rodeia o ser humanizado. A cada momento, de acordo com a ordem de Deus, esses seres “comunicam-se” com os encarnados transmitindo a Causa Primária. Os órgãos do sentido do corpo físico não conseguem captar a presença desses seres e, por isso, os seres humanos se imaginam isolados no universo.

A conversa entre os seres desencarnados e os encarnados foi chamada de “intuição”.

“525 – Exercem os espíritos alguma influência nos acontecimentos da vida?”

“Certamente, pois que vos aconselham”. (Livro dos Espíritos)

Essas “conversas” são os pensamentos que o ser humano possui. As “histórias” que se formam durante o raciocínio são intuições que os seres desencarnados passam aos encarnados para que se produza o efeito (ato) que Deus quer. Todas as intuições têm por base a manutenção da Justiça Perfeita e do Amor Sublime no universo.

Como poder ver as coisas dessa forma? Utilizando o talismã que Cristo nos dá: os acontecimentos de agora. Enquanto o ser imaginar-se independente de Deus não conseguirá compreender as intuições que recebe e cada vez mais penetrará no individualismo, falindo a sua prova, encarnação.





“Convida à benção das meditações nas coisas sagradas”.

“Descerra passagens de luz aos espíritos que se demoram nas sombras”.

Sagradas são apenas as coisas que se originam na Perfeição do Universo: Deus.

No primeiro mandamento da lei de Deus está escrito: amar a Deus acima de todas as coisas. Quando o ser humanizado ama a si mais do que a Deus (dá maior valor às suas verdades do que a ação divina), fere frontalmente essa lei e, por esse motivo, fica à parte das coisas sagradas.

Apenas usando o talismã que Cristo nos ensina pode o ser humanizado entrar em contato com as coisas sagradas, ou seja, com a vontade de Deus. Enquanto não utilizar o acontecimento do momento com uma chance que Deus nos proporciona para a felicidade, este ser estará preso aos seus desejos.

A utilização desse talismã não se prende a nenhuma religião. Todas as formas de religação com Deus possuem “coisas sagradas”: orações, imagens, artigos materiais. Quem idolatra essas coisas não consegue chegar à verdadeira coisa sagrada: Deus e sua ação.

Portanto, utilizar o talismã ensinado por Cristo a Isabel não depende de religião, mas sim de reforma íntima. Abandonar o gozo dos prazeres (felicidade material) para viver dentro da Causa Primária universal com Justiça Perfeita e Amor Sublime.





“Permite abençoadas sementeiras de alegria”.

“Revela mil modos de enriquecer a vida que vivemos”.

A única condição necessária para que um ser seja feliz é escolher o sentimento de felicidade frente aos acontecimentos da vida. A felicidade somente será alcançada com a alteração da escolha sentimental dos seres (livre-arbítrio). Jamais esse estado de espírito poderá ser alcançado alterando-se os fatos, pois eles refletem uma Perfeição, quer na forma, na Justiça e no Amor.

Enquanto o ser não se libertar de se seus conceitos (vontades) jamais conseguirá atingir essa felicidade universal. Deus não criaria tudo o que existe apenas para satisfazer a vontade de um ser, nem mesmo a Dele.

Deus não comanda a os acontecimentos por Sua própria vontade, mas o faz dessa forma porque sabe que aquilo é o melhor para o “futuro” do ser. Deus não nos pede que O amemos acima de todas as coisas por soberba, mas porque sabe que essa é a única consciência que pode levar o espírito à progressão espiritual, que, em última análise, é o tesouro espiritual de um ser.

Os bens materiais perecem, as traças roem e a ferrugem destrói, mas os bens espirituais, os sentimentos que um ser nutre, permanecem eternamente com esse. No entanto, essas posses podem trazer a falência ou a glória para um espírito.

Se o ser nutre sentimentos negativos (individualistas) eles permanecerão com esse, mas provocarão o sofrimento que caracteriza a involução do ser. Mas, se por outro lado, o ser nutre sentimentos positivos que o levam ao estado de espírito de felicidade universal, o ser é “rico”.

Esse foi o ensinamento básico da Boa Nova trazida por Jesus Cristo. Portanto, a utilização do talismã ensinado à Isabel é o caminho prático para se viver dentro dos ensinamentos do Mestre maior.





“Indica rede de trilhos para o trabalho salutar”.

“Facilita o acesso da alma ao pensamento dos grandes mestres”.



A existência carnal do ser não é um passeio, uma viagem de férias. Ele se reveste da massa carnal e passa a “viver” no mundo mais denso com um objetivo: provar a Deus que é capaz de abandonar seus desejos e apenas amar. Assim sendo, podemos afirmar que a vida de um espírito é um “trabalho”.

A modificação da compreensão dos acontecimentos, de dependentes do querer de cada um para o desejo de Deus, é o trilho que pode levar à realização do trabalho de um ser. Sem isso, o espírito toma o caminho mais largo, que termina no sofrimento da contrariedade dos seus desejos.

Foi para ensinar esse caminho estreito que Deus, no seu Sublime Amor, enviou mestres ao planeta. Buda, Kardec, Cristo, os Apóstolos, os Profetas, Krishna, Maomé e tantos outros vieram à massa carnal nos ensinar que a existência humana tem que ser pautada com a plena consciência da ação de Deus.

Para ensinar o caminho a ser percorrido cada um, de acordo com sua época e os costumes dos povos para os quais falaram, deixou ensinamentos. O homem, interessado em satisfazer-se, alterou esses ensinamentos.

Ao invés de compreendê-los sob a ótica de Deus, buscou neles o caminho para a sua satisfação. Procura viver dentro dos ensinamentos, mas espera que o resultado desse trabalho seja a satisfação de seus desejos. O resultado do trabalho de um ser dentro dos ensinamentos do mestre não é a satisfação, mas a plenitude da felicidade espiritual.

O resultado daquele que segue os ensinamentos dos mestres não é a satisfação individual, mas a glória da felicidade universal na vida eterna. Alterando-se a visão dos acontecimentos a partir do abandono dos desejos, o ser pode então alcançar esse estágio de evolução e, aí, ser realmente feliz.





“Sem esse divino talismã, é impossível começar qualquer obra de luz na Terra”.

“132 – Qual é o objetivo da encarnação dos espíritos”?

“Deus lhes impõe a encarnação com o objetivo de faze-los chegar à perfeição. Para alguns é uma expiação, para outros é uma missão. Todavia, para alcançarem essa perfeição devem suportar todas as vicissitudes da existência corporal; nisso é que está a expiação” (O Livro dos Espíritos).

A Kardec foi ensinado que a “perfeição” (elevação espiritual) só será alcançada em uma encarnação quando o ser “suportar as vicissitudes da existência corporal”. Como vicissitude entende-se a “mudança ou variação das coisas que se sucedem” (Mini Dicionário Aurélio).

É exatamente na mudança das coisas (de satisfatórias para insatisfatórias) que consiste a expiação necessária para que o ser evolua. Expiar é pagar os seus débitos com o universo e não somente com outros seres.

Quando um ser “quer” individualmente (desejos) fere toda uma coletividade espiritual que coexiste universalmente. É para ele expiar esse querer que Deus faz com que o próximo não se submeta aos seus caprichos, mas o coloca em posição antagônica para dizer que o querer do ser é individual. Busca apenas a justiça e o amor para si.

O objetivo de uma encarnação do espírito é reformar-se, ou seja, mudar os seus conceitos. Como mudar se Deus satisfizê-los? É exatamente no momento que os desejos individuais não são satisfeitos que ocorre a chance da mudança.

A elevação espiritual não pode jamais acontecer pela satisfação do homem, mas deve nascer da reforma do ser. Da mudança do seu desejo individualista para a penetração na Sabedoria de Deus.

É para isso que o Pai deu a cada um o talismã: instrumento capaz de promover a reforma íntima. Bem usando o momento de hoje, o ser garante um futuro em glória.