Capítulo V - Domínio persa e grego.(538 a 167 AEC)
Quando o rei persa Ciro libertou os judeus para que estes retornassem à Terra Santa, apenas cerca de 50.000 judeus retornaram . Isto se deu pelo fato de que muitos já se encontravam estabelecidos na Babilônia, um local de clima ameno, com muita água e onde eles tinham liberdade de culto. Este primeiro retorno foi conduzido por Zorobabel, que era descendente da Casa de Davi. Aproximadamente um século mais tarde aconteceu a segunda leva migratória, sendo que desta vez os judeus regressaram sob a liderança de Esdras, o Escriba.
Com esta segunda repatriação, com a construção do Segundo Templo, com a reedificação dos muros de Jerusalém e o estabelecimento da Grande Assembléia (Knéset Haguedoláh) como entidade religiosa e judiciária suprema do povo judeu, se inicia o período do Segundo Estado Judio ou do Segundo Templo. Estado este que subsistia dentro dos confins do Império Persa, como uma nação dominada, mas com relativa autonomia, cujo poder estava centrado em Jerusalém, confiada ao Sumo Sacerdote e ao Conselho dos Anciões (Sinédrio). Neste período em que não havia mais a figura real, o Sumo Sacerdote assume de fato o papel central de liderança e resistência do povo frente aos conquistadores, sendo que, aqui podemos ver o que Bourdieu diz a respeito dos sacerdotes, sendo que estes passam a ter um certo monopólio do processo moralizador e religioso da sociedade, sendo que o “o corpo de sacerdotes tem a ver diretamente com a racionalização da religião e deriva o princípio de sua legitimidade de uma teologia erigida em dogma cuja validade e perpetuação ele garante.”
Para Chiavenato, “a principal influência persa no judaísmo foi a crença na vida após a morte. Outra importante idéia foi a da existência do céu e do inferno.” Graças à influência persa os judeus também incorporaram ao Messias esperado a figurado do redentor, que resolveria os problemas e conflitos do povo, trazendo a paz e a felicidade. Foi com estas idéias que os judeus regressaram a Jerusalém e reconstruíram o segundo templo.
O domínio persa se prolonga até o ano 332 AEC, quando se inicia o domínio grego. Alexandre, O grande, oriundo da Macedônia e que expandiu a cultura helênica por quase todo o mundo conhecido daquela época dominou Jerusalém em 332. A terra Santa passou a ser dominada pela dinastia dos Ptolomeus até o ano de 198 AEC, quando foi substituída pela dinastia síria dos Selêucidas, ambas ligadas ao império helênico. Neste período de dominação o povo de Israel não permaneceu quieto e dócil. Vale registrar a ocorrência de tentativas de emancipação, principalmente tendo como pano de fundo a defesa do patrimônio religioso., todavia nenhuma alcançou êxito, a não ser a revolta iniciada sob o reinado helenístico do rei sírio Antioco IV Epífanes, que proibira a observância do culto. Em 175 AEC, o rei Antíoco IV decretou uma perseguição sistemática e selvagem contra tudo o que não pertencia ao mundo helênico. Quando ele proibiu a prática do culto e a destruição do Templo iniciou-se a revolta dos Macabeus no ano de 167 AEC.
Capítulo VI - Independência ( 167 a 63 AEC)
A luta pela independência durou cerca de 20 anos, dirigidos no começo da rebelião pelo sacerdote Matatias, que era membro da família sacerdotal dos Asmoneus, e depois por seu filho chamado de Judas, o Macabeu, nome que passou a designar seus descendentes. Sob a liderança de Judas Macabeu os judeus entraram em Jerusalém e purificaram o Templo. Depois de quase duas décadas de lutas, no ano de 142 AEC, o último dos Macabeus, Simão, foi reconhecido pelo rei sírio como Sumo Sacerdote e único condutor do povo Judeu, terminando assim vários séculos de escravidão.
Sob a dinastia asmonéia, que reinou algo em torno de 80 anos, o reino da Judéia logrou expandir novamente as fronteiras quase até os limites registrados na época do reino de Salomão, sendo que também se obteve uma consolidação política sob comando judeu, florescendo novamente a vida da nação. Estes fatos são celebrados até hoje durante a Festa do Hanucáh pois a guerra dos Macabeus constitui um episódio glorioso na história dos judeus, que lograram assumir o controle novamente sobre a palestina depois de décadas de dominação estrangeira.
Esta libertação todavia seria efêmera, durando algo em torno de 100 anos. Logo surgiriam rivalidades internas que levariam à última dominação externa, que poria fim novamente à existência de um estado nacional judio. As divergências entre os asmoneus facilitou a tomada de Jerusalém por outra potência estrangeira. Este dominadores foram os romanos, que no ano 63 AEC, sob o comando de Pompeu, dominaram Jerusalém. É durante a dominação romana que nasce Jesus Cristo, judeu que mudaria o rumo da história da humanidade e indiretamente do próprio povo judeu.
Capítulo VII - Dominação romana (63 AEC a 313 EC)
Os romanos, como novos senhores da Terra Santa, outorgaram ao rei Hircano II, da dinastia asmonéia, uma limitada autoridade sobre a região. Seu governo dependia diretamente do governador romano que residia na cidade de Damasco. O povo judeu procurou mostrar alguma resistência frente aos romanos, com várias sublevações. A última tentativa para restaurar a antiga glória da dinastia dos Asmoneus foi liderado por Matias Antígono , que foi derrotado e morto no ano 40 AEC, terminando deste modo o regime asmoneu, passando a Terra Santa a ser um estado vassalo do Império Romano.
No ano 37 AEC, os romanos designaram a Herodes, genro de Hircano II, como rei da Judéia. Herodes possuía poderes quase ilimitados dentro das fronteiras do reino, se tornando um dos monarcas mais poderosos da parte oriental do Império. Herodes tinha uma grande admiração pela cultura e civilização greco-romana, sendo que empreendeu uma administração de promover grandes construções , como a cidade de Cesaréia ou a fortaleza de Massada. Mesmo sendo um helenista, ele empreendeu a reforma do Templo de Jerusalém, transformando-o num dos santuários mais magníficos de seu tempo. Apesar de toda esta grande destreza administrativa, Herodes não conseguiu cativar a seu súditos. Herodes reinou até o ano 4 AEC, quando morreu, sendo que seu reinado teve grande importância para os primórdios do cristianismo, pois foi no transcorrer dele que nasceu Jesus, cognominado o Cristo, cuja morte, por volta do ano 30 EC, é com certeza uma das origens do forte anti-semitismo que se deflagrou no mundo contra o Povo Eleito pelos seguidores da nova doutrina religiosa.
Após o reinado de Herodes a Judéia passou a ser administrada diretamente pelos romanos, se tornando uma província do Império, sendo governada por procuradores desde o ano 6 AEC até o ano 40 EC. Jesus de Nazaré exerceu seu ministério entre os anos 20 a 30 EC, quando morreu crucificado durante a administração do procurador romano Poncio Pilatos. Por volta do ano 44 EC, após o reinado de Agripa I, os judeus começaram a se insurgir contra os romanos, pois o sistema estava se mostrando particularmente duro para com eles, o que os levou a promoverem várias revoltas. No ano de 66 EC os judeus declararam guerra abertamente contra os romanos, a reposta de Roma não tardou sendo que o imperador Vespasiano enviou seu filho Tito, mais tarde também imperador, para combater a rebelião. Tito foi implacável em sua campanha contra Jerusalém, sendo que os judeus ofereceram desesperada resistência, todavia os romanos tinham uma força bélica superior e arrasaram completamente a Cidade Sagrada.
No dia 09 do mês de ab do ano 70 EC Tito conclui o cerco de Jerusalém, destruindo completamente a cidade e o seu Templo. Meio milhão de judeus tinham sido mortos na guerra e cem mil tinham sido feito escravos. Muitos sobreviventes abandonaram a Palestina, engrossando as minorias da diáspora em território estrangeiro por todo o mundo, sendo que o Judaísmo passa a sobreviver em torno das sinagogas, que relembram estes fatos até hoje em suas liturgias. O movimento farisaico, através da corrente zelota, promoveu uma resistência até o ano 135 EC, cujo resultado foi somente a destruição total de Israel, condenando o Povo Hebreu à sobrevivência na Diáspora pelos séculos seguintes.
A Grande Diáspora foi um êxodo ao contrário. Com a guerra contra os romanos, mais de meio milhão de judeus morreram e uma centena de milhares foram escravizados, o que fez com que os milhares de judeus restantes na Palestina não tivessem outra opção a não ser abandoná-la e dispersarem-se pelos continentes Europeu, Africano e Asiático. Para entendermos a Religião Judaica, é fundamental ter este panorama histórico aqui apresentado, pois a fé dos hebreus é o fundamento e a razão da resistência deste povo diante de todas as adversidades históricas. Não trataremos dos episódios que envolveram os judeus após a queda de Jerusalém e a grande Diáspora, assim como os acontecimentos do século XX, em particular a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, uma vez que trata-se de algo extremamente complexo e que por si só necessitaria de um estudo aparte. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a Nação Israelítica volta a ocupar o espaço político mundial com a Criação pela ONU, em 1948, do moderno Estado de Israel.
Capítulo VIII - A Diáspora na Babilônia.
Após a queda de Jerusalém no ano 70 E.C., a Babilônia passa a ser o local onde existiam grandes comunidades judaicas, as quais haviam permanecido no país quando o rei Ciro, o Grande, deu a permissão para que os judeus que ali viviam por ocasião da primeira diáspora regressassem à Terra Santa. A estas comunidades formadas por agricultores, artesãos e pastores vieram se juntar novamente grande numero de judeus que foram expulsos da Palestina pelos romanos.
Os judeus babilônicos tinham por dirigente um Chefe da Diáspora, (Rosh Há-Goláh), que pela tradição era tido como sendo descendente do rei David, sendo que sua posição era hereditária, passando de pai para filho. O Chefe da Diáspora tinha várias atribuições no comando do povo hebreu. Ele exercia a função de Juiz Supremo dos judeus da Diáspora, e nesta qualidade era ele quem designava os outros juizes das comunidades; Ele era a pessoa que representava a comunidade judia diante do governo da Babilônia, sendo o responsável por recolher os impostos devidos pelos judeus e repassá-los ao Governo; Pode-se dizer que o Rosh Há-Goláh era uma figura muito respeitada pela comunidade, vivendo de uma maneira opulenta, quase como um rei, que procurava fazer as vezes de intermediário entre a comunidade judia e o governo babilônico.
Do ponto de vista material o povo judeu se encontrava em uma posição de relativa prosperidade, gozando de uma certa liberdade econômica, administrativa e religiosa. Esta última, porém, era a que encontrava maiores obstáculos a superar, não por falta de liberdade de culto e sim por falta de dirigentes religiosos capazes de manter a força do Judaísmo longe do Templo destruído. Todavia, com o advento de dois grandes sábios, Rav e Shmuel, fundadores respectivamente das academias de estudo da Toráh ( yeshvót) de Sura e Nehardea, o judaísmo volta a florescer, passando por um verdadeiro renascimento.
Na Babilônia foi onde surgiu a instituição que se tornou o centro da vida do povo judeu na Diáspora, ou seja, a Sinagoga. Ela foi se firmando como a Beth-Am (Casa do Povo), ou Beth Há Kenesset (Casa da Coletividade). A Sinagoga funcionava principalmente como centro religioso , porém ela foi adquirindo outras características, tornando-se também um centro social, cultural e até político da vida do povo judeu no exílio. A sinagoga era o local onde a Santa Assembléia dos fiéis (Kahal Há Kodeshen) se reunia, dirimindo questões políticas, religiosas e até judiciais, pois ela funcionava como o local onde os tribunais rabínicos se reuniam. A Sinagoga não pretendia substituir o Templo destruído, pois este era e continuava sendo a única morada de Deus, neste contexto ela se torna a casa do judeu da Diáspora.
Capítulo IX - Os judeus no restante do Oriente médio.
Como vimos anteriormente, algumas comunidades judias permaneceram na Palestina, principalmente na região da Galiléia, o que permitiu também um renascimento das atividades religiosas naquela área. O sinédrio foi reconstituído pelo rabino Iohanan ben Zakai, tendo tido como sedes as cidades de Tiberíades, Séforis e Iabnê. Porém, por vários motivos, os judeus palestínicos também foram forçados a novas diásporas, juntamente com os seus irmãos babilônicos, o que fez com que os judeus se espalhassem por quase todo os países conhecidos daquela época, principalmente pela Pérsia, norte da África, Síria, Egito, e o leste europeu.
Na Europa Oriental, entre os anos 650 e 1016 da E.C, na região do império russo compreendida entre os mares Cáspio e Negro, chegou a existir um reino judeu, chamado de reino dos Khazares. Eram judeus oriundos da Diáspora ou convertidos, que adotaram nomes judaicos, falavam e escreviam hebraico, tinham práticas religiosas tais como a instituição da Sinagoga, da circuncisão, estudos da Torá e do Talmud, a presença de rabinos, e a observância das festas religiosas, como o Shabat, o Chenuká e, é claro, a Pessach. Eles eram governados por reis judeus e se proclamavam como sendo descendentes da tribo de Shimon, que para alguns seria a 13ª tribo de Israel. Pode-se dizer que os judeus que hoje habitam as regiões da Bessarabia, Ucrânia, Polônia, e Rússia, nada mais são do que descendentes dos habitantes do reino Judeu da Khazaria. Uma pequena comunidade judia permaneceu na terra prometida, a qual permaneceu sob domínio romano até o ano de 313 EC, quando passou para o controle dos bizantinos. Este período histórico do povo judeu é muito abrangente, indo desde a queda de Jerusalém até a formação do moderno Estado de Israel em 1947.
Capítulo X - A Palestina durante o domínio bizantino. (313 EC - 636 EC)
Até fins do século IV, depois da conversão do imperador Constantino ao cristianismo no ano 313, e da fundação do Império Bizantino, a Terra de Israel passou a ser um país predominantemente cristão. Foram construídas igrejas nos Lugares Santos cristãos em Jerusalém, Belém e Galiléia e também surgiram vários mosteiros nos mais diversos lugares do país. Os judeus foram privados de sua relativa autonomia anterior, quando estavam sob domínio romano, assim como foram privados do direito de exercerem cargos públicos e a entrarem em Jerusalém, a não ser um dia por ano (Tishá BeAv) quando comemoram a destruição do Templo.
A invasão persa no ano 614 foi apoiada pelos judeus, que se encontravam inspirados por esperanças messiânicas de libertação. Os persas, em agradecimento por sua calorosa colaboração, restituiu aos judeus a administração de Jerusalém. Porém esta situação durou apenas três anos, sendo que no ano 629 o exército bizantino voltou a entrar na cidade, expulsando novamente a população judia.
Capítulo XI - Domínio Árabe (636 EC - 1099 EC)
Os árabes conquistaram a Terra Santa quatro anos após a morte de Maomé (632), ou seja em 636 EC. Esta ocupação durou mais de quatro séculos, com califas que governavam a princípio desde Damasco e mais tarde de Bagdád e do Egito. No começo do regime muçulmano o assentamento judeu em Jerusalém foi restaurado e foi outorgado à população judia a qualidade de protegidos, ou seja eles estavam sob a proteção do regime islâmico. Os muçulmanos salvaguardavam suas vidas, suas propriedades e lhes dava liberdade de culto, pedindo em troca um sistema de capitação fiscal especial e impostos sobre a terra. Porém, por volta do ano 717, foram levantadas algumas restrições contra os não muçulmanos, o que afetou alguns aspectos da vida pública dos judeus palestínicos, assim como suas práticas religiosas e seu status legal. A cobrança de altos impostos sobre a zona rural obrigou a muitos judeus a abandonarem os campos e se mudarem para as cidades, outros, devido ao aumento da discriminação social e econômica preferiram abandonar o país e a se juntarem a seus irmãos na diáspora. No final do século XI a comunidade judia na Terra Santa havia se reduzido consideravelmente, perdendo quase toda a sua organização social e religiosas.
Capítulo XII - As cruzadas ( 1099 EC - 1291 EC)
A partir de 1099, durante os próximos 200 anos, a palestina foi dominada pelos cruzados. Os cruzados eram cavaleiros cristãos que, respondendo a um chamado do papa Urbano II, vieram de todos os cantos da cristandade para libertarem a Terra Santa das mãos dos infiéis. No mês de julho de 1099, depois de um cerco que durou cinco semanas, os cavaleiros da Primeira Cruzada entraram em Jerusalém com seu exército, massacrando a maioria dos habitantes não cristãos da Cidade Santa. Os judeus enfrentaram os conquistadores com grande valentia, entrincheirados em suas sinagogas eles procuraram defender seu bairro, não logrando outro resultado do que serem queimados vivos e os sobreviventes serem vendidos como escravos. Após a conquista de Jerusalém os cruzados estenderam suas conquistas para o restante do país, através de tratados, acordos e em sua grande maioria por meio de sangrentas conquistas militares.
O Reino Latino dos cruzados se constituiu numa minoria de conquistadores que se manteve restrita às cidades e castelos fortificados do país. A partir da abertura do país pelos cruzados para a rota internacional de transporte, as peregrinações dos cristãos à Terra Santa se tornaram populares e por outro lado também passou a ser crescente a quantidade de judeus que regressavam a Eretz Israel. Documentação desta época indica que somente da França e da Inglaterra regressaram mais de 300 rabinos que se estabeleceram em Acre e em Jerusalém.
Com a derrota dos cruzados por Saladino em 1187, os judeus israelitas voltaram a gozar de uma certa liberdade, incluindo o direito de se restabelecerem na Cidade Santa. Após a morte de Saladino em 1193 os cruzados conseguiram restabelecer a conquista da maior parte do país, tendo sido finalmente derrotados em 1291 pelos mamelucos.
Capítulo XIII - Domínio Mameluco ( 1291 EC - 1516 EC)
Os mamelucos eram uma casta militar muçulmana que havia conquistado o poder no Egito e estenderam suas fronteiras até a Palestina. Sob o domínio mameluco a terra de Israel se tornou uma atrasada província que era governada desde Damasco. Os portos de Acre, Jafa, dentre outros, foram destruídos por temerem os mamelucos eventuais investidas de novas cruzadas. Desta forma o comércio internacional foi interrompido, o que ocasionou a ruína econômica para aquela região até fins da Idade Média. As pequenas cidades e vilarejos ficaram em uma situação de extrema penúria, sendo que Jerusalém se encontrava quase que totalmente abandonada.
A situação dos judeus palestínicos era de extrema pobreza, sendo que já na época do declínio do domínio mameluco a situação se agravou ainda mais com maiores distúrbios políticos e econômicos, pragas, terremotos. Esta situação de extrema pobreza e descalabros da política mameluca permitiu que mais uma vez a Terra dos Patriarcas mudasse de conquistadores, advindo desta feita os Otomanos, que controlaram a região durante exatos quatro séculos, até o princípio do século XX.
Capítulo XIV - Domínio Otomano ( 1517 EC - 1917 EC)
Depois da conquista otomana em 1517, a Terra santa foi dividida em quatro distritos que estavam subordinados administrativamente à província de Damasco, que por sua vez era governada diretamente de Istambul. No início da era otomana, viviam no país cerca de 1.000 famílias judias, a grande maioria em Jerusalém, Nablus, Hebron, Gaza, Safed e algumas aldeias da Galiléia. Estas famílias eram formadas por judeus que nunca haviam abandonado a Terra Santa, bem como por judeus imigrantes que voltavam do norte da África ou da Europa.
O sultão Suleiman, O Magnífico, através de um governo equilibrado ordenado, propiciou algumas melhorias à vida dos Judeus e acabou por estimular a imigração judaica. Alguns dos recém chegados se instalaram em Jerusalém, porém a grande maioria se dirigiu para a cidade de Safed onde, por volta do século XVI, já havia uma população judia aproximada de 10.000 pessoas, tendo-se convertido a cidade num importante centro têxtil da região, assim como foco de uma intensa atividade intelectual. Neste período floresceu também o estudo da Cabala (misticismo judeu) e também os esclarecimentos e diretrizes da lei judaica, como tinha sido codificada no Shuljan Aruj, que foram estudados e difundidos por toda a diáspora judia da época a partir das academias de estudo de Safed.
Juntamente com o declínio do Império Turco, o país foi caindo também num estado de negligência e abandono. No final do século XVIII os conquistadores otomanos já não possuíam nenhuma organização administrativa que funcionasse a contento na região. As terras estavam entregues a camponeses empobrecidos, a arrecadação de impostos era feita de uma maneira desorganizada e caprichosa, os recursos naturais do país, como os bosques da Galiléia e do monte Carmelo encontravam-se completamente desmatados e a terra agrícola tinha sido abandonada, transformando-se em pântanos e desertos.
No século XIX, aquele atraso medieval foi cedendo lugar aos poucos para os primeiros sinais de progresso ocidental. As potências européias passaram a ter uma política direcionada a Terra Santa, promovendo atividades missionária, expedições arqueológicas, estudos bíblicos e geográficos. A Grã-Bretanha, a França, a Rússia, a Áustria e os Estados Unidos abrem representações consulares em Jerusalém. Se estabelece uma linha regular de barcos a vapor entre a Palestina e a Europa, bem como conexão postal e telegráfica. Com a construção do Canal de Suez a Terra Santa vê a sua vocação para ser a encruzilhada tradicional dos três continentes revitalizada, abrindo-se assim novamente ao mundo.
Para entendermos a Religião Judaica, é fundamental ter este panorama histórico aqui apresentado, pois a fé dos hebreus é o fundamento e a razão da resistência deste povo diante de todas as adversidades históricas. Não trataremos dos episódios que envolveram os judeus após a queda de Jerusalém e a grande Diáspora, assim como os acontecimentos do século XX, em particular a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto, uma vez que trata-se de algo extremamente complexo e que por si só necessitaria de um estudo aparte. Ao fim da Segunda Guerra Mundial, a Nação Israelítica volta a ocupar o espaço político mundial com a Criação pela ONU, em 1948, do moderno Estado de Israel.
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