quarta-feira, 31 de março de 2010

Pileque precoce- a decadencia de ideias na juventude brasileira - Frei Betto *

Postado por Attman e Kamadon

Pesquisas indicam que o perfil preponderante do jovem brasileiro de hoje é, ao contrário da minha geração, conservador, individualista, distante daqueles que, em meados do século XX, queriam mudar o mundo.
Agora, ele se mostra mais preocupado em ter um bom emprego do que motivações ideológicas; menos propenso a riscos e mais apegado à família. A relação com a sociedade é mais virtual que real: fechado em seu quarto, ele nem precisa rezar "venham todos ao meu reino", pois tudo lhe chega através do telefone, da TV, da internet, do MP3.

A cultura consumista a todos nós oferece, em cálice dourado, o elixir da eterna juventude. Os jovens não querem deixar de ser jovens; adultos e idosos insistem em imitar os jovens. E o principal fator de afirmação é a autoimagem, a valorização da estética.


O jovem atual não quer se arriscar; anseia por experimentar. Na falta de motivação religiosa, experiência espiritual e ideologia altruísta, tende a buscar na bebida e na droga a alteração de seu estado de consciência. Sem isso não se sente suficientemente relaxado, loquaz, divertido e ousado.

É óbvio que a mídia dita padrões de comportamento, hábitos de consumo e paradigmas ideológicos. A diferença é que tudo isso chega ao jovem de tal forma bem embalado em papel brilhante e fita colorida, que ele nem percebe o quanto é vulnerável à ditadura do consumismo.

No Brasil, a ingestão de bebidas alcoólicas é legalmente proibida a menores de 18 anos (nos EUA, 21 anos). A fiscalização pouco funciona e o Estado permite a publicidade de cerveja a qualquer hora em rádio e TV -concessões públicas- e o estímulo ao consumo precoce. Inclusive a utilização publicitária de pessoas famosas das áreas de entretenimento, artes e esportes, para suscitar em crianças e jovens reações miméticas de consumo de álcool.

Dados do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) informam que 42% das crianças brasileiras com idade entre 10 e 12 anos já consumiram bebida alcoólica, e 10% dos jovens de 12 a 17 anos podem ser classificados como dependentes de álcool.

Os adolescentes acreditam que um copo de chope não implica risco à saúde. Talvez. O problema é que, ao se enturmar num bar, ele bebe oito ou dez. Ou apela para o mais barato, no duplo sentido da palavra - custo e efeito: uma garrafa de cachaça ou vodca custa menos que uma rodada de chope e provoca rápido "um barato"...

O Ministério da Saúde já calculou quanto o alcoolismo custa aos cofres públicos? Quanto gasta o INSS com os alcoólicos afastados do trabalho por razões de dependência? De que adiantam as campanhas de prevenção se atletas de renome fazem propaganda de bebida alcoólica?

A publicidade de bebida destilada -cachaça, uísque, vodca- obedece à restrição de horários, regulados pela lei 9.294/1996. Entre 6h e 21h é vetada a publicidade de destilados, embora muitas rádios burlem a proibição. A cerveja, que responde por 70% de todo álcool ingerido no Brasil, é livre de regulamentação. E é por ela que muitos jovens ingressam na dependência química.

Pela lei 9.294, bebida alcoólica é a que possui mais de 13 graus na escala Gay-Lussac. O Congresso Nacional assim determinou pressionado pelos produtores de cerveja e vinho. Normas internacionais consideram que é alcoólica toda bebida com 0,5º GL ou acima.

Todas as demais leis do Brasil -de trânsito, de fabricação etc.- consideram alcoólica toda bebida com mais de 0,5º GL. A cerveja tem cerca de 4,8º GL. Verifique com lupa o rótulo de uma cerveja dita "sem álcool". Com exceção de uma marca, as demais possuem 0,5º GL, ou seja, fazem, com respaldo da lei, propaganda enganosa. Assim, pais desavisados deixam crianças ingerirem a cerveja "sem álcool" e alcoólicos em tratamento são vítimas do mesmo engodo.

O Código de Autorregulamentacao do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária) alerta que comerciais de cervejas não devem ser atrativos para o público jovem. O que se vê é o contrário. As peças publicitárias exalam jovialidade, bom humor, espírito de tribo, linguagem própria de jovens, sem que haja nenhum controle.

Vêm aí a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Se permanecer liberado o direito de associar desportistas com bebidas alcoólicas a Lei Seca, com certeza, vai dar água...

Em muitos países, como no Canadá, há regulamentação à publicidade de bebida alcoólica, visando à proteção do público infantil. Lá não se vende bebida alcoólica em supermercados, lojas, padarias e mercearias. Só se permite em bares e restaurantes.

O Free Jazz, festival de música, foi cancelado por ser patrocinado por uma marca de cigarro. O mais badalado camarote do sambódromo exige que se vista a camisa de uma produtora de cerveja. Não existe o alerta: "Se fumar, não dirija". Já no caso da bebida...

O argumento de que regular a publicidade é censura ou fere a liberdade de expressão é mero terrorismo consumista centrado em sobrepor interesses privados ao interesse público, como é o caso da proteção da saúde da população, em especial de nossas crianças e adolescentes.

[Autor, em parceria com Marcelo Barros, de "O amor fecunda o Universo - ecologia e espiritualidade" (Agir), entre outros livros.



* Escritor e assessor de movimentos sociais

Democratizar e fortalecer as Forças Armadas - Messias Pontes *

Postado por Attman e Kamadon

Adital -
Amanhã, 1º de abril, o golpe militar completa 46 anos. Era o início da terceira maior tragédia já vivida pelos brasileiros em toda a sua história: a primeira foi a escravidão que durou quase quatro séculos; a segunda foi a ditadura do Estado Novo ( 1937 a 1945); a terceira foi a ditadura militar de 1964 a 1985. A quarta maior tragédia foi o desmonte do Estado brasileiro iniciado por Fernando Collor de Mello e seqüenciado pelos neoliberais tucano-pefelistas de 1995 a 2002.
Essa triste página de nossa história precisa ser bem contada para que a atual e as futuras gerações não permitam que ela se repita. A começar pela traição aos interesses nacionais, quando os militares golpistas, orientados e financiados pelo imperialismo norte-americano e com o irrestrito apoio da grande mídia conservadora, venal e golpista rasgaram a Constituição da República, depuseram o presidente João Goulart, democraticamente eleito, implantaram uma feroz ditadura, transformando-a em terrorismo de Estado em 13 de dezembro de 1968 com o famigerado Ato Institucional nº 5.


É importante observar que essa mesma mídia que acusou Getúlio Vargas de manter um mar de lama de corrupção no Palácio do Catete; é a mesma que não queria a posse de Jango em 1961; é a mesma que apoiou o golpe militar de 64 e apoiou a ditadura nos longos 21 anos; é a mesma que elegeu Collor de Mello; elegeu e reelegeu o Coisa Ruim e apoiou o desmonte do Estado; e é a mesma que tem infernizado o governo do presidente Lula e demoniza os movimentos sociais; e é a mesma que já iniciou a mentirosa, criminosa e impatriótica campanha contra a ministra Dilma Rousseff.

Para se manter no poder, os militares golpistas utilizaram as práticas mais condenáveis como a implantação da censura e a institucionalização da tortura, do seqüestro, do estupro, da prisão ilegal de milhares de democratas e do assassinato de centenas de opositores. Ainda hoje, 140 democratas e patriotas brasileiros assassinados ainda não tiveram seus corpos entregues a seus familiares para que os enterrem com dignidade como é feito em todo o mundo.

Os militares de hoje precisam ter a coragem de romper com o corporativismo e pedir perdão ao povo brasileiro pelos hediondos crimes cometidos, como fizeram os militares chilenos. É inadmissível que ainda hoje haja na Marinha uma grande resistência em admitir o heroísmo do marinheiro João Cândido, o líder da Revolta da Chibata, há exatos 100 anos, que ficou conhecido como o Almirante Negro, e que foi anistiado somente em 2008, portanto 98 anos depois.

Os democratas e patriotas que exigem a democratização das Forças Armadas são os mesmos que advogam o seu fortalecimento para que cumpram o seu dever constitucional de defender a soberania nacional. Afinal, o imperialismo, notadamente o norte-americano, não desiste de tentar se apoderar de nossas incalculáveis riquezas, em especial na Amazônia e no litoral com a descoberta de um mar de petróleo leve na camada do pré-sal.

Não foi à toa que a IV Frota Naval ianque foi reativada depois do anúncio da descoberta do pré-sal, e dezenas de bases militares foram instaladas na vizinha Colômbia a pretexto de combater o narcotráfico e a guerrilha das FARC.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como comandante-em-chefe das Forças Armadas, não deve permitir que militares antidemocráticos e impatrióticos festejem o golpe militar que eles teimam em dizer que foi em 31 de março e não assumem que foi no dia 1º de abril, dia da mentira.

Aliás, o golpe militar foi todo forjado na mentira. Acusavam o presidente João Goulart de comunista, de querer implantar um regime comunista no Brasil, mas esse argumento não resiste a uma breve viagem pela história, pois em 1961, com a renúncia do presidente Jânio Quadros, os militares tentaram a todo custo impedir a posse de Jango. O Golpe deveria ter sido dado dez anos antes, ou seja, em 1954, não acontecendo porque o presidente Getúlio Vargas impediu com o seu suicídio.

Mais que nunca é imperioso fortalecer as nossas Forças Armadas. Mas antes elas têm de ser democratizadas.


* Jornalista