Postado por Attman e Kamadon
por István Mészáros
Alguns de vocês talvez tenham estado presentes na nossa reunião de Maio
deste ano neste edifício, quando recordei o que havia dito a Lucien Goldman,
em Paris, poucos meses antes do histórico Maio de 1968 francês. Em contraste
com a perspectiva então prevalecente do "capitalismo organizado", que se
supunha ter deixado para trás com êxito o estágio da "crise do capitalismo"
uma visão fortemente asseverada por Marcuse e nessa época também
partilhada pelo meu querido amigo Lucien Goldman insisti no facto de que, em
comparação com a crise em que estamos realmente a entrar, "a Grande Crise
Económica Mundial de 1929-1933" se parecer com "uma festa no salão de chá
do vigário".
Nas últimas semanas vocês tiveram uma antevisão do que eu tinha em mente.
Mas apenas uma antevisão, porque a crise estrutural do sistema do capital
como um todo, a qual estamos a experimentar na nossa época numa escala de
era, está destinada a ficar consideravelmente pior. Ela tornar-se-á na devida
altura muito mais profunda, no sentido de invadir não apenas o mundo das
finanças globais mais ou menos parasitárias como todos os domínios da nossa
vida social, económica e cultural.
A questão óbvia que devemos agora tratar refere-se à natureza da crise global
em desdobramento e as condições necessárias para a sua solução factível.
A CONFIANÇA E A FALTA DELA
Se tentarem recordar o que foi infindavelmente repetido nas últimas duas
semanas acerca da crise actual, há uma palavra que se destaca, ensombrando
todos os demais diagnósticos apregoados e os remédios correspondentes. Essa
palavra é confiança. Se ganhássemos uma nota de dez libras por cada vez que
esta palavra mágica foi oferecida para consumo público nas últimas duas
semanas em todo o mundo, sem mencionar a sua continuada reafirmação
desde então, estaríamos todos milionários. O nosso único problema seria então
o que fazer com os nossos milhões subitamente adquiridos. Pois nenhum dos
nossos bancos, nem mesmo os nossos bancos nacionalizados recentemente
nacionalizados ao custo considerável de não menos do que dois terços dos
seus activos de capital poderia fornecer a lendária "confiança" necessária ao
depósito ou ao investimento seguro.
Até o nosso primeiro-ministro, Gordon Brown, nos apresentou na semana
passada a frase memorável "Confiança é a coisa mais preciosa". Conheço a
cantiga e provavelmente a maioria de nós também a conhece que nos diz
que: "O amor é a coisa mais preciosa". Mas a confiança no sistema bancário
capitalista ser a coisa mais preciosa?! Tal sugestão é absolutamente perversa!
No entanto, a advocacia deste remédio mágico parece agora ser universal. A
palavra é repetida com tamanha convicção como se a "confiança" pudesse
simplesmente chover do céu ou crescer em grande abundância em árvores
financeiras "capitalistamente" bem adubadas.
Há três dias atrás (a 18 de Outubro) o programa da BBC das manhãs de
domingo o programa Andrew Marr entrevistou um eminente cavalheiro idoso,
Sir Brian Pitman, o qual foi apresentado como o antigo Chefe do negócio
bancário do Lloyd's. Eles não disseram quando ele liderou aquela organização,
mas o modo como falou logo o tornou claro. Pois transpirou através das suas
respostas respeitosamente recebidas que ele deve ter sido o Chefe do Lloyd's
Bank bem antes da Crise Económica Mundial de 1929-33. Consequentemente,
para encorajar os telespectadores, ele apresentou uma grande inovação
conceptual no discurso da confiança ao dizer que as nossas perturbações eram
todas elas devidas a alguma "Super-confiança". E imediatamente demonstrou
também o significado de "Super-confiança", ao afirmar, mais de uma vez
naquela curta entrevista, que não pode haver problemas sérios hoje, porque o
mercado sempre toma conta de tudo, mesmo que por vezes ele vá
inesperadamente muito abaixo. Posteriormente ele sempre sobe outra vez. De
modo que ele também fará isso desta vez, e subirá infalivelmente repetidas
vezes no futuro. A crise actual não deveria ser exagerada, disse ele, porque é
muito menos séria hoje do que a que experimentámos em 1974. Pois em 1974
tivemos uma semana de três dias de trabalho na Grã-Bretanha [ainda que em
nenhum outro lugar] e agora não temos isso. Temos? E quem poderia
argumentar contra aquele facto irrefutável?
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