Postado por Attman
Por Aleka Papariga, Secretária-Geral do Partido Comunista da Grécia (KKE)
O Partido Comunista da Grécia sempre manifestou, especialmente após 1991, que era um engano acreditar no desenvolvimento contínuo do capitalismo, de sua competitividade e produtividade, que resultariam num suposto benefício comum para trabalhadores e capitalistas. Nosso Partido sempre apontou para a inevitável crise econômica em todas as economias capitalistas. Ele previu a crise, a inexorabilidade de um surto agudo, repentino e profundo, que tornaria claras todas as contradições intra-imperialistas e sociais.
Os apologistas do sistema capitalista, entre eles os autoproclamados defensores do velho PASOK (sigla do partido Movimento Solcialista Pan-Helênico, governista*), ou os revisionistas desse partido, reduzindo a crise econômica para um problema de gestão, negando ou encobrindo a própria base sobre a qual ela se assenta, o próprio capitalismo. As condições de hoje exigem que nos demos conta de que a consciência político-social se desenvolve de forma acelerada, mormente quando expressa em luta organizada, planejada e com perspectivas de continuidade no futuro. São as condições de vida do povo, da classe trabalhadora e das famílias de baixa renda que nos preocupam e não os lucros capitalistas. Nossa estratégia consiste em impedir a imposição das medidas bárbaras, tanto quanto possível, consideradas as condições de hoje, para evitar que aquelas medidas sejam legitimadas na consciência das pessoas, para os trabalhadores se desligarem do PASOK e da ND (sigla do partido Nova Democracia*) e de suas políticas, para o movimento se reagrupar e levar adiante um contra-ataque que derrube o equilíbrio das forças políticas que estão no poder hoje em favor do poder popular. Nós não somos indiferentes, nem observadores neutros, porém na medida em que a conjuntura política não nos permite uma intervenção mais eficaz em favor do povo, queremos dar prioriedade ao movimento social, fora do Parlamento.
É chegada a hora para formarmos uma frente social e popular para as ações políticas e de massas que tome uma forma diferente e se desenvolva a partir das forças militantes existentes que devem ser multiplicadas; isto é, a militância dos trabalhadores dos setores privado e público, dos empobrecidos autônomos de pequenos negócios, como os artesãos e os pequenos comerciantes, dos agricultores pobres, com um reforço na participação da juventude, das crianças da classe trabalhadora e das famílias de baixa-renda, especialmente aqueles que estudam e trabalham, dos que estão em programas de treinamento, das mulheres e imigrantes, dos lutadores nos campos da ciência, da arte e da cultura.
Por esses motivos é indispensável a união dessas forças com o Partido Comunista da Grécia (sigla: KKE*), independentemente da concordância, ou não, desses trabalhadores em todos os pontos com o nosso Partido, ou se eles têm dúvidas ou diferentes pontos de vista sobre o socialismo.
Os indícios da possibilidade de construção dessa frente existem, como demonstrado pela Frente Militante de Todos Trabalhadores (PAME), do Movimento Antimonopolista Grego Dos Trabalhadores Autônomos e Dos Pequenos Comerciantes (PASEVE), do Movimento Militante de Todos Os Camponeses (PASY), a Frente Militante de Todos Os Estudantes (MAS) e outras forças do movimento social. Outras formações irão surgir ao longo do caminho, inclusive de movimentos de massa contra a guerra imperialista, por aquelas de defesa de direitos individuais e coletivos, por aquelas de defesa de direitos democráticos, de defesa de direitos sindicais e aquelas associações que atuam na área dos governos municipais. O coração, a sede física das lutas, são os locais de trabalho, as ruas com pequenas lojas, a zona rural, as escolas, as universidades, os bairros de imigrantes, toda categoria de trabalhadores, a vizinhança e as vilas populares. O bloqueio das novas medidas contrárias aos trabalhadores, em especial a abolição dos acordos coletivos de trabalho com o advento de acordos individuais, a luta pela redução da jornada de trabalho e contra a flexibilização dos direitos laborais, etc., devem ser conduzidas, de forma enérgica, em cada local de trabalho.
Os trabalhadores devem alterar o equilíbrio das forças a partir de baixo e esta alteração deve se expressar, tomar forma, na medida do desenrolar da luta economicista para se transformar em luta política. O povo não deve mais pagar, de forma contínua, submetendo-se a sacrifícios indescritíveis, o lucro dos industriais, dos donos e construtores de navios, dos grandes comerciantes e dos monopólios em geral.
Essa frente popular e social deve ter dois objetivos inter-relacionados.
O primeiro é a luta que inclui resistência, luta de atritos, minando as medidas bárbaras que o governo e seus aliados estão tentando fazer passar; luta contra a complexa maquinação que parte do sistema político buguês e da plutocracia.
As lutas de atrito não são, todavia, o suficiente; devemos alcançar algumas pequenas ou maiores vitórias.
No entanto, a mais importante tarefa da frente deve ser criativa para que surja um ponto de vista popular militante, trazer dignidade e otimismo militantes, patriotismo de classe e internacionalismo, ação e iniciativas populares que possam transformar a frente numa corrente de amplo espectro de mudança e de desequilíbrio das forças buguesas postas em jôgo.
Essa frente tem uma escolha, criativa e realista. Para reforçar a proposta alternativa do poder e da economia populares temos de ter palavras-chave de ordem – a socialização dos monopólios, a formação de cooperativas populares em setores onde a socialização não seja possível, um planejamento nacional com controle popular e dos trabalhadores de baixo para cima. Assim, se provará e demonstrará as possibilidades reais que ainda temos de desenvolvimento do país, todavia não se deve perder um tempo precisoso no enfrquecimento e destruição dessas possibilidades.
O Partido Comunista da Grécia está incrementando seus esforços para propagar essa proposta política ao mesmo tempo em que aumenta sua presença nas lutas diárias. Para o dia 15 de maio estamos organizando um movimento de caráter nacional que tornará a nossa proposta, a nossa iniciativa, a nossa oposição completa às políticas públicas de hoje, ao sistema de hoje, ainda mais amplamente conhecida.
Sem ilusões.
A adesão às medidas tomadas não impedirá uma recuperação fraca da economia grega e uma nova crise cíclica, ainda mais intensa do que esta que vivenciamos hoje. De agora em diante, o povo deve estar pronto para criar uma ruptura no sistema e não se tornar uma “Ifigênia” (personagem da mitologia que foi sacrificada em busca de bons ventos para conduzir os exércitos gregos na guerra contra Tróia*). Nós não endossamos o ponto de vista de que os sacrifícios do povo serão em vão; os sacrifícios serão utilizados para maiores ganhos do capital, eles irão para o bolso dos capitalistas.
A recuperação da economia capitalista grega está se tornando crescentemente difícil, mesmo que se torne estável para a zona do euro. A retração da produção industrial só pode se recuperar com grandes dificuldades.
O gerenciamento da crise, seja pela União Européia, seja pelo FMI, não conseguirá superar as contradições da produção capitalista, cujo objetivo e motivação é o lucro. O que quer que apareça como um meio para solucionar um problema, por exemplo, a dívida da Grécia, pode exacerbar outros problemas. Desengajar-se da União Européia e a desobediência são pre-requisitos para a melhoria das condições de vida do povo. Qualquer modo de resistência tem seu valor desde que tenha a perspectiva de alternativa do poder. Contrariamente, as reações desordenadas ou negociações desconexas somente servem para fortalecer o processo de exploração.
O governo, depois de criar as condições que tornam uma aventura os pagamentos e nos levam à falência, foi em frente com seu plano pre-arquitetado para apoiar uma maquinação da União Européia e do FMI, criada numa seqüência de incoerências, o que permitiu ao FMI, de maneira profunda, aparecer perante a Europa como um auto-proclamado “salvador dos povos”.
As estimativas sobre uma ruína iminente de nosso país exageram, de forma exacerbada, a situação e servem como um modo de extorsão.
Desde os primeiros momentos, nós reconhecemos e enfatizamos que a adesão a esses mecanismos será uma realidade. O governo vai encontrar capital para emprestar porque nenhum governo burguês ou contra o povo abandonará a classe burguesa, os empresários do país e não os deixará sem apoio. O governo grego queria criar o quadro ideal para a extorsão, a atmosfera perfeita de pânico e golpe contra o povo grego o faria aceitar, rapidamente, as medidas que já foram decididas há vinte anos atrás.
Por óbvio, a ansiedade do governo no que diz respeito às condições impostas para o empréstimo surgiu diante dos conflitos e contradições reais que não têm nada a ver com o povo. A Grécia se encontrava no meio da tormenta devido ao fato de sua dívida enorme ter sido utilizada por países capitalistas concorrentes da zona do euro e também pelos EUA, Rússia e China. A Grécia chamou a atenção devido a sua posição e ligações com os países do leste da União Européia, Eurásia e até do Extremo Oriente. A Grécia tornou-se o elo mais fraco da zona do euro e para os interesses do capital e, mais amplamente, porque através da Grécia, os países em concorrência, liderados por grandes empresas, podem se associar à peninsula da Europa Ocidental.
Não se trata de uma questão de diferentes interesses entre os respectivos povos. Esses conflitos devem conduzir à unidade de ação dos povos porque, independentemente de qual país ou de qual moeda que estejam em primeiro plano, os povos vão perder e continuar a perder, ao invés de obter, de ganhar novas conquistas econômicas.
No que tange à dívida pública que será negociada mediante empréstimos, combinados com o Pacto de Estabilidade e Desenvolvimento, ou através de uma renegociação que seria tratada internamente, trata-se de um embuste total, é uma desorientação, é uma utopia. Para começar, a dívida não é apenas um assunto da Grécia. Muitos países capitalistas, inclusive os desenvolvidos possuem uma dívida pública sempre crescente. Não se trata de simples capacidade de gerenciamento como querem fazer crer os partidos oportunistas e burgueses.
É um resultado do declínio gradual e de longo prazo da indústria de transformação e da produção agrícola devido aos antagonismos agudos que ocorrem a nivel da União Européia e a nível internacional.
Os ramos industriais de energia e telecomunicações, bem como outros ramos específicos de produção, que se desenvolveram na Grécia, devido as suas limitações, não foram capazes de compensar a recessão na produção como um todo.
A dívida decorre de enormes isenções fiscais dadas às empresas, do financiamento estatal do grande capital, das despesas incomensuráveis com o programa de armamento da NATO, da competição capitalista sob as condições da União Européia, das despesas contraproducentes para os Jogos Olímpicos.
A competitividade e as contradições intra-imperialistas têm conseqüências que levaram a crise a se tornar aguda.
O dólar quer recuperar sua posição que gozava como moeda de reserva mundial. A desvalorização do euro beneficia a Alemanha que é a maior exportadora da Europa durante um periodo em que ela (a Alemanha) está perdendo sua condição de líder mundial de exportação para a China.
Isso tem a ver com os fluxos de capital que levam ao aumento do lucro aleatório através dos chamados produtos de alto risco, ou seja, os prêmios de seguro em obrigações, títulos, do estado. Esse fluxos são substanciais, importantes, mas eles não são propriamente especulativos no sentido estrito do termo e sim fazem parte da lógica do sistema.
Há também a pressão dos capitalistas que querem fazer investimentos diretos na Grécia, mas querem que sejam aprovadas, primeiro, medidas contra o mundo do trabalho, medidas essas que foram aplicadas em toda a parte, mas que aqui, na Grécia, tiveram sua aplicação retardada devido às lutas populares impulsionadas e energicamente travadas pelo Partido Comunista da Grécia. Esses capitalistas querem o fim das profissões fechadas (profissões de autônomos, incluído profissões liberais, muito organizadas*), criando as condições necessárias para dominarem novas esferas de atividade em detrimento das classes médias, nos setores onde os poderosos monopólios ainda não foram capazes de dominar, como na indústria da construção, os transportes, produtos farmacêuticos, etc.
As contradições também se expressam entre capitais americanos, árabes, chineses e russos que se posicionaram na economia grega considerando-o um país intermediário e uma espécie de trampolim para seus ingressos no mercado mundial.
PROPOSTA DO PARTIDO COMUNISTA DA GRÉCIA
A Frente Democrática, Anti-Imperialista, Anti-Monopolista – Poder e Economia Populares
O povo grego tem de escolher entre dois caminhos para o desenvolvimento da nossa sociedade: o caminho que está sendo seguido e aquele outro que precisa ser criado pela luta do povo.
Nós sustentamos, com fatos e provas, que a Grécia, apesar dos danos sérios e destrutivos sofridos em determinados setores devido ao dominio do capital e à concorrência monopolista, na economia agrícola, tem os pré-requisitos indispensáveis para criar e desenvolver uma economia popular auto-suficiente.
A evolução negativa dos últimos 20 anos em certos ramos da produção industrial, na economia agrícola, pode ser tratada e recuperada sob condições diferentes de política econômica e de política social. Ainda não é tarde.
A Grécia tem um nível satisfatório de concentração da produção, de meios de produção, uma extensa rede comercial, e um nível específico de desenvolvimento de tecnologias modernas. Ela tem, atualmente, uma grande e experiente força do trabalho, com um melhor nível educacional e de especialização, se comparada com as gerações passadas, e uma importante e extensa mão-de-obra nos domínios da ciência.
Possui valiosos recursos naturais geradores de riqueza, importantes reservas de riquezas minerais que representam um vantagem na produção industrial e de bens de consumo.
A Grécia tem a grande vantagem de poder garantir o abastecimento de generos alimentícios para poder não só atender às necessidades de sua população, como também as demandas do comércio exterior. Possui a capacidade de produzir produtos modernos, máquinas, ferramentas e equipamentos.
Para que a economia popular possa existir para todos, nós precisamos encontrar uma solução para o problema da propriedade, visando satisfazer as necessidades da população e não às necessidades do lucro.
A escolha é única: uma mudança nas relações sociais de propriedade, historicamente ultrapassadas, que determinam o sistema politico, como também no que concerne os meios de produção e concentrados nas seguintes áreas: energia, telecomunicações, riqueza mineral, mineração, indústria, abastecimento e distribuição de água, transportes.
A socialização do sistema bancário, do sistema de extração, transporte e gestão dos recursos naturais; comércio exterior, uma rede centralizada de comércio interno; construção de casas para a população, pesquisa e o provisionamento democratico de informações para o povo.
Um sistema exclusivamente público, livre e universal, de educação, saúde, de bem estar e seguridade sociais.
Nós estimamos que certas áreas não serão incluídas numa socialização completa, nacional e universalizada. Complementando o setor socializado, poderá se formar um setor de cooperativas de produção em nível de pequena agrícultura, em ramos de pequenos negócios onde a concentração tenha um nível baixo. A sua participção nas cooperativas deverá ser entendida como uma escolha benéfica, baseada na experiência adquirida na area dos monopolies.
A socialização, bem como o setor de cooperativas, da produção, distribuição e consumo devem, como um todo, estar incluídas num organismo nacional de administração e planejamento econômicos de modo que todos os meios de produção e da força do trabalho possam ser mobilizados e também que toda forma possível de cooperação econômica internacional possa ser usada com base no benefício mútuo. A produção nacional e os interesses dos trabalhadores serão protegidos de toda e qualquer repercussão que possa surgir das necessidades do comércio exterior.
O planejamento central é necessário para que se formulem as escolhas e os objetivos estratégicos, para priorizar setores e ramos da produção, para determinar aonde nossas forças e nossos meios deverão ser concentrados. A materialização desse planificação necessita uma distribuição por ramo e por setor e, antes de mais nada, do controle administrativo dos trabalhadores em cada unidade de produção ou de service, em cada organism administrative.
O governo, como um organismo do poder popular, será obrigado a assegurar a participação do povo nessa tarefa, completamente nova e totalmente desconhecida, para apoiar o movimento popular, sustentá-lo e ser por ele monitorado através de novas instituições de controle social dos trabalhadores.
O desenvolvimento da sociedade, através de uma planificação centralizada, é uma necessidade que decorre das exigências de nosso tempo, antes de tudo de demandas da humanidade que é a principal força produtiva. A necessidade de satisfazer as amplas demandas modernas do povo trabalhador, a necessidade de desenvolver os meios de produção, de desenvolver a ciência e a tecnologia em benefício das pessoas, tornam a planificação central uma necessidade vital.
O poder popular encoraja os acordos comerciais e de intercâmbio entre estados, para a utilização de conhecimentos tecnicológicos com base no interesse mútuo.
A dívida pública sera reavaliada, sob o poder popular, tendo como critério principal o interesse do povo.
Desde o seu surgimento, o poder popular terá de confrontar-se com uma reação organizada, doméstica e internacionalmente. A União Européia e a NATO, os acordos com os EUA, não deixam muito espaço para manobra aos países membros da União Européia.
A solução deste problema pela saída da Grécia da União Européia é inevitável, tendo como objetivo um desenvolvimento autônomo, popular e uma cooperação que seja feita no interesse do povo.
É necessário intensificar nossas atividades com base na luta contra esses problemas.
. Lutamos incessantemente para que os trabalhadores tenham conquistas imediatas e continuaremos nessa luta para que medidas possam ser impostas pela força do movimento, medidas essas que diminuirão a gravidade de nossos problemas atuais e consistirão em um alívio para o povo.
Nós desenvolvemos as posições e as reivindicações para cada problema e questões isoladas que surgiram. No entanto, isto não é o suficiente hoje; um proposta alternativa de progresso é necessária para que a luta tenha um objetivo, uma meta, um sentido, e, finalmente, para que possa exercer um pressão suplementar em cada fase da luta.
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(Traduzido da versão em inglês) (*) notas do tradutor Tradução: Humberto Carvalho, militante do Partido Comunista Brasileiro – PCB.
terça-feira, 22 de junho de 2010
"Instruções para um intercâmbio sobre o conflito colombiano"
Postado por Attman
Escrito por FARC-EP
Junho de 2010
Primeira Parte:
Primeiro: Nós sempre acreditamos numa saída política para o conflito. Mesmo antes da agressão à Marquetalia e durante estes 46 anos, nós temos expressado esse posicionamento, reiterado e lutado por ele.
Segundo: Nós não somos instigadores da guerra, nem lutamos por vinganças pessoais. Não temos patrimônios materiais nem privilégios para defender. Somos revolucionários compremetidos com a consciência e, sempre, com a busca de uma sociedade justa e soberana. Somos profundamente humanistas, desprovidos de qualquer interesse pessoal e mesquinho. Amamos nossa pátria acima de tudo e somos obrigados a continuar a guerra contra uma classe dirigente que se ajoelha aos pés do império. Uma classe que utiliza, sistematicamente, a violência e o atentado pessoal como arma política para sustentar-se no poder. Isso ocorre desde quando tentou assassinar o Libertador Simón Bolívar, até os dias de hoje, em que pratica o Terrorismo de Estado para manter seu status quo.
Terceiro: A maior dificuldade que a Colômbia vem enfrentando para alcançar a reconciliação através do diálogo e dos acordos, é a concepção de paz oligárquica defendida pelo regime. Tal concepção só aceita a paz se existir a submissão absoluta da insurgência à chamada “ordem estabelecida” ou, como alternativa, à “paz dos cemitérios”.
Quatro: Não lutamos a vida toda contra um regime excludente e violento, corrupto, injusto e anti-patriota, para agora, sem mudanças em sua estrutura, retornar a ele.
Cinco: Na Colômbia, muitas pessoas boas e capazes, que queriam um país melhor e lutaram pelas vias pacíficas, como Jaime Pardo Leal, Bernardo Jaramillo, Manuel Cepeda e outros, foram assassinadas de forma premeditada, vil e impune pelos serviços de inteligência do Estado em aliança com os paramilitares e as máfias. Foram assassinados por inimigos do povo, em um genocídio sem precedentes, que liquidou fisicamente todo um movimento político dinâmico e em pleno crescimento: a UNIÃO PATRIÓTICA
Por conta dessa estratégia do Terrorismo de Estado, as buscas por soluções políticas fracassaram nos governos de Uribe, Belisario Betancur e Virgilio Barco e, em Caracas e México, durante o governo de César Gaviria.
Sexto: Em El Caguán, como foi reconhecido em seu livro e nas declarações públicas do presidente Pastrana, o regime só buscava ganhar tempo para recompor a desanimada força militar do estado com um cronograma, diretrizes, instruções e financiamento da Casa Branca. Tudo isso integrado no Plano Colômbia e imposto pela administração de Bill Clinton, com o objetivo de abortar uma saída política e democrática ao conflito colombiano, dando início a sua campanha para reverter as mudanças progressistas que avançavam no continente. O satanizado processo de Caguán, estava condenado ao fracasso antes mesmo de começar. A afirmativa foi corroborada pelo ex-presidente Pastrana, pois seu governo jamais buscou render-se ao caminho da paz, fortalecendo e refinando seu aparato de dominação, dando continuidade à guerra.
Sétimo: Estes antecedentes não invalidam as possibilidades de uma solução política ao conflito colombiano. Ao contrário. Evidenciam a quase nula intenção da classe dirigente colombiana de ceder em sua truculência e intolerância, frente às outras correntes ou opções políticas de oposição que questionam seu regime político e seu alinhamento internacional incondicional a favor dos interesses imperialistas dos Estados Unidos, quebrando a nossa soberania e contrariando os mais caros e sentidos interesses da nação e da pátria.
Sua concepção sobre o exercício do poder está assinada e sustentada pela violência, a corrupção e a expoliação. Isso torna muito difícil uma saída pacífica que, de todas as maneiras, continuará sendo bandeira das FARC-EP e, seguramente, dos amplos setores do povo que sentem os efeitos da hegemonia oligárquica.
Oitavo: Os interesses dos distintos setores sociais estão se confrontando permanentemente. Em ocasiões e por períodos definidos, a oligarquia exerce sua ditadura a fundo, sem respostas contundentes sobre a prisão, repressão, guerra suja e desqualificação que se desenvolve a partir do Estado de diferentes maneiras. Em outros momentos, as respostas são importantes, porém não suficientes. No entanto, ao longo de uma acumulação de fatores sociais excessivos, a resposta popular é contundente. Entendemos que os interesses dos diferentes setores em uma sociedade com a nossa, estão em permanente choque e movimento, nunca paralisados. Por isso, falar na Colômbia de hoje, do pós-conflito, é propaganda.
Nono: Esta reflexão é pertinente, posto que as causas geradoras do levante armado em nosso país existem mais vivas e pujantes que há 46 anos. Dessa forma, se queremos construir um futuro certo de convivência democrática, isso exige maiores esforços, desprendimento, compromisso, generosidade e imaginação realista para atacar a raíz dos problemas e não as consequências dos mesmos.
Décimo: Ao longo de 12 anos de ofensiva total contra as FARC-EP, por parte do governo dos Estados Unidos e do Estado colombiano, os assassinatos oficiais, verdadeiros crimes de lesa humanidade (falsos positivos), o terror crescente da nova máscara do narco-paramilitarismo (denominada facções criminosas), a asquerosa truculência do presidente em manter-se no poder com farsas, a invencível corrupção da administração e da empresa privada que, em troca dessa mesma corrupção e de milhonários tributos, apoia o governo, a absurda invasão do exército estrangeiro à Colômbia e o aumento da injustiça social com alto desemprego, sem saúde para as maiorias, com um altíssimo índice de desalojamentos internos, com um ridículo salário mínimo em oposição aos enormes lucros de banqueiros, fazendeiros e empresas multinacionais, que seguem castrando com uma reforma trabalhista as conquistas salariais mais antigas dos trabalhadores do campo e das cidades, tudo o que conseguiram foi enriquecer ainda mais o terreno para o crescimento da insurgência revolucionária.
Segunda Parte:
1. O conflito armado colombiano possui profundas raízes históricas, sociais e políticas. Não foi invenção de nenhum demagogo, produto de ânimos sectários, nem consequência de alguma especulação teórica. Foi o resultado e a resposta às formas de dominação específicas, impostas pelas classes governantes desde as origens do Estado – nação cujo fundamento vem sendo a sistemática violência terrorista e anti-popular, propiciada pelo estado ao longo dos últimos 60 anos.
2. Superá-lo, pelas vias pacíficas, supõe que, preliminarmente, exista total disposição para abordar os temas do poder e do regime político, já que a decisão é encontrar soluções sólidas e perduráveis.
3. Expomos a necessidade de conversar, a princípio, para alcançar acordos de troca, o que permitirá não somente a liberdade de prisioneiros de guerra de ambos os lados, mas também avançar na humanização do conflito e, seguramente, fortalecer o caminho para os acordos definitivos.
4. Conversar, buscar conjuntamente soluções aos grandes problemas do país, não deve ser considerado como concessão de ninguém, mas sim como um cenário realista e possível para tentar, mais uma vez, deter a guerra entre os colombianos a partir da civilidade dos diálogos.
5. Reunir-se para conversar sobre as trocas e soluções políticas supõe plenas garantias para fazê-lo livres de toda pressão. Para isso, é necessário compreender que quem as pode outorgar é, exclusivamente, o governo em exercício, caso possua a vontade de encontrar caminhos de diálogo.
6. Nossa histórica e permanente disposição para encontrar cenários de confluência através do diálogo e a busca coletiva de acordos de convivência democrática não dependem de uma conjuntura especial ou da correlação de forças políticas. É simplesmente parte de nosso programa político.
7. Durante os últimos 45 anos temos sido objeto de toda a sorte de ofensivas políticas, propagandísticas, militares, com presença aberta ou escamoteada do Pentágono. Com toda sorte de ultimatos e ameaças de autoridades civis e militares, vivemos sob uma permanente agressão terrorista sobre a população civil das áreas onde operamos. Tais ações não enfraqueceram nem um pouco nossa decisão e disposição de lutar, através dos meios que nos sobram, por uma Colômbia soberana, democrática e com justiça social.
8. Compreendemos os diálogos pela busca de caminhos para a paz, não como uma negociação. Trata-se de um enorme esforço coletivo para chegar a acordos que possibilitem atacar as raízes que originam o conflito colombiano.
Terceira Parte:
Nós, as FARC, somos uma resposta à violência e à injustiça do Estado. Nossa insurgência é um ato legítimo, um exercício do direito universal que assiste a todos os povos do mundo de rebelar-se contra a opressão. Com nossos libertadores, aprendemos que “quando o poder é opressor, a virtude tem direito de anulá-lo”, e que, “o homem social pode conspirar contra toda lei positiva que tenha encurvada sua cervical”.
Tal como proclama o Programa Agrário dos Guerrilheiros, as FARC “são uma organização político-militar que defende as bandeiras bolivarianas e as tradicionais bandeiras libertárias de nosso povo para lutar pelo poder, levar a Colômbia ao exercício pleno de sua soberania nacional e fazer vigente a soberania popular. Lutamos pelo estabelecimento de um regime democrático que garanta a paz com justiça social, o respeito dos direitos humanos e um desenvolvimento econômico com bem-estar para todos que vivem na Colômbia”.
Uma organização com estes objetivos, que busca a concretização do projeto político e social do pai da República, o Libertador Simón Bolívar, irradia em sua tática e estratégia um caráter eminentemente político, impossível de refutar. Somente o governo de Bogotá, que atua como colônia de Washington, nega o caráter político do conflito. O faz dentro do marco de sua estratégia de guerra sem fim para negar a saída política que é exigida por mais de 70% da população. Com isso, pretende impôr uma anti-patriótica concepção de segurança inversionista, idealizada pelos estrategistas do Comando Sul do exército dos Estados Unidos, que relega a plano secundário a dignidade da nação.
Para o governo de Uribe, na Colômbia não existe um conflito político-social, mas sim uma guerra do Estado contra o terrorismo. Com esse pressuposto, complementado com a mais intensa manipulação informativa, cria-se uma justificativa para desatar seu terrorismo de Estado contra a população, negando a solução política e o direito à paz.
Agora que a Colômbia é um país formalmente invadido, ocupado militarmente por tropas norte-americanas, essa absurda percepção será fortalecida, provocando a agudização do conflito.Uribe não está instruído por seus senhores de Washington nem para a troca humanitária nem para a paz.
O presidente da Colômbia cria fantasmas para justificar sua imobilidade frente ao tema da troca de prisioneiros. Afirma que o acordo implica um reconhecimento do caráter de força beligerante do adversário e que a liberação de guerrilheiros provocaria maior desmoralização das tropas... Essa é a sua forma de compreender o assunto. Esta intransigência desnecessária do governo vem sendo a causa fundamental do prolongamento do cativeiro dos prisioneiros de ambas as partes. Quando Bolívar firmou o armistício com Morillo, em novembro de 1820, propôs ao general espanhol aproveitar a vontade de entendimento reinante para acordar um tratado de regularização da guerra, “conforme as leis da nações cultas e aos pricípios liberais e filantrópicos”. Sua iniciativa foi aceita, ocorrendo a troca de prisioneiros, a recuperação dos corpos dos caídos em combate, e o respeito à população civil não combatente. Quão distante está Uribe destes imperativos éticos de humanidade...
Sem dúvida, Uribe associa a solução política do conflito com o fracasso e a inutilidade de sua Doutrina de Segurança Nacional e com o fim melancólico de sua condução guerrerista de esmagar mediante as armas, a crescente inconformação social. Parece um soldado japonês da Segunda Guerra Mundial perdido numa ilha, disparando contra inimigos imaginários em meio a sua loucura.
Aos participantes deste debate sobre o conflito colombiano, reiteramos o exposto recentemente aos presidentes da UNASUR e da ALBA:
“…Com um Uribe imbuído no frenesi da guerra e fortalecido com as bases norte-americanas, não haverá paz na Colômbia nem estabilidade na região. Se não se freia o guerrerismo – agora repotenciado –, se aumentará em proporção dantesca o drama humanitário da Colômbia. É agora que Nossa América e o mundo voltam seus olhos sobre este país violentado pelo poder. Não se pode condenar eternamente a Colômbia a ser o país dos 'falsos positivos', do assassinato de milhares de civis não combatentes pela Força Pública, dos cemitérios clandestinos, do despojo de terras, da expulsão de milhares de camponeses de suas terras, das prisões em massa de cidadãos, da tirania e da impunidade dos criminosos amparados pelo Estado”.
Solicitamos aos assistentes deste evento interceder, através de seus bons ofícios, promovendo, como um princípio de solução política do conflito, o reconhecimento do status de força beligerante às FARC. Seria o começo da marcha da Colômbia para a paz. Se vamos falar de paz, as tropas norte-americanas devem sair do país e o senhor Uribe abandonar sua campanha goebbeliana de qualificar de terrorista as FARC. De nossa parte, estamos prontos para assumir a discussão em torno da organização do Estado, da economia, da política social e da doutrina que há de guiar as novas Forças Armadas da nação.
Atenciosamente, compatriotas, Secretariado do Estado Maior Central das FARC.
Montañas de Colombia
Tradução: Maria Fernanda M. Scelza
domingo, 20 de junho de 2010
"Prazer e dor"
Postado por Kamadon
Trecho retirado do livro "Senhor da Yoga e da Mente" de Ernesto Bono, pg.220 e 221 (obs. os parênteses são do autor)
... 43) " A causa de meu prazer e dor não é este corpo, nem o Atman (Alma Suprema), nem são os devas, os planetas, o trabalho, ou o tempo. Dizem os Vedas que a causa disso é a ignorância-pensamento, a qual põe em movimento o ciclo das transmigraçoes.
44) È a incrível mente personificada que cria o desejo e tudo o mais. Dela provém as ações ´sattvicas*, rajásicas* e tamásicas*, e as consequências destas ações intencionais são as que conduzem ao nascimento correspondente.
23)* A ação sáttivica é a recomendada pelas escrituras, é a que se cumpre sem apego, nem atração, repulsão ou ânsia pelos frutos>
24)* A ação rajásicas é praticada desejando-se o fruto, geralmente por ostentação, egoísmo e com muito esforço.
25) * A ação tamásica se pratica de forma alucinada, sem se observar a capacidade (posta em prática), as consequências, as perdas e o dano que possa causar.(* foram retirados do livro na pag. 109)
"(51) Se o corpo pensante-pensado fosse a causa do prazer e da dor, então o Atman (Alma Absoluta) não teria nada que ver com isso, porque os corpos, sejam densos ou sutis, parecem ter uma natureza psicofísica. Se nós mesmos nos mordemos a língua, por descuido próprio, por que deveríamos nos irritar contra alguém por causa da dor?
52) Se os devas (que presidem a função dos diferentes órgãos) fossem causa de dor, o Atman nada teria que ver com isso. Tal dor só diria respeito aos devas (ou seja, Agni, Indra etc.); eles somente seriam afetados pela dor. Se determinado membro do corpo chega a ser batido e machucado por outro membro, com que parte de seu próprio corpo um homem terá que aborrecer?
53) Mas, se o Atman fosse a causa do prazere da dor, nesse caso, nunca nos aconteceria algo por causa de um agente externo ou estranho. Esse prazer ou dor seria da mesma essência do Atman, porquanto nada existe além do Atman (ou Alma Absoluta). E se algo mais, além do Atman, parecesse vir à existência esse algo mais só poderia ser fictício. Assim são o prazer e a dor.
Por isso, com quem teríamos que nos aborrecer, se o prazer e a dor não existem (como qualidades absolutas)?
54) E se os astros fossem as causas do prazer e da dor, então o Atman, sem nascimento, nada teria a ver com isso, porque os astros mal conseguem influenciar o corpo. Além do mais, diz-se que um astro influencia contrariamente outro. Ora, o Atman difere tantos dos astros como do corpo. Se assim é, com quem o homem vai se aborrecer?
55) E se a ação intencional é a causa do prazer e da dor, como tal ação poderia afetar o Atman? O cumprimento da ação intencional só é possível através de um suposto ente que seja ao mesmo tempo sensível e insensível. (O ego parece ser sensível, porque 'rouba restos e caducidades' do Sentir-original, mas é insensível, poque quando se dá a experiência dolorosa, como retribuição de determinados atos intencionais nefastos por ele próprio desencadeados, ele foge e deixa o corpo que nunca lhe pertenceu com sua própria dor e desespero.) Sem a intenção, nenhuma ação é possível; e o corpo, que é psicofisicalidade, mal sofre as alterações da ação. Todavia, o corpo puramente pensado é insensível, e o Atman, de seu lado, é Inteligência pura e não intenção. De forma que a Inteligência pura não pode ser a causa do prazer e da dor. Se assim é, com quem o homem vai se aborrecer?
56) E se o Instante (tempo) fosse causa do prazer e e da dor, como poderia ele afetar o Atman? Sim, porque o Instante é UNO com o Atman.
Ora, é claramente sabido que uma chama não pode ser afetada pelo fogo, nem o granizo pelo frio.
57) Este Atman, este Absoluto, que está além da 'prakriti' (ou além da psicofisicalidade), jamais sofre alterações ocasionadas pelos pares de opostos, tal como acontece com o ego, que engendra para sí a existência relativa. Um Homem Iluminado nunca tem medo do suposto mundo materail."
58) (E o brâmane "sannyasin" concluiu:) "Por causa disso, continuarei praticando a devoção ao SER Supremo, no qual tomo refúgio, como fizeram os sábios de outrora. E, adorando somente os pés do Senhor talvez consiga cruzar incólume a grande e ilimitada selva da ignorância."
Trecho retirado do livro "Senhor da Yoga e da Mente" de Ernesto Bono, pg.220 e 221 (obs. os parênteses são do autor)
... 43) " A causa de meu prazer e dor não é este corpo, nem o Atman (Alma Suprema), nem são os devas, os planetas, o trabalho, ou o tempo. Dizem os Vedas que a causa disso é a ignorância-pensamento, a qual põe em movimento o ciclo das transmigraçoes.
44) È a incrível mente personificada que cria o desejo e tudo o mais. Dela provém as ações ´sattvicas*, rajásicas* e tamásicas*, e as consequências destas ações intencionais são as que conduzem ao nascimento correspondente.
23)* A ação sáttivica é a recomendada pelas escrituras, é a que se cumpre sem apego, nem atração, repulsão ou ânsia pelos frutos>
24)* A ação rajásicas é praticada desejando-se o fruto, geralmente por ostentação, egoísmo e com muito esforço.
25) * A ação tamásica se pratica de forma alucinada, sem se observar a capacidade (posta em prática), as consequências, as perdas e o dano que possa causar.(* foram retirados do livro na pag. 109)
"(51) Se o corpo pensante-pensado fosse a causa do prazer e da dor, então o Atman (Alma Absoluta) não teria nada que ver com isso, porque os corpos, sejam densos ou sutis, parecem ter uma natureza psicofísica. Se nós mesmos nos mordemos a língua, por descuido próprio, por que deveríamos nos irritar contra alguém por causa da dor?
52) Se os devas (que presidem a função dos diferentes órgãos) fossem causa de dor, o Atman nada teria que ver com isso. Tal dor só diria respeito aos devas (ou seja, Agni, Indra etc.); eles somente seriam afetados pela dor. Se determinado membro do corpo chega a ser batido e machucado por outro membro, com que parte de seu próprio corpo um homem terá que aborrecer?
53) Mas, se o Atman fosse a causa do prazere da dor, nesse caso, nunca nos aconteceria algo por causa de um agente externo ou estranho. Esse prazer ou dor seria da mesma essência do Atman, porquanto nada existe além do Atman (ou Alma Absoluta). E se algo mais, além do Atman, parecesse vir à existência esse algo mais só poderia ser fictício. Assim são o prazer e a dor.
Por isso, com quem teríamos que nos aborrecer, se o prazer e a dor não existem (como qualidades absolutas)?
54) E se os astros fossem as causas do prazer e da dor, então o Atman, sem nascimento, nada teria a ver com isso, porque os astros mal conseguem influenciar o corpo. Além do mais, diz-se que um astro influencia contrariamente outro. Ora, o Atman difere tantos dos astros como do corpo. Se assim é, com quem o homem vai se aborrecer?
55) E se a ação intencional é a causa do prazer e da dor, como tal ação poderia afetar o Atman? O cumprimento da ação intencional só é possível através de um suposto ente que seja ao mesmo tempo sensível e insensível. (O ego parece ser sensível, porque 'rouba restos e caducidades' do Sentir-original, mas é insensível, poque quando se dá a experiência dolorosa, como retribuição de determinados atos intencionais nefastos por ele próprio desencadeados, ele foge e deixa o corpo que nunca lhe pertenceu com sua própria dor e desespero.) Sem a intenção, nenhuma ação é possível; e o corpo, que é psicofisicalidade, mal sofre as alterações da ação. Todavia, o corpo puramente pensado é insensível, e o Atman, de seu lado, é Inteligência pura e não intenção. De forma que a Inteligência pura não pode ser a causa do prazer e da dor. Se assim é, com quem o homem vai se aborrecer?
56) E se o Instante (tempo) fosse causa do prazer e e da dor, como poderia ele afetar o Atman? Sim, porque o Instante é UNO com o Atman.
Ora, é claramente sabido que uma chama não pode ser afetada pelo fogo, nem o granizo pelo frio.
57) Este Atman, este Absoluto, que está além da 'prakriti' (ou além da psicofisicalidade), jamais sofre alterações ocasionadas pelos pares de opostos, tal como acontece com o ego, que engendra para sí a existência relativa. Um Homem Iluminado nunca tem medo do suposto mundo materail."
58) (E o brâmane "sannyasin" concluiu:) "Por causa disso, continuarei praticando a devoção ao SER Supremo, no qual tomo refúgio, como fizeram os sábios de outrora. E, adorando somente os pés do Senhor talvez consiga cruzar incólume a grande e ilimitada selva da ignorância."
MENINO ACREDITA SER REENCARNAÇÃO DE PILOTO DA 2ª GUERRA
Postado por Kamadon
Numa família do estado americano da Lousiana, a reencarnação não é uma possibilidade, mas uma certeza.
Os Leiningers acreditam que o filho do casal, James, hoje com 11 anos, é a reencarnação de um piloto de avião de combate que participou da II Guerra Mundial.
De acordo com a família, desde os 2 anos de idade James começou a vivenciar lembranças que seriam do tenente James McCready Houston, que tinha 21 anos na época do conflito. Ele foi abatido em 1945 na batalha de Iwo Jima.
Segundo o menino, que sempre teve um interesse extraordinário por aviões, ele começou a ter flashbacks depois de visitar o Museu de Aviões Kavanaugh, em Dallas, no Texas. Alguns meses depois da visita, James começou a ter pesadelos com a queda de um avião e fogo. E gritava que o piloto não conseguia deixar a aeronave.
Mais tarde, quando o pequeno James tinha apenas dois anos e meio de idade, ele e a mãe foram comprar um brinquedo. Um avião, claro. A mãe, Andrea, pegou um modelo e lhe disse que na parte inferiro havia uma bomba. Para surpresa da mãe, o menino então afirmou que não era uma bomba, mas um pequeno tanque. A família nunca teve militares entre os seus e, até então, nenhuma ligação com aviões.
Os pesadelos passaram, mas não as memórias. Numa outra ocasião, o menino estava com ar distante e a mãe perguntou o que tinha acontecido com o avião dele. James respondeu que tinha sido abatido. Onde, perguntou ela. Na água, respondeu. E ele disse que tinham sido os japoneses. Segundo a mãe, ele não poderia saber nada sobre a ação japonesa na guerra.
O menino seguiu dando indicações sobre uma vida anterior. Quando a mãe serviu bolo de carne, que ele nunca tinha visto ou comido, disse que não comia aquele prato desde Natoma. O menino ainda disse que se chamava James Houston e citou o nome de um colega de tropa.
O pai do garoto, Bruce, começou a pesquisar e descobriu o nome de uma embarcação chamada Natoma Bay, que lutou na batalha de Iwo Jima. Um de seus tripulantes era James Houston. Bruce também descobriu que o avião de Houston foi abatido pelos japoneses em 3 de março de 1945.
Os Leiningers encontraram uma parente e conhecidos de James McCready Houston. E passaram a não ter mais dúvidas de que o menino é a reencarnação do piloto James. Tanto que escreveram o livro “Soul Survivor: The Reincarnation of a World War II Fighter Pilot", algo como "A alma sobrevivente: A reencarnação de um piloto de combate da II Guerra Mundial".
O caso foi tema do programa Goodmorning America, do canal americano de TV ABC.
Donwload do livro:
http://www.scribd.com/doc/25065278/Bruce-e-Andrea-Leininger-Com-Ken-Gross-A-Volta-Rev-PDF
Pensamento do dia 20 de Junho - "Vida divina"
Postado por Kamadon
"Não se contentem mais em olhar passivamente a natureza admirando as suas
belezas. Percebam que, com o seu pensamento e o seu amor, vocês podem fazer
um trabalho a fim de que ela se abra para vocês. Quando se aproximarem de um
rio, de um lago, de uma floresta, de uma montanha, parem por um instante e
façam um aceno com a mão. Sentirão que internamente algo se equilibra, se
harmoniza... E muitas obscuridades e pesos os abandonarão, simplesmente
porque decidiram cumprimentar a natureza viva e as criaturas que a habitam.
Basta tocar uma pedra com amor: alguma coisa na pedra os aceita e vibra em
uníssono com vocês; ela também os ama.
Mas sim, tudo é vivo na natureza, e cabe a vocês saber o que devem fazer
para que isso se torne uma realidade para vocês. No dia em que souberem
manter uma relação consciente com a Criação, não sentirão mais sozinhos,
pobres, pois a vida divina virá cobri-los com as suas bênçãos."
"Não se contentem mais em olhar passivamente a natureza admirando as suas
belezas. Percebam que, com o seu pensamento e o seu amor, vocês podem fazer
um trabalho a fim de que ela se abra para vocês. Quando se aproximarem de um
rio, de um lago, de uma floresta, de uma montanha, parem por um instante e
façam um aceno com a mão. Sentirão que internamente algo se equilibra, se
harmoniza... E muitas obscuridades e pesos os abandonarão, simplesmente
porque decidiram cumprimentar a natureza viva e as criaturas que a habitam.
Basta tocar uma pedra com amor: alguma coisa na pedra os aceita e vibra em
uníssono com vocês; ela também os ama.
Mas sim, tudo é vivo na natureza, e cabe a vocês saber o que devem fazer
para que isso se torne uma realidade para vocês. No dia em que souberem
manter uma relação consciente com a Criação, não sentirão mais sozinhos,
pobres, pois a vida divina virá cobri-los com as suas bênçãos."
"TIPOS DE CIVILIZAÇÕES"
Postado por Kamadon
Tipos de civilizações no universo
Possíveis tipos de civilizações no Cosmos segundo Freeman Dyson e Nikolai Kardashev
Tipo 0- utiliza primitivos métodos de produção de energia, baseados na queima de combustíveis fósseis, nucleares e alternativos. Ainda manteria estruturas segmentadas de cultura, religião e política. Não conseguiu se livrar ainda de conflitos raciais, preconceitos, guerras. Este tipo chegará na iminência de se auto-destruir antes de chegar ao tipo 1. A Terra está no tipo 0, mas per,to de se tornar tipo 1, se a humanidade sobreviver.
Tipo 1- Nesse estágio, já teria dominado todas as formas de energia de seu planeta natal. Entre seus feitos, teria modificado o clima, faria mineração nos oceanos e/ou extrai energia do núcleo de seu,planeta e faria mineração em sua(s) lua(s), se tiver.
Grande parte dos conflitos de ideologias, religiões, raças e etnias, egos já estariam superados.
Tipo 2- Nesse estágio, já teria esgotado os recursos energéticos de seu planeta natal. Já teria co,meçado a colonização de outros planetas e luas de seu sistema estelar,e extrai energia de sua estrela. Estaria iniciando a expansão para fora, exploração e colonização de sistemas estelares próximos.
Tipo 3- Nesse estágio, já esgotou a produção de ener,gia de uma única estrela, precisa chegar a sistemas estelares e aglomerados, entrando na classificação de cultura galáctica.
Tipo 4- Nesse estágio, pode manipular inimagináveis quantidades de energia, muitas vezes diretamente de núcleos de galáxias, q,uasares e buracos negros, sempre para obter energia. E o contínuo espaço-tempo. Também pode alargar, controlar e dominar os Wormholes (Buracos de Vermes), que servem de portais inter-dimensionais (tipo Stargate).
Fonte: http://br.octopop. com/Comunidade_ -Ufologia- _8597_-Tipos- de-civilizacoes- no-universo- _17698195. html.
Pela classificação dos citados cientistas acima,A civilização terráquea esta no nível "0",será que teremos a oportunidade de atingir outros níveis?O mundo está em um estado eminente de guerra, no decorrer dos anos pode estourar uma terceira guerra mundial que, ou poderá destruir totalmente a humanidade ou somente poucos milhões sobreviveram, e desses poucos milhões poderia a civilização subir para outros níveis.Muitos especialistas dizem que a civilização não durará cem anos,será que é verdade?
Eu acredito que uma mudança assim é até necessária,para que se acabe com muitas coisas erradas que existe na atual sociedade como fanatísmos tanto religiosos,polí ticos,cientí ficos e filosóficos, preconceitos de diversas espécies,ódio e desavenças,fronteira s e guerras, eu creio que quando atingirmos o nível 4 seremos uma sociedade perfeita,mas, para isto devemos passar por profundas transformações, nem que sejam através da dor e morte, o mundo e a humanidade necessita urgente melhorar e evoluir,talvez uma terceira guerra mundial seja uma boa opção.Não sei se concordam!
Tipos de civilizações no universo
Possíveis tipos de civilizações no Cosmos segundo Freeman Dyson e Nikolai Kardashev
Tipo 0- utiliza primitivos métodos de produção de energia, baseados na queima de combustíveis fósseis, nucleares e alternativos. Ainda manteria estruturas segmentadas de cultura, religião e política. Não conseguiu se livrar ainda de conflitos raciais, preconceitos, guerras. Este tipo chegará na iminência de se auto-destruir antes de chegar ao tipo 1. A Terra está no tipo 0, mas per,to de se tornar tipo 1, se a humanidade sobreviver.
Tipo 1- Nesse estágio, já teria dominado todas as formas de energia de seu planeta natal. Entre seus feitos, teria modificado o clima, faria mineração nos oceanos e/ou extrai energia do núcleo de seu,planeta e faria mineração em sua(s) lua(s), se tiver.
Grande parte dos conflitos de ideologias, religiões, raças e etnias, egos já estariam superados.
Tipo 2- Nesse estágio, já teria esgotado os recursos energéticos de seu planeta natal. Já teria co,meçado a colonização de outros planetas e luas de seu sistema estelar,e extrai energia de sua estrela. Estaria iniciando a expansão para fora, exploração e colonização de sistemas estelares próximos.
Tipo 3- Nesse estágio, já esgotou a produção de ener,gia de uma única estrela, precisa chegar a sistemas estelares e aglomerados, entrando na classificação de cultura galáctica.
Tipo 4- Nesse estágio, pode manipular inimagináveis quantidades de energia, muitas vezes diretamente de núcleos de galáxias, q,uasares e buracos negros, sempre para obter energia. E o contínuo espaço-tempo. Também pode alargar, controlar e dominar os Wormholes (Buracos de Vermes), que servem de portais inter-dimensionais (tipo Stargate).
Fonte: http://br.octopop. com/Comunidade_ -Ufologia- _8597_-Tipos- de-civilizacoes- no-universo- _17698195. html.
Pela classificação dos citados cientistas acima,A civilização terráquea esta no nível "0",será que teremos a oportunidade de atingir outros níveis?O mundo está em um estado eminente de guerra, no decorrer dos anos pode estourar uma terceira guerra mundial que, ou poderá destruir totalmente a humanidade ou somente poucos milhões sobreviveram, e desses poucos milhões poderia a civilização subir para outros níveis.Muitos especialistas dizem que a civilização não durará cem anos,será que é verdade?
Eu acredito que uma mudança assim é até necessária,para que se acabe com muitas coisas erradas que existe na atual sociedade como fanatísmos tanto religiosos,polí ticos,cientí ficos e filosóficos, preconceitos de diversas espécies,ódio e desavenças,fronteira s e guerras, eu creio que quando atingirmos o nível 4 seremos uma sociedade perfeita,mas, para isto devemos passar por profundas transformações, nem que sejam através da dor e morte, o mundo e a humanidade necessita urgente melhorar e evoluir,talvez uma terceira guerra mundial seja uma boa opção.Não sei se concordam!
Pensamento - Príncipes e princesas de Deus
Postado por Kamadon
"Não sejam tão indiferentes e negligentes em relação aos seres que os
rodeiam. Aprendam a considerá-los com um sentimento sagrado e, por trás da
sua aparência, por trás da forma do seu corpo ou do seu rosto, vocês
descobrirão a sua alma e o seu espírito, que são filha e filho de Deus. Se
souberem se deter na sua alma e no seu espírito, todas as criaturas que
vocês negligenciaram e desprezaram parecerão extremamente preciosas. O
próprio Ceu, que as enviou à Terra sob esse revestimento, as considera como
tesouros, como receptáculos da Divindade.
Então, de todas as pessoas que encontrarem, não se detenham no aspecto
físico, no patrimônio, na situação, na instrução, mas vejam a alma e o
espírito. Pensem que mesmo aqueles que rodam por aí como mendigos ou
vagabundos, são príncipes e princesas aos olhos de Deus que os criou."
"Não sejam tão indiferentes e negligentes em relação aos seres que os
rodeiam. Aprendam a considerá-los com um sentimento sagrado e, por trás da
sua aparência, por trás da forma do seu corpo ou do seu rosto, vocês
descobrirão a sua alma e o seu espírito, que são filha e filho de Deus. Se
souberem se deter na sua alma e no seu espírito, todas as criaturas que
vocês negligenciaram e desprezaram parecerão extremamente preciosas. O
próprio Ceu, que as enviou à Terra sob esse revestimento, as considera como
tesouros, como receptáculos da Divindade.
Então, de todas as pessoas que encontrarem, não se detenham no aspecto
físico, no patrimônio, na situação, na instrução, mas vejam a alma e o
espírito. Pensem que mesmo aqueles que rodam por aí como mendigos ou
vagabundos, são príncipes e princesas aos olhos de Deus que os criou."
"O mais velho"
Postado por Kamadon
http://www.youtube. com/watch? v=Ij9Bz7cGnpk
.
o velho é o dono do tempo
não pára nunca de andar
e todo o peso do mundo
carrega em seu xaxará
a volta do mundo é grande
pra quem nem bem começou
a gente faz o caminho
que o velho já caminhou
quem tem ajuda do velho
já vira caminhador
que mais de vez rodou o mundo
e mais de vez já voltou
(refrão)
tem moradia do velho
que um passarinho me contou
nos quatro cantos do mundo
por onde o velho já andou
passei na casa de palha
onde ele é morador
pedi a menção do velho
e o velho me abençoou
(refrão)
não vi a cara do velho
porque ele nunca mostrou
mas todo mundo é seu filho
que neste mundo passou
conhece o chão pelo avesso
de vida e morte ao senhor
poder maior do que o velho
somente o do criador
http://www.youtube. com/watch? v=Ij9Bz7cGnpk
.
o velho é o dono do tempo
não pára nunca de andar
e todo o peso do mundo
carrega em seu xaxará
a volta do mundo é grande
pra quem nem bem começou
a gente faz o caminho
que o velho já caminhou
quem tem ajuda do velho
já vira caminhador
que mais de vez rodou o mundo
e mais de vez já voltou
(refrão)
tem moradia do velho
que um passarinho me contou
nos quatro cantos do mundo
por onde o velho já andou
passei na casa de palha
onde ele é morador
pedi a menção do velho
e o velho me abençoou
(refrão)
não vi a cara do velho
porque ele nunca mostrou
mas todo mundo é seu filho
que neste mundo passou
conhece o chão pelo avesso
de vida e morte ao senhor
poder maior do que o velho
somente o do criador
terça-feira, 8 de junho de 2010
"OS MAIORES INIMIGOS"
Postado por Kamadon
Certa feita, Simão Pedro perguntou a Jesus:
- Senhor, como saberei onde vivem nossos maiores inimigos? Quero combatê-los, a fim de trabalhar com eficiência pelo Reino de Deus.
Iam os dois de caminho entre Cafarnaum e Magdala, ao sol rutilante de perfumada manhã.
O Mestre ouviu e mergulhou-se em longa meditação.
Insistindo, porém, o discípulo, ele respondeu benevolamente:
- A experiência tudo revela no momento preciso.
- Oh! – exclamou Simão, impaciente – a experiência demora muitíssimo.
O Amigo Divino esclareceu, imperturbável:
- Para os que possuem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, uma hora, às vezes, basta ao aprendizado de inesquecíveis lições.
Pedro calou-se, desencantado.
Antes que pudesse retornar às interrogações, notou que alguém se esgueirava por trás de velhas figueiras, erguidas à margem. O apóstolo empalideceu e obrigou o Mestre a interromper a marcha, declarando que o desconhecido era um fariseu que procurava assassiná-lo. Com palavras ásperas desafiou o viajante anônimo a afastar-se, ameaçando-o, sob forte irritação. E quando tentava agarrá-lo, à viva força, diamantina risada se fez ouvir. A suposição era injusta. Ao invés de um fariseu, foi André, o próprio irmão dele, quem surgiu sorridente, associando-se à pequena caravana.
Jesus endereçou expressivo gesto a Simão e obtemperou:
- Pedro, nunca te esqueças de que o medo é um adversário terrível.
Recomposto o grupo, não haviam avançado muito, quando avistaram um levita que recitava passagens da Tora e lhes dirigiu a palavra, menos respeitoso.
Simão inchou-se de cólera. Reagiu e discutiu, longe das noções de tolerância fraterna, até que o interlocutor fugiu, amedrontado.
O Mestre, até então silencioso, fixou no aprendiz os olhos muito lúcidos e inquiriu:
- Pedro, qual é a primeira obrigação do homem que se candidata ao Reino Celeste?
A resposta veio clara e breve:
- Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
- Terás observado a regra sublime, neste conflito? – continuou o Cristo, serenamente – recorda que, antes de tudo, é indispensável nosso auxílio ao que ignora o verdadeiro bem e não olvides que a cólera é um perseguidor cruel.
Mais alguns passos e encontraram Teofrasto, judeu grego dado à venda de perfumes, que informou sobre certo Zeconias, leproso curado pelo profeta nazareno e que fugira para Jerusalém, onde acusava o Messias com falsas alegações.
O pescador não se conteve. Gritou que Zeconias era um ingrato, relacionou os benefícios que Jesus lhe prestara e internou-se em longos e amargosos comentários, amaldiçoando- lhe o nome.
Terminando, o Cristo indagou-lhe:
- Pedro, quantas vezes perdoarás a teu irmão?
- Até setenta vezes sete – replicou o apóstolo, humilde.
O Amigo Celeste contemplou-o, calmo, e rematou:
- A dureza é um carrasco da alma.
Não atravessaram grande distância e cruzaram com Rufo Grácus, velho romano semiparalítico, que lhes sorriu, desdenhoso, do alto da liteira sustentada pelos escravos fortes.
Marcando-lhe o gesto sarcástico, Simão falou sem rebuços:
- Desejaria curar aquele pecador impenitente, a fim de dobrar-lhe o coração para Deus.
Jesus, porém, afagou-lhe o ombro e ajuntou:
- Por que instituiríamos a violência no mundo, se o próprio Pai nunca se impôs a ninguém?
E, ante o companheiro desapontado, concluiu:
- A vaidade é um verdugo sutil.
Daí a minutos, para repasto ligeiro, chegavam à hospedaria modesta de Aminadab, um seguidor das idéias novas.
À mesa, um certo Zadias, liberto de Cesárea, se pôs a comentar os acontecimentos políticos da época. Indicou os erros e desmandos da Corte Imperial, ao que Simão correspondeu, colaborando na poda verbalística. Dignitários e filósofos, administradores e artistas de além-mar sofreram apontamentos ferinos. Tibério foi invocado com impiedosas recriminações.
Finda a animada palestra, Jesus perguntou ao discípulo se acaso estivera alguma vez em Roma.
O esclarecimento veio depressa:
- Nunca.
O Cristo sorriu e observou:
- Falaste com tamanha desenvoltura sobre o Imperador que me pareceu estar diante de alguém que com ele houvesse privado intimamente.
Em seguida, acrescentou:
- Estejamos convictos de que a maledicência é algoz terrível.
O pescador de Cafarnaum silenciou, desconcertado.
O Mestre contemplou a paisagem exterior, fitando a posição do astro do dia, como a consultar o tempo, e, voltando-se para o companheiro invigilante, acentuou, bondoso:
- Pedro, há precisamente uma hora procurava situar o domicilio de nossos maiores adversários. De então para cá, cinco apareceram, entre nós: o medo, a cólera, a dureza, a vaidade e a maledicência. .. Como reconheces, nossos piores inimigos moram em nosso próprio coração.
E, sorrindo, finalizou:
- Dentro de nós mesmos, será travada a guerra maior.
(Obra: Luz Acima - Chico Xavier/Irmão X)
Certa feita, Simão Pedro perguntou a Jesus:
- Senhor, como saberei onde vivem nossos maiores inimigos? Quero combatê-los, a fim de trabalhar com eficiência pelo Reino de Deus.
Iam os dois de caminho entre Cafarnaum e Magdala, ao sol rutilante de perfumada manhã.
O Mestre ouviu e mergulhou-se em longa meditação.
Insistindo, porém, o discípulo, ele respondeu benevolamente:
- A experiência tudo revela no momento preciso.
- Oh! – exclamou Simão, impaciente – a experiência demora muitíssimo.
O Amigo Divino esclareceu, imperturbável:
- Para os que possuem “olhos de ver” e “ouvidos de ouvir”, uma hora, às vezes, basta ao aprendizado de inesquecíveis lições.
Pedro calou-se, desencantado.
Antes que pudesse retornar às interrogações, notou que alguém se esgueirava por trás de velhas figueiras, erguidas à margem. O apóstolo empalideceu e obrigou o Mestre a interromper a marcha, declarando que o desconhecido era um fariseu que procurava assassiná-lo. Com palavras ásperas desafiou o viajante anônimo a afastar-se, ameaçando-o, sob forte irritação. E quando tentava agarrá-lo, à viva força, diamantina risada se fez ouvir. A suposição era injusta. Ao invés de um fariseu, foi André, o próprio irmão dele, quem surgiu sorridente, associando-se à pequena caravana.
Jesus endereçou expressivo gesto a Simão e obtemperou:
- Pedro, nunca te esqueças de que o medo é um adversário terrível.
Recomposto o grupo, não haviam avançado muito, quando avistaram um levita que recitava passagens da Tora e lhes dirigiu a palavra, menos respeitoso.
Simão inchou-se de cólera. Reagiu e discutiu, longe das noções de tolerância fraterna, até que o interlocutor fugiu, amedrontado.
O Mestre, até então silencioso, fixou no aprendiz os olhos muito lúcidos e inquiriu:
- Pedro, qual é a primeira obrigação do homem que se candidata ao Reino Celeste?
A resposta veio clara e breve:
- Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
- Terás observado a regra sublime, neste conflito? – continuou o Cristo, serenamente – recorda que, antes de tudo, é indispensável nosso auxílio ao que ignora o verdadeiro bem e não olvides que a cólera é um perseguidor cruel.
Mais alguns passos e encontraram Teofrasto, judeu grego dado à venda de perfumes, que informou sobre certo Zeconias, leproso curado pelo profeta nazareno e que fugira para Jerusalém, onde acusava o Messias com falsas alegações.
O pescador não se conteve. Gritou que Zeconias era um ingrato, relacionou os benefícios que Jesus lhe prestara e internou-se em longos e amargosos comentários, amaldiçoando- lhe o nome.
Terminando, o Cristo indagou-lhe:
- Pedro, quantas vezes perdoarás a teu irmão?
- Até setenta vezes sete – replicou o apóstolo, humilde.
O Amigo Celeste contemplou-o, calmo, e rematou:
- A dureza é um carrasco da alma.
Não atravessaram grande distância e cruzaram com Rufo Grácus, velho romano semiparalítico, que lhes sorriu, desdenhoso, do alto da liteira sustentada pelos escravos fortes.
Marcando-lhe o gesto sarcástico, Simão falou sem rebuços:
- Desejaria curar aquele pecador impenitente, a fim de dobrar-lhe o coração para Deus.
Jesus, porém, afagou-lhe o ombro e ajuntou:
- Por que instituiríamos a violência no mundo, se o próprio Pai nunca se impôs a ninguém?
E, ante o companheiro desapontado, concluiu:
- A vaidade é um verdugo sutil.
Daí a minutos, para repasto ligeiro, chegavam à hospedaria modesta de Aminadab, um seguidor das idéias novas.
À mesa, um certo Zadias, liberto de Cesárea, se pôs a comentar os acontecimentos políticos da época. Indicou os erros e desmandos da Corte Imperial, ao que Simão correspondeu, colaborando na poda verbalística. Dignitários e filósofos, administradores e artistas de além-mar sofreram apontamentos ferinos. Tibério foi invocado com impiedosas recriminações.
Finda a animada palestra, Jesus perguntou ao discípulo se acaso estivera alguma vez em Roma.
O esclarecimento veio depressa:
- Nunca.
O Cristo sorriu e observou:
- Falaste com tamanha desenvoltura sobre o Imperador que me pareceu estar diante de alguém que com ele houvesse privado intimamente.
Em seguida, acrescentou:
- Estejamos convictos de que a maledicência é algoz terrível.
O pescador de Cafarnaum silenciou, desconcertado.
O Mestre contemplou a paisagem exterior, fitando a posição do astro do dia, como a consultar o tempo, e, voltando-se para o companheiro invigilante, acentuou, bondoso:
- Pedro, há precisamente uma hora procurava situar o domicilio de nossos maiores adversários. De então para cá, cinco apareceram, entre nós: o medo, a cólera, a dureza, a vaidade e a maledicência. .. Como reconheces, nossos piores inimigos moram em nosso próprio coração.
E, sorrindo, finalizou:
- Dentro de nós mesmos, será travada a guerra maior.
(Obra: Luz Acima - Chico Xavier/Irmão X)
"PARÁBOLA SOBRE O BAMBU"
Postado por Kamadon
Num lugar distante, havia um lindo bambuzal. O vento soprava sereno e a brisa mansa permitia que o bambuzal se movimentasse desordenadamente de um lado para o outro, servindo para refrescar todo ambiente e movimentar com todas energias que estavam paradas.
E como todo bambuzal tem um dono, esse não era diferente: o dono desse bambuzal nesse dia coincidentemente chegou junto com o vento.
Qual foi a surpresa do bambuzal em ver o seu dono, todos naquele instante ficaram cheios de alegria e destemor, pois aquele que cuidava com tanto carinho deles chegava com seu sorriso para olhar sua estimada plantação. Porém havia no mesmo lugar ao lado um campo ermo, de difícil plantação, terra ressequida pertencente ao mesmo dono.
No bambuzal existia um bambu que era muito bonito, vivaz e sobressaia dos outros. Existia nele uma especial diferença sobre os outros bambus. Mas tudo era natural nele e, sua dedicação ao dono, o tornava cada vez mais diferente e bonito.E muitas vezes incomodava os outros bambus.
A felicidade desse bambu era ver seu dono chegando e contemplando- o com entusiasmo.
Porém, num certo dia de ventania, foi surpreendido por seu dono tão querido numa proposta que há muito tempo esperava. Era chegada a hora do bambu servir e com a mesma dedicação que tinha desde o seu nascimento. O dono do bambu chegou lá pelas 5 horas da tarde, olhou seu bambu amado, acariciou-o e lhe disse:
“BAMBU AMADO, CHEGOU O SEU TEMPO DE ME SERVIR E, ESTE É O MOMENTO.”
O bambu ficou entusiasmadíssimo com tal proposta e na intensidade que amava o dono, apressou-se em dizer:
“SIM AMADO DONO, SE A HORA É CHEGADA. EU ESTOU AQUI!”
O dono sabia desse "sim" e, logo amou mais ainda o bambu. Contudo, o dono do bambu teve que lhe falar sobre esse serviço especial e continuou dizendo:
“MAS PARA QUE ME SIRVA, BAMBU AMADO, TENHO QUE LHE TIRAR DO LUGAR EM QUE VOCÊ ESTÁ!”
O bambu estranhou pois sabia que isso iria prejudicá-lo muito, mas no mesmo instante disse ao dono:
"SABE DAS COISAS MEU DONO, E SABE DE MIM, ME ALEGRO E FAÇA COM QUE EU LHE SIRVA BEM!"
O dono mais alegre ainda continuou:
'BAMBU AMADO, NÃO BASTA QUE TE ARRANQUE DE SEU LUGAR MAS VOU PRECISAR CORTÁ-LO COM UM FACÃO PARA PARTÍ-LO AO MEIO!'
Surpreso, o bambu tentou entender a proposta e começou entristecer, pois sua beleza, seu encanto, sua firmeza, seu apoio, tudo seria tirado e, sua natureza de bambu não existiria mais. Porem, triste e sem entender encheu-se de alegria já comprometida, porém pensando na satisfação que seu dono teria com mais um SIM e não pensou e disse:
"SE ASSIM É QUE PRECISAS DE MIM QUE EU POSSA LHE ALEGRAR, EIS-ME AQUI. PRONTO!"
O dono sabia disso e, percebia que o bambu não estava tão alegre quanto o inicio da conversa mas, sabia da fidelidade do amado bambu. Não obstante, o dono lhe disse sem muitas palavras:
'AMADO BAMBU, MESMO QUE ME SIRVA AINDA PRECISO DIZER: NÃO LHE BASTA QUE O ARRANQUE E O CORTE COM UM FACÃO, É PRECISO QUE EU O SEQUE E DESCARACTERIZE TEUS JEITOS DE BAMBU, TUA BELEZA E MESMO TODA TUA ALEGRIA!'
O bambu, no silencio entristecido, derramava uma lágrima de dor profunda e de desentendimento. Já não sabia mais o porque disso tudo nem o porque de seu dono lhe queria assim. O maior sofrimento do bambu era por não entender esse amor que criou, permitiu que fosse o mais lindo e vistoso e de uma hora pra outra lhe pedia a própria morte.
Qual foi sua surpresa antes de responder ao dono, o mesmo indagou:
'MAS AMADO BAMBU, MESMO DEPOIS DISSO TUDO VOU PRECISAR TIRA-TE A VIDA E NUNCA MAIS SERÁS UM BAMBU!'
Foi nesse instante que o bambu simplesmente parou e não disse uma só palavra. Silenciou. Mas seu dono continuou:
"CONTUDO, BAMBU AMADO, VOU ARRANCAR-LHE O CORAÇÃO E TUDO O QUE NELE TEM, GUARDAREI ETERNAMENTE COMIGO E NUNCA ELE ME SERÁ ROUBADO. DE TUA CASCA TIRAREI O MELHOR: TEU CORAÇÃO...TEU TESOURO...TUA VIDA...SERÁS MAIS MEU DO QUE NESSA CONDIÇÃO DE BAMBU!"
Foi aí que o pobre bambu não entendeu os motivos do dono, mas o tipo de Amor que seu dono tinho por ele. Eles se amavam, e, sustentado por esse desentendimento que compreende todas as coisas, o bambu se voltou em prantos mas com um suave e sereno e lhe disse bem baixo mas convictamente:
'EU COMPREENDO QUE ME ENTENDES. E TANTO QUE ME ROUBAS O MELHOR! SOU TEU PRISIONEIRO E FAZ DE MIM O QUE PRECISAS!'
Foi aí que o dono consumou seus desejos: Arrancou o bambu, cortou-lhe ao meio com um facão, secou-o e descaracterizou- o e já sem vida nenhuma física lhe tirou o coração e guardou-o consigo para que nunca mais fosse roubado!
E o que era um vistoso e lindo bambu se tornava dois simples pedaços de coisa ressecada .Contudo, aquele nada se tornava o veículo de água para que se levasse umidade a muitas plantações da rica fazenda e, assim o saudoso bambu que era o bem mais precioso o dono tinha, teve grande utilidade para seu dono.
Acredito que o dono também chorava nesse instante até de saudade do bambu mas tinha seu coração guardado e isso bastava ao dono!
Queridos blogueiros, respire fundo pois este conto é comovente e, tenho certeza que o coração de cada um foi sensivelmente tocado... Agora, basta ouvir os lindos sons cordiais, que verberam noutras plagas, o caminho da lenda pessoal.
Me faz pensar numa pergunta:
- Será que estou preparada para ser esse bambu?
A história desse bambu é a historia de vocação de cada um de nós. Iremos ser podados, cortados, poderá ser muito dolorido, poderá ter sofrimentos, mas nosso coração será preservado. E num lugar seguro e muito especial, o nosso coração será tocado pela Luz Divina para que realizemos aquilo que nascemos para realizar, satisfazendo a vontade de Deus. E por esta razão devemos silenciar o coração para ouví-lo com amor. E humildemente dizer "SIM".
Publicado no Blog Sem Fronteiras
Paz Profunda
"Pensamento do dia 08 de junho"
Postado por Kamadon
Complexidade do ser humano
"O ser humano não se limita ao seu corpo físico: graças aos seus corpos
sutis, ele está ligado a todo o cosmos. Ele vive e vibra com a Alma
Universal, com todas as gerações do passado mais longínquo, está em contato
com o mundo das ideias, dos arquétipos, das leis, das forças e das verdades,
e esse mundo pode se refletir nele sob a forma de imagens, de símbolos.
Quando vocês meditam sobre uma verdade muito elevada que pertence ao plano
causal, ela pode provocar uma reação nas profundezas do seu ser, e nesse
ponto uma forma surge na sua consciência: a de um ser, de um objeto ou de
uma figura geométrica. É desse modo que se explicam os sonhos premonitórios
e as visões proféticas. Se coubesse a vocês encontrar a correspondência
exata, não seriam capazes disso, pois existem milhares de formas simbólicas.
Só a Natureza conhece a afinidade entre as coisas, e apresenta à sua mente
uma imagem que corresponde absolutamente ao assunto sobre o qual estão
concentrados."
Complexidade do ser humano
"O ser humano não se limita ao seu corpo físico: graças aos seus corpos
sutis, ele está ligado a todo o cosmos. Ele vive e vibra com a Alma
Universal, com todas as gerações do passado mais longínquo, está em contato
com o mundo das ideias, dos arquétipos, das leis, das forças e das verdades,
e esse mundo pode se refletir nele sob a forma de imagens, de símbolos.
Quando vocês meditam sobre uma verdade muito elevada que pertence ao plano
causal, ela pode provocar uma reação nas profundezas do seu ser, e nesse
ponto uma forma surge na sua consciência: a de um ser, de um objeto ou de
uma figura geométrica. É desse modo que se explicam os sonhos premonitórios
e as visões proféticas. Se coubesse a vocês encontrar a correspondência
exata, não seriam capazes disso, pois existem milhares de formas simbólicas.
Só a Natureza conhece a afinidade entre as coisas, e apresenta à sua mente
uma imagem que corresponde absolutamente ao assunto sobre o qual estão
concentrados."
"O que a China deve fazer ante o avanço da esquerda "
Postado por Attman e Kamadon
Por Zhang Jiazhe, no Diario do Povo on line
Desde o fim do século passado até a data atual, 12 partidos de esquerda da América Latina venceram as eleições e assumiram o poder. Esta conjuntura tem sido uma fonte de alegria para muito chineses, que viram, na chegada da esquerda nesta região geográfica, o último prego no caixão do "Consenso de Washington" e do neoliberalismo, após ambos terem sido condenados pelos povos latino-americanos em meio ao recente fervor esquerdista.
No entanto, nos últimos anos, não faltaram países latino-americanos governados pela esquerda que têm levantado a bandeira do garrote "anti-dumping" contra a China, disferindo duros golpes às exportações do país asiático até esta zona. Isso ocorreu inclusive naquelas nações que reconheceram a condição da China como uma economia de mercado.
Por outro lado, esses países continuam a manter relações estreitas com os Estados Unidos, cujas posições no tema dos direitos humanos têm sido respaldadas através de voto nas instâncias internacionais. Alguns mantiveram preços elevados para a aquisição de minério de ferro. Ante esta situação, os chineses ficamos perplexos, imaginando o que acontece com esses países.
Tendo em conta os altos e baixos que América Latina tem sofrido durante um período razoavelmente longo de sua história, parece razoável concluir que a atual emergência da esquerda naquela área nada mais é que uma nova oscilação no pêndulo do relógio histórico até a esquerda, e que as muitas variações que têm caracterizado este pêndulo são circusntanciais à área, em sua transição de regimes ditatoriais aos democráticos; das juntas militares às administrações civis; dos períodos de privatizações às campanhas de nacionalização; do protecionismo à abertura; dos governos de esquerda aos de direita; ou do "socialismo" (ao estilo latino-americano) ao capitalismo.
Nos 200 anos transcorridos desde que a maioria destes países declararam a sua independência da Espanha e Portugal, a região se viu oscilando entre extremos. É por isso que não é aconselhável alimentar muitas esperanças pelo atual rumo dos acontecimentos, nem colocar muito alta a barra das expectativas. Naturalmente, a China deve aproveitar a oportunidade em tudo o que lhe for conveniente.
Entre os 12 países sob a liderança da esquerda, há um grupo que pode ser considerado "radical" (Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, em certa medida, que formaram uma "aliança contra os EUA") e outro de "moderados". Estes últimos não têm diferenças essenciais com os não-esquerdistas, pois tendem mais para o nacionalismo e o populismo com peculiaridades latino-americanas, e inclusive evidenciam certas posturas do socialismo cristão. A esses países se deve render um tratamento igual ao dado aos não-esquerdistas, partindo de iguais princípios diplomáticos e leis econômicas. Não há necessidade de diferenciá-los atendendo a suas tons ideológicos.
O autor deste artigo acredita que se pode persistir no princípio de "separar a política da economia", ao tratar com os países de esquerda "radicais". No terreno econômico, a China pode desenvolver os intercâmbios econômicos e comerciais sobre a base da igualdade e o benefício mútuo com estes países. Inclusive se pode passar por alto a habitual ojeriza estadunidense quando nota que outros fomentam atividades econômicas nos países da zona. Não se deve esquecer que, no passado, os EUA recorreram a táticas semelhantes para competir primeiro e, depois, expulsar do jogo uma Europa empobrecida.
Ao abordar os problemas políticos (incluindo o tema militar), a China deve começar a levar em conta suas relações com os EUA e suas ligações com a América Latina, ou seja, não porque prejudicar uns e desafiar outros. Na hora de desenhar sua diplomacia para a América Latina, a premissa da China deve, em todos os momentos, pensar com a cabeça fria.
Por Zhang Jiazhe, no Diario do Povo on line
Desde o fim do século passado até a data atual, 12 partidos de esquerda da América Latina venceram as eleições e assumiram o poder. Esta conjuntura tem sido uma fonte de alegria para muito chineses, que viram, na chegada da esquerda nesta região geográfica, o último prego no caixão do "Consenso de Washington" e do neoliberalismo, após ambos terem sido condenados pelos povos latino-americanos em meio ao recente fervor esquerdista.
No entanto, nos últimos anos, não faltaram países latino-americanos governados pela esquerda que têm levantado a bandeira do garrote "anti-dumping" contra a China, disferindo duros golpes às exportações do país asiático até esta zona. Isso ocorreu inclusive naquelas nações que reconheceram a condição da China como uma economia de mercado.
Por outro lado, esses países continuam a manter relações estreitas com os Estados Unidos, cujas posições no tema dos direitos humanos têm sido respaldadas através de voto nas instâncias internacionais. Alguns mantiveram preços elevados para a aquisição de minério de ferro. Ante esta situação, os chineses ficamos perplexos, imaginando o que acontece com esses países.
Tendo em conta os altos e baixos que América Latina tem sofrido durante um período razoavelmente longo de sua história, parece razoável concluir que a atual emergência da esquerda naquela área nada mais é que uma nova oscilação no pêndulo do relógio histórico até a esquerda, e que as muitas variações que têm caracterizado este pêndulo são circusntanciais à área, em sua transição de regimes ditatoriais aos democráticos; das juntas militares às administrações civis; dos períodos de privatizações às campanhas de nacionalização; do protecionismo à abertura; dos governos de esquerda aos de direita; ou do "socialismo" (ao estilo latino-americano) ao capitalismo.
Nos 200 anos transcorridos desde que a maioria destes países declararam a sua independência da Espanha e Portugal, a região se viu oscilando entre extremos. É por isso que não é aconselhável alimentar muitas esperanças pelo atual rumo dos acontecimentos, nem colocar muito alta a barra das expectativas. Naturalmente, a China deve aproveitar a oportunidade em tudo o que lhe for conveniente.
Entre os 12 países sob a liderança da esquerda, há um grupo que pode ser considerado "radical" (Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, em certa medida, que formaram uma "aliança contra os EUA") e outro de "moderados". Estes últimos não têm diferenças essenciais com os não-esquerdistas, pois tendem mais para o nacionalismo e o populismo com peculiaridades latino-americanas, e inclusive evidenciam certas posturas do socialismo cristão. A esses países se deve render um tratamento igual ao dado aos não-esquerdistas, partindo de iguais princípios diplomáticos e leis econômicas. Não há necessidade de diferenciá-los atendendo a suas tons ideológicos.
O autor deste artigo acredita que se pode persistir no princípio de "separar a política da economia", ao tratar com os países de esquerda "radicais". No terreno econômico, a China pode desenvolver os intercâmbios econômicos e comerciais sobre a base da igualdade e o benefício mútuo com estes países. Inclusive se pode passar por alto a habitual ojeriza estadunidense quando nota que outros fomentam atividades econômicas nos países da zona. Não se deve esquecer que, no passado, os EUA recorreram a táticas semelhantes para competir primeiro e, depois, expulsar do jogo uma Europa empobrecida.
Ao abordar os problemas políticos (incluindo o tema militar), a China deve começar a levar em conta suas relações com os EUA e suas ligações com a América Latina, ou seja, não porque prejudicar uns e desafiar outros. Na hora de desenhar sua diplomacia para a América Latina, a premissa da China deve, em todos os momentos, pensar com a cabeça fria.
"É outubro em Pequim: o primeiro aniversário da Revolução Chinesa"
Postado por Attman e Kamadon
Mencius, discípulo de Confúcio e que nasceu no ano 390 antes da nossa era, escreveu: "Em primeiro lugar, está o povo; em seguida, o país. O rei é o de menos...". Pois ali estávamos nós — 72 delegações de convidados vindos de todas as partes do mundo — para vermos passar, no 1º de outubro de 1960, o grande desfile comemorativo do 11º aniversário da República Popular da Nova China.
Por Lygia Fagundes Telles, na Folha de S.Paulo
A manhã é azul. Bandeiras vermelhas com as cinco estrelas estão desfraldadas ao vento.
Estandartes também vermelhos, com os caracteres chineses, em dourado desdobram-se nos pontos mais altos da vasta praça do Povo, defronte da famosa Porta da Paz Celestial e onde estão os balcões dos convidados.
Entre o Museu Nacional e a Assembleia, defronte de nós, gigantescos retratos de Karl Marx, Friedrich Engels, Lênin e Mao Tse-tung.
É belo de se ver a variedade incrível dos trajes dos representantes de cada país; os altos africanos, com ares assim de reis negros, ostentam túnicas e adornos singulares, contrastando na sua simplicidade com os trajes asiáticos e que em geral são suntuosos, cheios de pedrarias e dourados e tudo isso de mistura com os trajes chineses — as discretas fardas de brim azul-, que por sua vez contrastam com as nossas roupas europeias. Ouvem-se em redor as mais variadas línguas. O quadro é de um colorido vivo e raro.
Uma chinesinha debruça-se num balcão ao meu lado. Observo-a. E concluo, nesse instante, que sem dúvida alguma os chineses são bonitos, assim altos e esguios. Têm a gesticulação elegante. Pernas longas. E grandes olhos seguindo aquela linha oblíqua.
Volto minha máquina fotográfica na direção da jovem. Ela inclina a cabeça para o lado, segura delicadamente a ponta da trancinha negra e sorri um tímido sorriso fresco e claro como a manhã outonal. Diz-me, em seguida, um "merci".
Aproximo-me animada: a ponte da língua estabeleceu-se entre nós. Ocorre-me fazer-lhe perguntas simples, bem femininas. Ainda não vi nenhuma chinesa pintada, digo-lhe. Nem as jovens nem as mulheres maduras usam batom ou mesmo pó de arroz. Eis que a mulher na China abriu mão das mais elementares vaidades. Nem brincos, nem anéis, nem unhas esmaltadas...
Ela ficou séria. "O nosso povo acaba de sair de uma fase terrível e que durou dezenas e dezenas de anos", respondeu-me ela. "Não podemos nos preocupar com ninharias quando ainda há coisas tão importantes a serem cuidadas. Principalmente nós, as mulheres, nunca tivemos sequer o essencial. Então não podemos agora nos dar ao luxo de pensar no acessório, no supérfluo. Temos que trabalhar. O resto fica para depois."
Não pude deixar de sorrir. Ah! Como a jovem era parecida com o Mister Wang, nosso intérprete, de topetinho no cocuruto e fronte pensativa, a expressão tão carregada de responsabilidades! Como eram graves e compenetrados os jovens da China! Lembrei-me de uma peruana ou colombiana, que após algumas semanas de permanência em Pequim, teria se queixado certa noite ao nosso teatrólogo Guilherme Figueiredo: "Sí, sí, todo es muy bueno... ¡Pero, caramba! ¡Es preciso un poco de corrupción!...".
Desatei a rir enquanto a chinesinha, sem saber por que, riu também. Tive então vontade de dizer-lhe que aprimorar a beleza do rosto era também uma causa importante. Mas pensei: para quê? Afinal, ela era tão bonita assim mesmo com a carinha lavada, singela! Pensei nas nossas brasileirinhas adolescentes e já com os olhos bistrados.
Eis aí uma jovem, edição chinesa da nossa "Inocência", de Taunay. Ela quis saber quem era "Inocência" e expliquei-lhe então que era a heroína de um romance e que nunca houve na nossa literatura uma personagem mais doce, mais delicada, mais pura.
Sons festivos de uma marcha romperam dos alto-falantes. Palmas, vivas da multidão acenando bandeirinhas: o presidente Mao Tse-tung acabara de aparecer no palanque oficial.
Começou o desfile, um desfile sem militares, sem soldados ou armas, mas apenas com colegiais e jovens, dezenas e dezenas de jovens levando bandeiras, arcos floridos, lanternas, balões, estandartes. Enfim, um mar de flores e sedas vindo em ondas a transbordar na praça.
Jamais meus olhos viram desfile igual, verdadeira demonstração do mais alto senso estético de um povo que há cinco mil anos cultiva a beleza.
Mencius, discípulo de Confúcio e que nasceu no ano 390 antes da nossa era, escreveu: "Em primeiro lugar, está o povo; em seguida, o país. O rei é o de menos...". Pois ali estávamos nós — 72 delegações de convidados vindos de todas as partes do mundo — para vermos passar, no 1º de outubro de 1960, o grande desfile comemorativo do 11º aniversário da República Popular da Nova China.
Por Lygia Fagundes Telles, na Folha de S.Paulo
A manhã é azul. Bandeiras vermelhas com as cinco estrelas estão desfraldadas ao vento.
Estandartes também vermelhos, com os caracteres chineses, em dourado desdobram-se nos pontos mais altos da vasta praça do Povo, defronte da famosa Porta da Paz Celestial e onde estão os balcões dos convidados.
Entre o Museu Nacional e a Assembleia, defronte de nós, gigantescos retratos de Karl Marx, Friedrich Engels, Lênin e Mao Tse-tung.
É belo de se ver a variedade incrível dos trajes dos representantes de cada país; os altos africanos, com ares assim de reis negros, ostentam túnicas e adornos singulares, contrastando na sua simplicidade com os trajes asiáticos e que em geral são suntuosos, cheios de pedrarias e dourados e tudo isso de mistura com os trajes chineses — as discretas fardas de brim azul-, que por sua vez contrastam com as nossas roupas europeias. Ouvem-se em redor as mais variadas línguas. O quadro é de um colorido vivo e raro.
Uma chinesinha debruça-se num balcão ao meu lado. Observo-a. E concluo, nesse instante, que sem dúvida alguma os chineses são bonitos, assim altos e esguios. Têm a gesticulação elegante. Pernas longas. E grandes olhos seguindo aquela linha oblíqua.
Volto minha máquina fotográfica na direção da jovem. Ela inclina a cabeça para o lado, segura delicadamente a ponta da trancinha negra e sorri um tímido sorriso fresco e claro como a manhã outonal. Diz-me, em seguida, um "merci".
Aproximo-me animada: a ponte da língua estabeleceu-se entre nós. Ocorre-me fazer-lhe perguntas simples, bem femininas. Ainda não vi nenhuma chinesa pintada, digo-lhe. Nem as jovens nem as mulheres maduras usam batom ou mesmo pó de arroz. Eis que a mulher na China abriu mão das mais elementares vaidades. Nem brincos, nem anéis, nem unhas esmaltadas...
Ela ficou séria. "O nosso povo acaba de sair de uma fase terrível e que durou dezenas e dezenas de anos", respondeu-me ela. "Não podemos nos preocupar com ninharias quando ainda há coisas tão importantes a serem cuidadas. Principalmente nós, as mulheres, nunca tivemos sequer o essencial. Então não podemos agora nos dar ao luxo de pensar no acessório, no supérfluo. Temos que trabalhar. O resto fica para depois."
Não pude deixar de sorrir. Ah! Como a jovem era parecida com o Mister Wang, nosso intérprete, de topetinho no cocuruto e fronte pensativa, a expressão tão carregada de responsabilidades! Como eram graves e compenetrados os jovens da China! Lembrei-me de uma peruana ou colombiana, que após algumas semanas de permanência em Pequim, teria se queixado certa noite ao nosso teatrólogo Guilherme Figueiredo: "Sí, sí, todo es muy bueno... ¡Pero, caramba! ¡Es preciso un poco de corrupción!...".
Desatei a rir enquanto a chinesinha, sem saber por que, riu também. Tive então vontade de dizer-lhe que aprimorar a beleza do rosto era também uma causa importante. Mas pensei: para quê? Afinal, ela era tão bonita assim mesmo com a carinha lavada, singela! Pensei nas nossas brasileirinhas adolescentes e já com os olhos bistrados.
Eis aí uma jovem, edição chinesa da nossa "Inocência", de Taunay. Ela quis saber quem era "Inocência" e expliquei-lhe então que era a heroína de um romance e que nunca houve na nossa literatura uma personagem mais doce, mais delicada, mais pura.
Sons festivos de uma marcha romperam dos alto-falantes. Palmas, vivas da multidão acenando bandeirinhas: o presidente Mao Tse-tung acabara de aparecer no palanque oficial.
Começou o desfile, um desfile sem militares, sem soldados ou armas, mas apenas com colegiais e jovens, dezenas e dezenas de jovens levando bandeiras, arcos floridos, lanternas, balões, estandartes. Enfim, um mar de flores e sedas vindo em ondas a transbordar na praça.
Jamais meus olhos viram desfile igual, verdadeira demonstração do mais alto senso estético de um povo que há cinco mil anos cultiva a beleza.
"Europeus, uni-vos! A luta de classes volta á Europa"
Postado por Attman e Kamadon
Boaventura de Souza Santos
A luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os atores sociais estão perplexos e paralisados. O relatório que o FMI acaba de divulgar sobre a economia espanhola é uma declaração de guerra. Os movimentos e as organizações de toda a Europa têm de se articular para mostrar aos governos que a estabilidade dos mercados não pode ser construída sobre as ruínas da estabilidade das vidas dos cidadãos e suas famílias. Não é o socialismo; é a demonstração de que ou a UE cria as condições para o capital produtivo se desvincular relativamente do capital ou o futuro é o fascismo. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos
Boaventura de Sousa Santos
Os dados estão lançados, o jogo é claro e quanto mais tarde identificarmos as novas regras mais elevado será o custo para os cidadãos europeus. A luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os atores sociais estão perplexos e paralisados. Enquanto prática política, a luta de classes entre o trabalho e o capital nasceu na Europa e, depois de muitos anos de confrontação violenta, foi na Europa que ela foi travada com mais equilíbrio e onde deu frutos mais auspiciosos.
Os adversários verificaram que a institucionalização da luta seria mutuamente vantajosa: o capital consentiria em altos níveis de tributação e de intervenção do Estado em troca de não ver a sua prosperidade ameaçada; os trabalhadores conquistariam importantes direitos sociais em troca de desistirem de uma alternativa socialista. Assim surgiram a concertação social e seus mais invejáveis resultados: altos níveis de competitividade indexados a altos níveis de proteção social; o modelo social europeu e o Estado Providência; a possibilidade, sem precedentes na história, de os trabalhadores e suas famílias poderem fazer planos de
futuro a médio prazo (educação dos filhos, compra de casa); a paz social; o continente com os mais baixos níveis de desigualdade social.
Todo este sistema está à beira do colapso e os resultados são imprevisíveis. O relatório que o FMI acaba de divulgar sobre a economia espanhola é uma declaração de guerra: o acúmulo histórico das lutas sociais, de tantas e tão laboriosas negociações e de equilíbrios tão duramente obtidos, é lançado por terra com inaudita arrogância e a
Espanha é mandada recuar décadas na sua história: reduzir drasticamente os salários, destruir o sistema de pensões, eliminar direitos trabalhistas (facilitar demissões, reduzir indenizações). A mesma receita será imposta a Portugal, como já foi à Grécia, e a outros países da Europa, muito para além da Europa do Sul.
A Europa está sendo vítima de uma OPA por parte do FMI, cozinhada pelos neoliberais que dominam a União Europeia, de Merkel a Barroso, escondidos atrás do FMI para não pagarem os custos políticos da
devastação social. O senso comum neoliberal diz-nos que a culpa é da crise, que vivemos acima das nossas posses e que não há dinheiro para tanto bem-estar. Mas qualquer cidadão comum entende isto: se a FAO calcula que 30 bilhões de dólares seriam suficientes para resolver o problema da fome no mundo e os governos insistem em dizer que não há
dinheiro para isso, como se explica que, de repente, tenham surgido 900 bilhões para salvar o sistema financeiro europeu?
A luta de classes está voltando sob uma nova forma mas com a violência de há cem anos: desta vez, é o capital financeiro quem declara guerra ao trabalho. O que fazer? Haverá resistência mas esta, para ser eficaz, tem de ter em conta dois fatos novos. Primeiro, a fragmentação do trabalho e a sociedade de consumo ditaram a crise dos sindicatos. Nunca os que trabalham trabalharam tanto e nunca lhes foi tão difícil identificarem-se como trabalhadores. A resistência terá nos sindicatos um pilar mas ele
será bem frágil se a luta não for partilhada em pé de igualdade por movimentos de mulheres, ambientalistas, de consumidores, de direitos humanos, de imigrantes, contra o racismo, a xenofobia e a homofobia. A crise atinge todos porque todos são trabalhadores.
Segundo, não há economias nacionais na Europa e, por isso, a resistência ou é europeia ou não existe. As lutas nacionais serão um alvo fácil dos que clamam pela governabilidade ao mesmo tempo que desgovernam. Os movimentos e as organizações de toda a Europa têm de se articular para mostrar aos governos que a estabilidade dos mercados não pode ser construída sobre as ruínas da estabilidade das vidas dos cidadãos e suas famílias. Não é o socialismo; é a demonstração de que ou a UE cria as condições para o capital produtivo se desvincular relativamente do capital financeiro ou o futuro é o fascismo e terá que ser combatido por todos os meios.
Boaventura de Souza Santos
A luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os atores sociais estão perplexos e paralisados. O relatório que o FMI acaba de divulgar sobre a economia espanhola é uma declaração de guerra. Os movimentos e as organizações de toda a Europa têm de se articular para mostrar aos governos que a estabilidade dos mercados não pode ser construída sobre as ruínas da estabilidade das vidas dos cidadãos e suas famílias. Não é o socialismo; é a demonstração de que ou a UE cria as condições para o capital produtivo se desvincular relativamente do capital ou o futuro é o fascismo. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos
Boaventura de Sousa Santos
Os dados estão lançados, o jogo é claro e quanto mais tarde identificarmos as novas regras mais elevado será o custo para os cidadãos europeus. A luta de classes está de volta à Europa e em termos tão novos que os atores sociais estão perplexos e paralisados. Enquanto prática política, a luta de classes entre o trabalho e o capital nasceu na Europa e, depois de muitos anos de confrontação violenta, foi na Europa que ela foi travada com mais equilíbrio e onde deu frutos mais auspiciosos.
Os adversários verificaram que a institucionalização da luta seria mutuamente vantajosa: o capital consentiria em altos níveis de tributação e de intervenção do Estado em troca de não ver a sua prosperidade ameaçada; os trabalhadores conquistariam importantes direitos sociais em troca de desistirem de uma alternativa socialista. Assim surgiram a concertação social e seus mais invejáveis resultados: altos níveis de competitividade indexados a altos níveis de proteção social; o modelo social europeu e o Estado Providência; a possibilidade, sem precedentes na história, de os trabalhadores e suas famílias poderem fazer planos de
futuro a médio prazo (educação dos filhos, compra de casa); a paz social; o continente com os mais baixos níveis de desigualdade social.
Todo este sistema está à beira do colapso e os resultados são imprevisíveis. O relatório que o FMI acaba de divulgar sobre a economia espanhola é uma declaração de guerra: o acúmulo histórico das lutas sociais, de tantas e tão laboriosas negociações e de equilíbrios tão duramente obtidos, é lançado por terra com inaudita arrogância e a
Espanha é mandada recuar décadas na sua história: reduzir drasticamente os salários, destruir o sistema de pensões, eliminar direitos trabalhistas (facilitar demissões, reduzir indenizações). A mesma receita será imposta a Portugal, como já foi à Grécia, e a outros países da Europa, muito para além da Europa do Sul.
A Europa está sendo vítima de uma OPA por parte do FMI, cozinhada pelos neoliberais que dominam a União Europeia, de Merkel a Barroso, escondidos atrás do FMI para não pagarem os custos políticos da
devastação social. O senso comum neoliberal diz-nos que a culpa é da crise, que vivemos acima das nossas posses e que não há dinheiro para tanto bem-estar. Mas qualquer cidadão comum entende isto: se a FAO calcula que 30 bilhões de dólares seriam suficientes para resolver o problema da fome no mundo e os governos insistem em dizer que não há
dinheiro para isso, como se explica que, de repente, tenham surgido 900 bilhões para salvar o sistema financeiro europeu?
A luta de classes está voltando sob uma nova forma mas com a violência de há cem anos: desta vez, é o capital financeiro quem declara guerra ao trabalho. O que fazer? Haverá resistência mas esta, para ser eficaz, tem de ter em conta dois fatos novos. Primeiro, a fragmentação do trabalho e a sociedade de consumo ditaram a crise dos sindicatos. Nunca os que trabalham trabalharam tanto e nunca lhes foi tão difícil identificarem-se como trabalhadores. A resistência terá nos sindicatos um pilar mas ele
será bem frágil se a luta não for partilhada em pé de igualdade por movimentos de mulheres, ambientalistas, de consumidores, de direitos humanos, de imigrantes, contra o racismo, a xenofobia e a homofobia. A crise atinge todos porque todos são trabalhadores.
Segundo, não há economias nacionais na Europa e, por isso, a resistência ou é europeia ou não existe. As lutas nacionais serão um alvo fácil dos que clamam pela governabilidade ao mesmo tempo que desgovernam. Os movimentos e as organizações de toda a Europa têm de se articular para mostrar aos governos que a estabilidade dos mercados não pode ser construída sobre as ruínas da estabilidade das vidas dos cidadãos e suas famílias. Não é o socialismo; é a demonstração de que ou a UE cria as condições para o capital produtivo se desvincular relativamente do capital financeiro ou o futuro é o fascismo e terá que ser combatido por todos os meios.
"Espiritualidade de Prosperidade"
Postado por Attman e Kamadon
J. B. Libanio *
Os sistemas políticos e econômicos não vivem só de ideologia e dinheiro. Política e economia satisfazem as necessidades básicas do ser humano. Mas deixam em descoberto seu lado espiritual, religioso. Por isso, todo sistema econômico cria sua espiritualidade ou encampa algo já existente, imprimindo-lhe sua marca.
Os ideais socialistas casavam muito bem com a teologia da libertação, assim como com a luta das comunidades eclesiais de base nas suas reivindicações fundamentais. Sem transformar-se em ideologia socialista, a espiritualidade da libertação alimentava e alimenta até hoje as pessoas que se envolvem com as práticas transformadoras da realidade na linha da emancipação e promoção dos pobres.
E agora, que espiritualidade está a responder ao triunfo do neoliberalismo? Onde ele busca apoio espiritual para preencher o vazio que o puro consumismo e o materialismo deixam atrás de si?
Muitas igrejas pentecostais e neopentecostais têm elaborado a espiritualidade da prosperidade e com isso mantido as pessoas nas redes do neoliberalismo, respaldadas por uma visão religiosa da realidade. Em que consiste tal espiritualidade?
Na base está o individualismo neoliberal com sua concepção de concorrência e competição de modo que vencem os mais fortes, os mais sabidos, os mais "vivos". Daí resulta o progresso. Pior para quem fica fora dele. Dito desta maneira rude poderia doer aos ouvidos cristãos. Aí entra uma pitada de espiritualidade que tudo tempera.
Deus quer a felicidade, a riqueza, os bens materiais, a felicidade, a saúde, aqui e agora, para seus filhos. Quem são eles se não os cristãos? Pensar de maneira diferente é cair na alienação tradicional. Esta prometia os bens somente para a vida eterna que se obtinha com os sofrimentos aqui na terra.
Cristo já sofreu no nosso lugar. Agora vem-nos a bênção de Deus. Somos "filhos do Rei". Se vamos para o céu, por que não antecipar um pouco dele nesta vida?
E os pobres? Sempre os haverá entre nós, como diz o Senhor. Eles são os perdidos. São preguiçosos, viciados, idólatras. Se vão mesmo para o inferno, por que não ensaiar um pouco aqui na terra? "O Terceiro Mundo é pobre porque idólatra", pregava Luiz Palau, evangelista argentino, americano naturalizado. Dois irmãos nordestinos sentenciavam, em São Paulo, que a culpa da pobreza do Nordeste é a devoção idólatra ao Padre Cícero.
Se os cristãos não ficarem ricos, isto é falta de fé. Vem de algum pecado oculto. Confessando-os, conhecerão a prosperidade. Mas se mesmo assim, não ficarem ricos, então a culpa é de algum antepassado.
Nessa espiritualidade, não há lugar para a solidariedade nem para a opção pelos pobres. É estritamente individualista. É uma espiritualidade dos resultados. Os ricos já estão abençoados. Encontram nela paz interior, uma vez que já possuem os bens materiais. Os pobres devem buscá-la para si e seus familiares, recorrendo a ritos religiosos, como o de abençoar ou ungir de óleo santo as carteiras profissionais.
Para a Igreja Universal do Reino de Deus a vida espiritual é uma transação financeira com o céu. Quanto maior a oferta, tanto maior a bênção. A espiritualidade da prosperidade é o coração dessa Igreja. Ela incentiva mais que ter carteira assinada é a criação de microempresas. Um bispo seu, trafegando em luxuoso carro do ano, dizia: "Eu ensino a prosperidade e vivo a prosperidade".
Apela-se então para um "poder" nas palavras o qual libera "energias positivas" e combate o baixo astral com efeito sobre as coisas, doenças. A realização dessa espiritualidade é "vida longa e próspera".
Outra expressão é a idéia de que Deus não fez seu povo para ser "cauda" do mundo, mas sua "cabeça". Incentivam-se os cristãos a ambicionar postos de mando na Terra. Aos "perdidos" cabe impor obediência e evitar que façam males maiores.
A participação na política não visa a uma transformação social, mas a travar a luta do bem contra o mal, sem lugar para o pluralismo. O bem se identifica com os ideais e interesses da própria igreja e de seus dirigentes. Volta-se à velha idéia da batalha espiritual que transforma em inimigo tudo com o que essa espiritualidade não concorda. Divide o mundo em dois campos: o lado de Deus (o lado da igreja) e o lado do mal, do demônio: todas as forças que divergem de sua maneira de ver a realidade.
A espiritualidade da prosperidade é uma resposta ao momento atual. Corresponde muito bem ao clima dominante da cultura pós-moderna a serviço do neoliberalismo. Daí sua sedução. Oferece o caminho rápido do sucesso sem passar pelo trabalho, pela renúncia, pelo esforço. O êxito econômico se faz até mesmo por vias suspeitas. Ele é sinal da bênção de Deus. A riqueza é vista no seu valor em si mesmo, sem nenhuma responsabilidade social. Muito distante da doutrina social da Igreja que defende a hipoteca social sobre toda posse. Os bens materiais são vistos como privilégio e bênção para alguns escolhidos de Deus e não destinados a todos. Produz-se uma identificação rápida entre a bênção de Deus e os bens materiais dos ricos.
Atém-se a uma interpretação literal e unilateral do Antigo Testamento. Esquece-se de que Jesus veio dar-lhe o verdadeiro sentido. Não se tem a mínima sensibilidade pela dimensão social nem pelo amor predileto de Deus pelo pobre. Os verdadeiros bens para o cristão encontram-se retratados por Jesus no sermão da montanha e na sua vida.
Jesus proclama bem-aventurados os pobres e não aqueles que nadam em riqueza e a ambicionam para si. Jesus invectiva aquele rico que só pensava em armazenar ainda mais seus bens. "Insensato! Esta noite mesmo a tua vida ser-te-á reclamada e o que tu preparaste, quem é o que o terá?" E conclui com um dito lapidar: "Eis o que acontece a quem reúne um tesouro para si mesmo, em vez de enriquecer junto a Deus" (Lc 12, 16-21)
Como se vê, é exatamente o oposto da espiritualidade da prosperidade que só pensa em entesourar para si e quanto mais, melhor. Esquece da condição mortal.
Mais ainda. Jesus refere-se diretamente à fragilidade dos bens terrestres que as traças e os vermes corroem; que os ladrões roubam. Conclui: "acumulai para vós tesouros no céu, onde nem as traças nem os vermes causam estragos, onde os ladrões não arrombam nem roubam". E termina com um dito de sabedoria: "onde está o teu tesouro, aí também estará o teu coração" (Mt 6, 19-21).
O ensinamento de Jesus sobre o seguimento situa-se em posição diametralmente oposta à espiritualidade da prosperidade. Na base está o desprendimento e não a acumulação. "Qualquer um de nós que não renuncia a tudo o que lhe pertence não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 33).
Precisa ser de uma absoluta cegueira a respeito do evangelho de Jesus para propor uma espiritualidade da prosperidade como expressão do projeto de Deus. Este se manifestou em sua plenitude na pregação e pessoa de Jesus. As passagens do Antigo Testamento, que parecem identificar a bênção de Deus com a abundância dos bens, revelam um aspecto de seu projeto criador. Os bens criados estão destinados a todos os seres humanos e não a serem privilégio de alguns que se engolfam neles enquanto outros carecem de tudo. O Novo Testamento avança. Relativiza os bens materiais na perspectiva do irmão, do serviço aos outros, da própria missão.
A espiritualidade da prosperidade inverte o sentido cristão. É materialista, pagã. Nada cristã. Não se opondo ao canto de sereia do neoliberalismo, capitula. É a espiritualidade que justifica a injustiça social, tranqüilizando a consciência com tintura religiosa. Camufla a verdade da injustiça social, transferindo para Deus - bênção e maldição - a diferença social entre os humanos, fruto do sistema econômico, ao menos, na forma atual.
[www.jblibanio.com.br (site organizado pelo grupo de amigos e admiradores de JB Libanio. Confira desse autor o livro: Qual o futuro do Cristianismo? São Paulo, Paulus, 2006; 2ª. Ed. 2008)].
* Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
J. B. Libanio *
Os sistemas políticos e econômicos não vivem só de ideologia e dinheiro. Política e economia satisfazem as necessidades básicas do ser humano. Mas deixam em descoberto seu lado espiritual, religioso. Por isso, todo sistema econômico cria sua espiritualidade ou encampa algo já existente, imprimindo-lhe sua marca.
Os ideais socialistas casavam muito bem com a teologia da libertação, assim como com a luta das comunidades eclesiais de base nas suas reivindicações fundamentais. Sem transformar-se em ideologia socialista, a espiritualidade da libertação alimentava e alimenta até hoje as pessoas que se envolvem com as práticas transformadoras da realidade na linha da emancipação e promoção dos pobres.
E agora, que espiritualidade está a responder ao triunfo do neoliberalismo? Onde ele busca apoio espiritual para preencher o vazio que o puro consumismo e o materialismo deixam atrás de si?
Muitas igrejas pentecostais e neopentecostais têm elaborado a espiritualidade da prosperidade e com isso mantido as pessoas nas redes do neoliberalismo, respaldadas por uma visão religiosa da realidade. Em que consiste tal espiritualidade?
Na base está o individualismo neoliberal com sua concepção de concorrência e competição de modo que vencem os mais fortes, os mais sabidos, os mais "vivos". Daí resulta o progresso. Pior para quem fica fora dele. Dito desta maneira rude poderia doer aos ouvidos cristãos. Aí entra uma pitada de espiritualidade que tudo tempera.
Deus quer a felicidade, a riqueza, os bens materiais, a felicidade, a saúde, aqui e agora, para seus filhos. Quem são eles se não os cristãos? Pensar de maneira diferente é cair na alienação tradicional. Esta prometia os bens somente para a vida eterna que se obtinha com os sofrimentos aqui na terra.
Cristo já sofreu no nosso lugar. Agora vem-nos a bênção de Deus. Somos "filhos do Rei". Se vamos para o céu, por que não antecipar um pouco dele nesta vida?
E os pobres? Sempre os haverá entre nós, como diz o Senhor. Eles são os perdidos. São preguiçosos, viciados, idólatras. Se vão mesmo para o inferno, por que não ensaiar um pouco aqui na terra? "O Terceiro Mundo é pobre porque idólatra", pregava Luiz Palau, evangelista argentino, americano naturalizado. Dois irmãos nordestinos sentenciavam, em São Paulo, que a culpa da pobreza do Nordeste é a devoção idólatra ao Padre Cícero.
Se os cristãos não ficarem ricos, isto é falta de fé. Vem de algum pecado oculto. Confessando-os, conhecerão a prosperidade. Mas se mesmo assim, não ficarem ricos, então a culpa é de algum antepassado.
Nessa espiritualidade, não há lugar para a solidariedade nem para a opção pelos pobres. É estritamente individualista. É uma espiritualidade dos resultados. Os ricos já estão abençoados. Encontram nela paz interior, uma vez que já possuem os bens materiais. Os pobres devem buscá-la para si e seus familiares, recorrendo a ritos religiosos, como o de abençoar ou ungir de óleo santo as carteiras profissionais.
Para a Igreja Universal do Reino de Deus a vida espiritual é uma transação financeira com o céu. Quanto maior a oferta, tanto maior a bênção. A espiritualidade da prosperidade é o coração dessa Igreja. Ela incentiva mais que ter carteira assinada é a criação de microempresas. Um bispo seu, trafegando em luxuoso carro do ano, dizia: "Eu ensino a prosperidade e vivo a prosperidade".
Apela-se então para um "poder" nas palavras o qual libera "energias positivas" e combate o baixo astral com efeito sobre as coisas, doenças. A realização dessa espiritualidade é "vida longa e próspera".
Outra expressão é a idéia de que Deus não fez seu povo para ser "cauda" do mundo, mas sua "cabeça". Incentivam-se os cristãos a ambicionar postos de mando na Terra. Aos "perdidos" cabe impor obediência e evitar que façam males maiores.
A participação na política não visa a uma transformação social, mas a travar a luta do bem contra o mal, sem lugar para o pluralismo. O bem se identifica com os ideais e interesses da própria igreja e de seus dirigentes. Volta-se à velha idéia da batalha espiritual que transforma em inimigo tudo com o que essa espiritualidade não concorda. Divide o mundo em dois campos: o lado de Deus (o lado da igreja) e o lado do mal, do demônio: todas as forças que divergem de sua maneira de ver a realidade.
A espiritualidade da prosperidade é uma resposta ao momento atual. Corresponde muito bem ao clima dominante da cultura pós-moderna a serviço do neoliberalismo. Daí sua sedução. Oferece o caminho rápido do sucesso sem passar pelo trabalho, pela renúncia, pelo esforço. O êxito econômico se faz até mesmo por vias suspeitas. Ele é sinal da bênção de Deus. A riqueza é vista no seu valor em si mesmo, sem nenhuma responsabilidade social. Muito distante da doutrina social da Igreja que defende a hipoteca social sobre toda posse. Os bens materiais são vistos como privilégio e bênção para alguns escolhidos de Deus e não destinados a todos. Produz-se uma identificação rápida entre a bênção de Deus e os bens materiais dos ricos.
Atém-se a uma interpretação literal e unilateral do Antigo Testamento. Esquece-se de que Jesus veio dar-lhe o verdadeiro sentido. Não se tem a mínima sensibilidade pela dimensão social nem pelo amor predileto de Deus pelo pobre. Os verdadeiros bens para o cristão encontram-se retratados por Jesus no sermão da montanha e na sua vida.
Jesus proclama bem-aventurados os pobres e não aqueles que nadam em riqueza e a ambicionam para si. Jesus invectiva aquele rico que só pensava em armazenar ainda mais seus bens. "Insensato! Esta noite mesmo a tua vida ser-te-á reclamada e o que tu preparaste, quem é o que o terá?" E conclui com um dito lapidar: "Eis o que acontece a quem reúne um tesouro para si mesmo, em vez de enriquecer junto a Deus" (Lc 12, 16-21)
Como se vê, é exatamente o oposto da espiritualidade da prosperidade que só pensa em entesourar para si e quanto mais, melhor. Esquece da condição mortal.
Mais ainda. Jesus refere-se diretamente à fragilidade dos bens terrestres que as traças e os vermes corroem; que os ladrões roubam. Conclui: "acumulai para vós tesouros no céu, onde nem as traças nem os vermes causam estragos, onde os ladrões não arrombam nem roubam". E termina com um dito de sabedoria: "onde está o teu tesouro, aí também estará o teu coração" (Mt 6, 19-21).
O ensinamento de Jesus sobre o seguimento situa-se em posição diametralmente oposta à espiritualidade da prosperidade. Na base está o desprendimento e não a acumulação. "Qualquer um de nós que não renuncia a tudo o que lhe pertence não pode ser meu discípulo" (Lc 14, 33).
Precisa ser de uma absoluta cegueira a respeito do evangelho de Jesus para propor uma espiritualidade da prosperidade como expressão do projeto de Deus. Este se manifestou em sua plenitude na pregação e pessoa de Jesus. As passagens do Antigo Testamento, que parecem identificar a bênção de Deus com a abundância dos bens, revelam um aspecto de seu projeto criador. Os bens criados estão destinados a todos os seres humanos e não a serem privilégio de alguns que se engolfam neles enquanto outros carecem de tudo. O Novo Testamento avança. Relativiza os bens materiais na perspectiva do irmão, do serviço aos outros, da própria missão.
A espiritualidade da prosperidade inverte o sentido cristão. É materialista, pagã. Nada cristã. Não se opondo ao canto de sereia do neoliberalismo, capitula. É a espiritualidade que justifica a injustiça social, tranqüilizando a consciência com tintura religiosa. Camufla a verdade da injustiça social, transferindo para Deus - bênção e maldição - a diferença social entre os humanos, fruto do sistema econômico, ao menos, na forma atual.
[www.jblibanio.com.br (site organizado pelo grupo de amigos e admiradores de JB Libanio. Confira desse autor o livro: Qual o futuro do Cristianismo? São Paulo, Paulus, 2006; 2ª. Ed. 2008)].
* Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
"Algumas teses equivocadas sobre a América Latina (e o mundo)"
Postado por Attman e Kamadon
emir sader, blogueiro
1. A crise atual levou ao fim do neoliberalismo, da hegemonia norteamericana e levará ao fim do capitalismo.
- O maior equivoco desta visão é considerar que um modelo ou uma hegemonia ou um sistema social se termina sem que seja derrubado e/ou substituído por outro. Conforme o Sul do mundo ou outro bloco alternativo proponha alternativas e seja capaz de as construir. O neoliberalismo não terminou, se tempera com graus de apoio estatal.
2. Pode-se e deve-se “mudar o mundo sem tomar o poder”.
- O projeto de transformações profundas da sociedade “pela base” sem que desemboque na alteração das relações de poder não levou a nenhum processo real de transformação das sociedades latinoamericanas. Ao contrário, os movimentos sociais – como os bolivianos – que transformaram sua força social em força política, são os que protagonizam processos reais de mudança do mundo.
3. O Estado nacional se tornou um elemento conservador.
- Os governos progressistas da América Latina estão valendo-se do Estado, seja para regular a economia, para induzir o crescimento econômico, para desenvolver políticas sociais – entre outras funções -, enquanto os governo neoliberais são os que desdenham o Estado, transformam em mínimas suas funções e deixam espaço aberto para o mercado. Os processos de integração regional e de alianças no Sul do mundo também tem os Estados como protagonistas indispensáveis.
4. A política se tornou intranscendente.
Falsa afirmação. Os governos progressistas da América Latina resgataram o papel da política e do Estado. Se não tivessem feito isso, não poderiam reagir da forma como reagiram diante da crise.
5. Há milhões de “inimpregáveis” nas nossas sociedades.
- Esta afirmação, originalmente de Fernando Henrique Cardoso, tentava, buscava justificativas para os governos oligárquicos, que sempre governaram só para uma parte da sociedade,excluindo aos mais pobres, agora sob pretexto de um suposto “desemprego tecnológico”, que prescindiria de grande parte dos trabalhadores. Os governos progressistas associam retomada do desenvolvimento econômico com elevação constante do emprego formal e aumento do poder aquisitivo dos salários.
6. Os movimentos sociais devem se manter autônomos em relação à política.
- Os movimentos sociais que obedeceram a essa visão abandonaram a disputa pela construção de hegemonias alternativas, isolando-se, quando não desaparecendo da cena política, quando se passou da fase de resistência à de construção de alternativas. Enquanto que movimentos como os indígenas, na Bolivia, formaram um partido – o MAS -, disputaram e elegeram seu maior líder presidente da república. Em outros países, os movimentos sociais participam de blocos de forças dos governos progressistas, mantendo sua autonomia, mas participando diretamente da disputa pela construção de nova hegemonia política.
7. Só se sai do neoliberalismo para o socialismo.
- Houve quem afirmasse que o capitalismo tendo chegado a seu limite – seja pela mercantilização geral das sociedades, seja pela hegemonia do capital financeiro – com o modelo neoliberal, só se sairia para o socialismo. Sem levar em conta as regressões nos fatores de construção do socialismo nas ultimas décadas, não apenas o desprestigio do socialismo, do Estado, da política, das soluções coletivas, do mundo do trabalho, entre outros. As transformações introduzidas pelo neoliberalismo – entre elas, a fragmentação social, o “modo de vida norteamericano” como forma dominante de sociabilidade – representam obstáculos a ser vencidos em longa e profunda luta política e ideológica, para recolocar o socialismo na ordem do dia.
8. A alternativa aos governos do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, está à esquerda e não à direita.
- O fracasso das tentativas de construção de alternativas radicais, à esquerda desses governos, confirma que a polarização política se dá entre os governos progressistas e as forças de direita. Esta situação tem levado a que, freqüentemente, setores ideologicamente situados à esquerda desses governos, tenham – objetivamente ou mesmo conscientemente – se aliado ao bloco de direita, terminando por definir, na prática, nem sequer uma eqüidistância dos dois blocos constituídos, mas até mesmo considerando ao bloco progressista como seu inimigo fundamental.
9. Os processos de integração atuais são de natureza “capitalista”.
- Esta visão desqualifica todos os processos de integração regional, porque não se dariam mediante uma ruptura com o mercado capitalista internacional, porque representariam integrações no marco de sociedades capitalistas. Se incluiriam não apenas Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, mas também Venezuela, Bolívia, Equador. Se deixa de compreender a importância da criação de espaços de intercambio alternativos aos Tratados de Livre Comércio. Não se entende a importância da luta por um mundo multipolar, debilitando a unipolaridade imperial norteamericana. Não se entende como a Alba promove formas de intercambio alternativas ao mercado, às regras da OMC, na direção do que o FSM chama de “comércio justo”, solidário, de complementaridade e não de competição.
10. Existe uma esquerda boa e uma esquerda ruim.
- Quem prega esta posição quer dividir a esquerda, tentando cooptar seus setores mais moderados e isolar os mais radicais. A esquerda é antineoliberal e não a favor dos TLCs, privilegia as políticas sociais e não os ajustes fiscais, com os matizes que tenha cada um dos governos progressistas.
11. O período atual é de retrocessos na América Latina.
- Alguns setores, com critérios desvinculados da realidade concreta, difundem visões pessimistas e desalentadoras sobre a América Latina. Às vezes usam o critério da posição dos movimentos sociais de cada país em relação à constituição dos governos, para definir se há avanços ou não, ao invés de definir a natureza desses movimentos em função da posição que tem em relação a esses governos. Subordinam o social ao político, sem se darem conta dos extraordinários avanços do continente, ainda mais se comparados com a década anterior e com o marco internacional, profundamente marcado pelo predomínio conservador. É um pessimismo produto do isolamento social, de quem está à margem das formas concretas pelas quais avança a história no continente.
12. Em eleições como a uruguaia, a brasileira e a argentina, para a esquerda, tanto faz quem ganhe.
- Há quem diga isso, como se a vitória de Lacalle ou de Mujica representassem a mesma coisa para o Uruguai e para a América Latina, como se o retorno dos tucanos ou a vitória de Dilma tivesse o mesmo sentido, como se a substituição dos Kirchner por Duhalde, Reuteman, Cobos ou algum outro prócer da direita argentina, significasse o mesmo para o país. Consideram que se tratariam de “contradições interburguesas”, sem maior incidência, desconhecendo o alinhamento das principais forças políticas e sociais de cada um dos dois lados, mas sobretudo as posições – de aprofundamento e extensão dos processos de integração regional ou de TLCs, de prioridade das políticas sociais ou de ajuste fiscal, do papel do Estado, da atitude em relação às lutas sociais, ao monopólio da mídia privada, ao capital financeiro, entre outro temas, que diferenciam claramente os dois campos.
13. O nacionalismo latinoamericano contemporâneo é de caráter “burguês”.
- Desde que ressurgiam ideologias nacionalistas na América Latina, com Hugo Chavez, houve gente que se apressou a comparar com Perón, a desqualificar como “nacionalismo burguês” ou simplesmente de nacionalismo, que nada teria a ver com luta anticapitalista, etc. Usaram, aqui também, clichês, sem fazer analises concretas das situações concretas. O nacionalismo de governos como os da Venezuela, da Bolívia, do Equador, que recuperam para o país os recursos naturais fundamentais de que dispõem, são parte integrante da plataforma antineoliberal e anticapitalista desses países. Cada fenômeno adquire natureza distinta, conforme o contexto que está inserido, cada reivindicação, conforme o governo, assume caráter diferente. No caso do nacionalismo atual na América Latina, ele promove, além disso, processos de integração regional, tendo assim um caráter não apenas nacional, mas latinoamericanista.
Postado por Emir Sader
emir sader, blogueiro
1. A crise atual levou ao fim do neoliberalismo, da hegemonia norteamericana e levará ao fim do capitalismo.
- O maior equivoco desta visão é considerar que um modelo ou uma hegemonia ou um sistema social se termina sem que seja derrubado e/ou substituído por outro. Conforme o Sul do mundo ou outro bloco alternativo proponha alternativas e seja capaz de as construir. O neoliberalismo não terminou, se tempera com graus de apoio estatal.
2. Pode-se e deve-se “mudar o mundo sem tomar o poder”.
- O projeto de transformações profundas da sociedade “pela base” sem que desemboque na alteração das relações de poder não levou a nenhum processo real de transformação das sociedades latinoamericanas. Ao contrário, os movimentos sociais – como os bolivianos – que transformaram sua força social em força política, são os que protagonizam processos reais de mudança do mundo.
3. O Estado nacional se tornou um elemento conservador.
- Os governos progressistas da América Latina estão valendo-se do Estado, seja para regular a economia, para induzir o crescimento econômico, para desenvolver políticas sociais – entre outras funções -, enquanto os governo neoliberais são os que desdenham o Estado, transformam em mínimas suas funções e deixam espaço aberto para o mercado. Os processos de integração regional e de alianças no Sul do mundo também tem os Estados como protagonistas indispensáveis.
4. A política se tornou intranscendente.
Falsa afirmação. Os governos progressistas da América Latina resgataram o papel da política e do Estado. Se não tivessem feito isso, não poderiam reagir da forma como reagiram diante da crise.
5. Há milhões de “inimpregáveis” nas nossas sociedades.
- Esta afirmação, originalmente de Fernando Henrique Cardoso, tentava, buscava justificativas para os governos oligárquicos, que sempre governaram só para uma parte da sociedade,excluindo aos mais pobres, agora sob pretexto de um suposto “desemprego tecnológico”, que prescindiria de grande parte dos trabalhadores. Os governos progressistas associam retomada do desenvolvimento econômico com elevação constante do emprego formal e aumento do poder aquisitivo dos salários.
6. Os movimentos sociais devem se manter autônomos em relação à política.
- Os movimentos sociais que obedeceram a essa visão abandonaram a disputa pela construção de hegemonias alternativas, isolando-se, quando não desaparecendo da cena política, quando se passou da fase de resistência à de construção de alternativas. Enquanto que movimentos como os indígenas, na Bolivia, formaram um partido – o MAS -, disputaram e elegeram seu maior líder presidente da república. Em outros países, os movimentos sociais participam de blocos de forças dos governos progressistas, mantendo sua autonomia, mas participando diretamente da disputa pela construção de nova hegemonia política.
7. Só se sai do neoliberalismo para o socialismo.
- Houve quem afirmasse que o capitalismo tendo chegado a seu limite – seja pela mercantilização geral das sociedades, seja pela hegemonia do capital financeiro – com o modelo neoliberal, só se sairia para o socialismo. Sem levar em conta as regressões nos fatores de construção do socialismo nas ultimas décadas, não apenas o desprestigio do socialismo, do Estado, da política, das soluções coletivas, do mundo do trabalho, entre outros. As transformações introduzidas pelo neoliberalismo – entre elas, a fragmentação social, o “modo de vida norteamericano” como forma dominante de sociabilidade – representam obstáculos a ser vencidos em longa e profunda luta política e ideológica, para recolocar o socialismo na ordem do dia.
8. A alternativa aos governos do Brasil, da Argentina, do Uruguai, do Paraguai, está à esquerda e não à direita.
- O fracasso das tentativas de construção de alternativas radicais, à esquerda desses governos, confirma que a polarização política se dá entre os governos progressistas e as forças de direita. Esta situação tem levado a que, freqüentemente, setores ideologicamente situados à esquerda desses governos, tenham – objetivamente ou mesmo conscientemente – se aliado ao bloco de direita, terminando por definir, na prática, nem sequer uma eqüidistância dos dois blocos constituídos, mas até mesmo considerando ao bloco progressista como seu inimigo fundamental.
9. Os processos de integração atuais são de natureza “capitalista”.
- Esta visão desqualifica todos os processos de integração regional, porque não se dariam mediante uma ruptura com o mercado capitalista internacional, porque representariam integrações no marco de sociedades capitalistas. Se incluiriam não apenas Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, mas também Venezuela, Bolívia, Equador. Se deixa de compreender a importância da criação de espaços de intercambio alternativos aos Tratados de Livre Comércio. Não se entende a importância da luta por um mundo multipolar, debilitando a unipolaridade imperial norteamericana. Não se entende como a Alba promove formas de intercambio alternativas ao mercado, às regras da OMC, na direção do que o FSM chama de “comércio justo”, solidário, de complementaridade e não de competição.
10. Existe uma esquerda boa e uma esquerda ruim.
- Quem prega esta posição quer dividir a esquerda, tentando cooptar seus setores mais moderados e isolar os mais radicais. A esquerda é antineoliberal e não a favor dos TLCs, privilegia as políticas sociais e não os ajustes fiscais, com os matizes que tenha cada um dos governos progressistas.
11. O período atual é de retrocessos na América Latina.
- Alguns setores, com critérios desvinculados da realidade concreta, difundem visões pessimistas e desalentadoras sobre a América Latina. Às vezes usam o critério da posição dos movimentos sociais de cada país em relação à constituição dos governos, para definir se há avanços ou não, ao invés de definir a natureza desses movimentos em função da posição que tem em relação a esses governos. Subordinam o social ao político, sem se darem conta dos extraordinários avanços do continente, ainda mais se comparados com a década anterior e com o marco internacional, profundamente marcado pelo predomínio conservador. É um pessimismo produto do isolamento social, de quem está à margem das formas concretas pelas quais avança a história no continente.
12. Em eleições como a uruguaia, a brasileira e a argentina, para a esquerda, tanto faz quem ganhe.
- Há quem diga isso, como se a vitória de Lacalle ou de Mujica representassem a mesma coisa para o Uruguai e para a América Latina, como se o retorno dos tucanos ou a vitória de Dilma tivesse o mesmo sentido, como se a substituição dos Kirchner por Duhalde, Reuteman, Cobos ou algum outro prócer da direita argentina, significasse o mesmo para o país. Consideram que se tratariam de “contradições interburguesas”, sem maior incidência, desconhecendo o alinhamento das principais forças políticas e sociais de cada um dos dois lados, mas sobretudo as posições – de aprofundamento e extensão dos processos de integração regional ou de TLCs, de prioridade das políticas sociais ou de ajuste fiscal, do papel do Estado, da atitude em relação às lutas sociais, ao monopólio da mídia privada, ao capital financeiro, entre outro temas, que diferenciam claramente os dois campos.
13. O nacionalismo latinoamericano contemporâneo é de caráter “burguês”.
- Desde que ressurgiam ideologias nacionalistas na América Latina, com Hugo Chavez, houve gente que se apressou a comparar com Perón, a desqualificar como “nacionalismo burguês” ou simplesmente de nacionalismo, que nada teria a ver com luta anticapitalista, etc. Usaram, aqui também, clichês, sem fazer analises concretas das situações concretas. O nacionalismo de governos como os da Venezuela, da Bolívia, do Equador, que recuperam para o país os recursos naturais fundamentais de que dispõem, são parte integrante da plataforma antineoliberal e anticapitalista desses países. Cada fenômeno adquire natureza distinta, conforme o contexto que está inserido, cada reivindicação, conforme o governo, assume caráter diferente. No caso do nacionalismo atual na América Latina, ele promove, além disso, processos de integração regional, tendo assim um caráter não apenas nacional, mas latinoamericanista.
Postado por Emir Sader
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